segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Outubro

10. Food Matters (2008), de James Colquhoun e Carlos Ledesma (**1/2)
9. Vênus Negra (2010), de Abdellatif Kechiche (**1/2)
8. L’Ange et la Femme (2008), de Olivier L. Brunet (**1/2)
7. Pornografizme (2010), de Leo Pyrata (***)
6. Os Inocentes (1961), de Jack Clayton (***)
5. A Casa da Noite Eterna (1973), de John Hough (***)
4. A Ponte (2006), de Eric Steel (***)
3. Psicose (1960), de Alfred Hitchcock (***1/2)
2. Rubber (2010), de Quentin Dupiex (****)
1. Tabu (2012), de Miguel Gomes (****)

* Também publicado em http://cinematotal.com/la.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Matemática afetiva



Muito já foi dito a respeito de Tabu (2012), mas para mim seu maior mérito é a sofisticação que chega como simplicidade, às vezes até despretensiosa.

Em um corte, pulamos 40 anos; em outro, milhares de quilômetros. Em ambos, a fluência se mistura com esmero e afetuosidade, por personagens, pela história deles, e pela música.

Como em Aquele Querido Mês de Agosto (2008), ela volta a ser personagem, embora dessa vez uma música especifica se sobressaia. Toca uma primeira vez, ligada a uma personagem e em momento já emotivo, mas como espécie de preparação para um segundo momento, quando um corte e um som trazem emoção raramente vista nos últimos anos.

Após uma introdução extraordinária, pode-se dizer que a primeira parte demora a engrenar, mas a contemplação bem humorada inicial deixa um espaço, uma brisa leve que depois é preenchida por uma gigantesca carga afetiva que marca a última hora do filme, uma história de amor.

Um extremo de silêncio, com apenas o balbuciar sem palavras, junto a uma narração diário, conciliando meticulosidade, para não nos repetir o que estamos vendo, e carinho.

Existe aí o enigma do crocodilo, o saudosismo e a ligação com Murnau e o cinema mudo, mas tudo isso é bônus de um filme que é tão genial e cuidadoso na forma quanto é simples em resultado e efeito.

Texto também publicado em http://cinematotal.com/la.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Setembro

Salvo por Guerin e Mizoguchi.

10. Tchau e Benção (2013), de Daniel bandeira (**1/2)
9. Bolívia (2001), de Adrián Caetano (**1/2)
8. A Cura (1997), de Kiyoshi Kurosawa (**1/2)
7. Quando os anjos caem (1959), de Roman Polanski (***)
6. Eye for na Eye (1998), de Artur Żmijewski (***)
5. A Ressurreição de Adam (2008), de Paul Schrader (***)
4. Cashback (2004), de Sean Ellis (***)
3. Frances Ha (2013), de Noah Baumbach (***)
2. Em Construção (2001), de José Luis Guerin (***1/2)
1. Rua da Vergonha (1956), de Kenji Mizoguchi (***1/2)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Seleção sem time





Boa Sorte, Meu Amor (2012, Brasil), de Daniel Aragão, é uma seleção de craques que não consegue formar um time à altura.

Temos uma protagonista com beleza, carisma e talento muito acima da média, a fotografia estilizada é de um esmero notável na iluminação e nos enquadramentos, diálogos misturam sapiência e leveza, e o filme tem algo a dizer e a mostrar.

Apresentação é com imagens estáticas do sertão que culminam em imagem de homem enterrado, com apenas parte de rosto à vista. A cena seguinte tem um gigantesco plano cheio de sombra que, após um longuíssimo zoom-in, é finalizada com frase a respeito da família e da opressão.

Pouco depois, o primeiro plano de Maria (Cristina Ubach) que, assim como todas as vezes que ela aparece, domina a tela. Aliás, quase todo plano feminino transmite um prazer de quem está atrás de câmera. No entanto, assim que ela sai do filme, acaba o interesse.

As imagens mantêm a média de estilo e de duração, mas não a força. E como o desde o início planos imensos são mesclados com outros bem mais curtos que parecem fazer parte de um filme bem mais dinâmico, a sessão perde ritmo e fôlego.

Finalizado o filme, todo o estilo, que vai desde os enquadramentos e o preto e branco à trilha sonora, ajuda menos que destoa do tom naturalista e crítico que existe ali. Cheios de personalidade, estilo e "mensagem" estão em conflito.

Mesmo perceptível o diálogo com conterrâneos, Boa Sorte, Meu Amor parece um filho bastardo de Buñuel com Tarantino. Ainda que o DNA pernambucano e talentoso esteja lá, bem claro.

* Texto também publicado em cinematotal.com/la.

sábado, 14 de setembro de 2013

Além da boa referência

Pode ser que eu mude de ideia até o final da temporada, pode ser que a digressão com o tempo perca o sentido, mas hoje ligo Bates Motel (2013-...) a Mad Men (2007-...).

Embora a primeira tenha sido adaptada aos dias atuais, as duas têm como base inicial o final da Era de Ouro de Hollwood, quando grandes artesãos faziam cinema. O tripé, a sobriedade de enquadramentos, a narrativa clássica, a busca pelo simples sem pretensões gritantes, está tudo lá.

Mas se em Mad Men temos uma série de personagens mais que de ações, Bates Motel quer honrar Hitchcock, talvez o maior em juntar mise-en-scène e fluência.

O problema é que, apesar de ter como referência um tempo em que a forma geralmente coexistia harmoniosamente com o roteiro, Bates Motel não tem a mesma leveza.

Mesmo que a série esteja longe de tentar ser um manifesto existencialista, nem tudo fala a mesma língua.

Freddie Highmore, o Norman Bates, está geralmente contido e irritante, é daquele personagem cuja insegurança pode passar impressão de ser do ator, mas hoje me convence. Já os pitis de Vera Farmiga (Norma) às vezes são constrangedores, e destoa da atuação do resto.

Outro ponto é que, no quinto episódio, temos alguns dos mais estranhos enquadramentos que vi recentemente, o que em teoria não é problema, mas se torna um quando seu resultado visa um fluxo narrativo, a atenção presa na história. O plano muito diferenciado soa como malabarismo e abre um parêntese.

Divagação à parte, que seja louvada a boa intenção de ter como referência época e diretor que hoje parecem esquecidos ou pouco vistos por grande parte dos que fazem cinema. Ela tem bons momentos, mas ainda espero ter impressão melhor quando acabar a temporada.

* Também publicada no http://cinematotal.com/la.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Agosto*

Mês razoável, primeiro contato com Bates Motel tem sido interessante. Prometo texto para os próximos dias.

10. A Cartomante (2013), de Adriano Big (**1/2)
9. Encaixotando Helena (1993), de Jennifer Chambers Lynch (**1/2)
8. Reminiscências de uma Viagem à Lituânia (1972), de Jonas Mekas (**1/2)
7. Holocausto Canibal (1980), de Ruggero Deodato (***)
6. Exótica (1994), de Atom Egoyan (***)
5. Dwaj ludzie z szafa (1958), de Roman Polanski (***)
4. Notes on the Circus (1966), de Jonas Mekas (***)
3. O Emprego (2008), de Santiago Bou Grasso (***1/2)
2. Vítima de uma Alucinação (2006), de Kiyoshi Kurosawa (***1/2)
1. Blackout (1997), de Abel Ferrara (****) 
* Também publicado em http://cinematotal.com/la.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Julho*

Um dos piores meses pessoais dos últimos tempos, mas agosto vem aí com The Bling Ring (Sofia Coppola), Tabu (Miguel Gomes), No Lugar Errado (Alumbramento), Camille Claudel, 1915 (Bruno Dumont) e Passion (de Palma).

10. Café (2013), de Victor Jimmy (**1/2)
9. O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogerio Sganzerla (**1/2)
8. My Summer of Love (2004), de Pawel Pawlikowski (**1/2)
7. Palermo Shooting (2008), de Wim Wenders (**1/2)
6. Mundo (2004), de Jia Zhangke (***)
5. The Teeth Smile (1957), de Roman Polanski (***)
4. Deuses Malditos (1969), de Luchino Visconti (***)
3. Ferrugem e Osso (2012), de Jacques Audiard (***)
2. Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2009), de Niels Arden Oplev (***)
1. Coisas Secretas (2002), de Jean-Claude Brisseau (****)

* Também publicado em http://cinematotal.com/la.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Antes da Meia-Noite*



A idade passou

Antes da Meia-Noite (2013 – EUA), de Richard Linklater, se inicia com uma câmera despretensiosa, um movimento fluido e dois personagens conversando, um resumo do filme inteiro, e até certo ponto dos outros dois da trilogia. Na sequência, em plano simples e brilhante que antecede a entrada do título em tela, o filho da abertura e no aeroporto, com o caminhar de Jesse (Ethan Hawke), é substituído pela Celine (Julie Delpy) que ele conheceu num trem há quase 20 anos, num envelhecer que o filme assume sem vergonha.

Porque se em Antes do Pôr-do-Sol (2004) víamos imagens de Antes do Amanhecer (1995), em um golpe baixo que funcionava bem pelo lado afetivo, agora o público não tem acesso a esse passado. Dos três, o filme é o mais direto e cruel.

Vemos a nudez que não acontecia nos outros dois, mas vemos um sexo não acontecer, e vemos a frustração dupla. Existe uma espécie de final feliz, mas com base em tudo que acompanhamos da vida daquele casal, ele é absurdamente momentâneo, em seguida voltando todo um conflito com o qual eles têm de lidar diariamente.

Se Antes do Amanhecer trazia uma vontade de viajar pelo mundo e conhecer pessoas, e Antes do Pôr-do-Sol era carregado de saudade com dose de esperança, Antes da Meia-Noite não me faz visualizar muita gente querendo casar logo depois de vê-lo.

Agora eles são um casal perto das bodas, com doses homeopáticas e cada vez mais raras de romantismo. Dessa vez, o amor tem menos espaço que o tragicômico. Só que isso me parece mais uma visão mais distanciada dos outros filmes que um defeito.

Com os já esperados planos longos, Jesse e Celine conseguiram ficar mais à vontade do que sempre estiveram, apesar do aumento das brigas. Bagagem e especificidades culturais à parte, a discussão deles parece a de um casal que tenha intimidade, história e incertezas. Com a diferença que a deles é (não só) divertida.

Como os outros dois filmes, Antes da Meia-Noite versa sobre uma das coisas mais mundanas que existe, a relação de um casal, em abordagem despretensiosa, simples e nada ordinária. Como nos outros filmes, um mais do mesmo, só que um mais do mesmo acima da média.

O desfecho bonitinho talvez, e aí saliento o talvez, não esteja do mesmo nível do final de Antes do Pôr-do-Sol, mas é inevitável admitir que a sintonia de tela entre dois personagens, durante uma hora e meia em um filme de personagens, é uma coisa rara no cinema americano de hoje.

* Texto também publicado em http://cinematotal.com/la.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Junho*

A partir de agora, vou publicar só um top-10 no final de cada mês, sem incluir as séries. Falando nelas, volte logo, Mad Men.

10. Um Homem, Uma Mulher (1966), de Claude Lelouch (***)
9. Amor à Queima-Roupa (1993), de Tony Scott (***)
8. Menino do Cinco (2012), de Wallace Nogueira e Marcelo Matos de Oliveira (***1/2)
7. Repulsa ao Sexo (1965), de Roman Polanski (***1/2)
6. Gilda (1946), de Charles Vidor (***1/2)
5. Antes da Meia-Noite (2013), de Richard Linklater (***1/2)
4. A Montanha Sagrada (1971), de Alejandro Jodorowsky (***1/2)
3. Aos Nossos Amores (1983), de Maurice Pialat (***1/2)
2. Carrie, a Estranha (1976), de Brian de Palma (****)
1. O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard (****)

* Também visto em http://www.cinematotal.com/la.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Simplicidade e foco com política*



As impressões acerca de Menino do Cinco (2012), de Wallace Nogueira e Marcelo Matos de Oliveira, saem mais de uma semana depois de ver o filme, mas pouco mudaram do primeiro dia pra cá.

Nos primeiros planos, um menino só em casa e outro na rua, que toma atitude mal pensada que desencadeia todo o conflito. Daí pra frente, um cachorro assume o protagonismo, sem cair em armadilhas fáceis num caso como esse, e os personagens e suas ações viram guias do filme, sobrepujando até o que em outros casos seria prioridade.

Pode-se falar em crítica social, à classe média e à classe média soteropolitana, pode-se falar em filme político, mas ele flui, entre outros motivos, porque seu norte é claro e seguido do início ao fim: ele persegue os personagens.

Pouco ou nada vemos de grandes planos gerais, e se for o caso perdemos o foco da imagem para não perdermos o foco dos que seguimos.

Com simplicidade de poucos cortes e câmera solta, ápice é no plano final, precedido por cena com tensão que deixa claro um domínio de meio sem passar a impressão de virtuosismo excessivo ou de exibicionismo.

Há ressalvas em relação ao descuido inicial que gera o conflito, embora ele possa ser justificado por tentativa de menino ir atrás de seu ganha-pão, como também há ressalva no momento em que o menino de classe média vai para a rua sozinho, onde vê-lo tomando chuva em ponto de ônibus e no meio do nada, caminhando, é uma imagem tão bonita quanto pouco crível.

Ainda assim, a força do filme reside também no contraste. Para nem falar no afastamento entre as classes sociais já abordado em dezenas de outros filmes recentes, geralmente de maneira menos feliz, temos a diferença entre a calmaria dos personagens em seus respectivos mundos e o desfecho, cheio de egoísmo e crueldade, todos em sintonia com o filme.

Numa época em que as boas intenções viraram regra, é ótimo ver um filme em que a boa execução e a simplicidade se juntam a elas de um jeito tão eficaz.

* Também publicado em http://www.cinematotal.com/la.

sábado, 1 de junho de 2013

Maio*

Séries elevando média.

20. Neil Young Journeys (2012), de Jonathan Demme (*1/2)
19. O pipoqueiro e o cinema (2013), de Adler Kipe Paz e Kico Póvoas (**)
18. Mestre, O (2012), de Paul Thomas Anderson (**1/2)
17. Ricos e estranhos (1931), de Alfred Hitchcock (**1/2)
16. Meteorango Kid: Herói Intergalático (1969), de André Luiz Oliveira (**1/2)
15. Cellphone (2010), de Daniel Lisboa (**1/2)
14. O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), de Christopher Nolan (**1/2)
13. Shortbus (2006), de John Cameron Mitchell (**1/2)
12. Santos para sempre na Pele (2013), de Bruno Curti e Lorraine Lopes (***)
11. Treme S02E05 (2011), de Rob Bailey (***)
10. Mad Men S06E05 (2013), de Christpher Manley (***)
9. Treme S02E06 (2011), de Roxann Dawson (***)
8. Mad Men S06E06 (2013), de Jennifer Getzinger (***)
7. Mad Men S06E07 (2013), de John Slattery (***)
6. Treme S02E08 (2011), de Ernest Dickerson (***1/2)
5. Searching for Sugarman (2012), de Malik Bendjelloul (***1/2)
4. Treme S02E07 (2011), de Brad Anderson (***1/2)
3. Elena (2012), de Petra Costa (***1/2)
2. Mad Men S06E08 (2013), de Michael Uppendahl (****)
1. Mad Men S06E09 (2013), de Phil Abraham (****)

* Também vista em http://www.cinematotal.com/la.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Abril

22. Detroit Rock City (1999), de Adam Rifkin (*1/2)
21. Balada das Duas Mocinhas de Botafogo (2006), de Fernando Valle e João Caetano Feyer (*1/2)
20. Pornografia (1992), de Murillo Salles e Sandra Werneck (**)
19. Liverpool (2008), de Lisandro Alonso (**)
18. Brigitte e Briggite (1966), de Luc Moullet (**)
17. Assim era a Atlântida (1975), de Carlos Manga (**1/2)
16. Dentro da casa (2012), de François Ozon (**1/2)
15. La fille seule (1995), de Benoît Jacquot (**1/2)
14. Borboletas Indômitas (2010), de Daniel Chaia (***)
13. Hitchcock (2012), de Sacha Gervasi (***)
12. Treme S02E01 (2011), de Anthony Hemingway (***)
11Treme S02E03 (2011), de Simon Cellan Jones (***)
10. Eu não quero voltar sozinho (2010), de Daniel Ribeiro (***)
9. Bruce Lee: a Lenda (1977), de Leonard Ho (***)
8. Mad MenS06E04 (2013), de Michael Uppendahl (***)
7. Treme S02E04 (2011), de Alex Zakrzweski (***)
6. Treme S02E02 (2011), de Tim Robbins (***1/2)
5. Mad Men S06E03 (2013), de John Hamm (***1/2)
4. Eletrodoméstica (2005), de Kleber Mendonça Filho (***1/2)
3. O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho (****)
2. Mad Men S06E0102 (2013), de Scott Hornbacher (****)
1. 2 Birds (2008), de Rúnar Rúnarsson (****)

terça-feira, 9 de abril de 2013

O tom e a pretensão*



(Com spoilers.)

Um dos diretores franceses mais ativos de sua geração, aos 45 anos François Ozon já tem 13 longas, o último deles
Dentro da Casa (Dans la maison – França, 2012), onde ele se volta ao suspense e, em menor escala, à sexualidade.

Um filme bacana, que funciona razoavelmente bem, até que lembramos de trabalhos anteriores dele, e até o tom brigar com a pretensão.

Na comédia-musical-satírica à la Agatha Christie que é 8 Mulheres (2002), Ozon teve um elenco espetacular que deu qualidade e carisma a um resultado despretensioso e divertido, mas que já tinha um lado sacana símbolo principalmente de outros dois filmes do início da carreira dele.

Gotas D’Água sobre Pedras Escaldantes (2000) e Swimming Pool – À Beira da Piscina (2003), apesar de abençoados pela tão sexy quanto talentosa Ludivine Sagnier, tinham uma câmera que trazia sensualidade sem prejudicar a leveza narrativa. Já em Dentro da Casa, embora permaneçam importantes para o todo, Ozon diminuiu a libido e a fluência.

Agora, a história gira em torno de professor de literatura (Germain, Fabrice Lucchini) que conhece aluno talentoso (Claude, Ernst Umhauer), cujos textos dizem respeito às visitas dele à casa de um colega de sala (Rapha, Bastien Ughetto). Histórias que vão crescendo, por atração, tensão e insinuações bem criadas e mantidas entre os que estão ali, naquela casa.

Nesse percurso, o que inclui o roteiro de Ozon adaptado de uma peça do espanhol Juan Mayorga, ele consegue nos enganar com o batido e não exatamente fácil “isso aconteceu mesmo?”, inclusive deixando o filme menos sisudo ao fazer o jovem talentoso olhar para a câmera e ao trazer o professor para cena em que só seu pupilo o enxerga.

Mas se essas quebras levam um tom jocoso ao filme, terminam por jogar contra ele no final, quando som e imagem carregam uma presunção ausente até ali, no que pode ser visto como uma homenagem, mas que também pode ser visto como uma pretensão descabida.

É complicado ir da leveza à grandiloquência, é complicado ir de Woody Allen a Hitchcock (logo a Janela Indiscreta?!), e é o que Ozon parece querer fazer do banco para o desfecho.

Lógico que permanece uma trama que, apesar às vezes apressada, é bem conduzida, mas uma pena que a pretensão e os parênteses joguem contra um filme que preza tanto pelo prazer de escrever, ler e contar histórias.

* Texto também publicado aqui.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Março

19. A Concepção (2006), de José Eduarado Belmonte (**)
18. Quarto 666 (1982), de Wim Wenders (**1/2)
17. Inverno Quente (1997), de Tom Tykwer (**1/2)
16. L’eau Froide (1994), de Olivier Assayas (**1/2)
15. Jogos Vorazes (2012), de Gary Ross (**1/2)
14. Django (1966), de Sergio Corbucci (**1/2)
13. The ABCs of Death (2012), de 26 diretores (**1/2)
12. Ser tão cinzento (2011), de Henrique Dantas (**1/2)
11. Mulheres Diabólicas (1995), de Claude Chabrol (***)
10. Berlin Alexsanderplatz: Parte 11 (1980), de Rainer Werner Fassbinder (***)
9. Side by Side (2012), de Christopher Keneally (***)
8. Eles Vivem (1988), de John Carpenter (***)
7. Os Limites do Controle (2009), de Jim Jarmusch (***)
6. A Piscina (1969), de Jacques Deray (***1/2)
5. Adeus, Primeiro Amor (2011), de Mia Hansen-Løve (***1/2)
4. Os Indigentes do Bom Deus (2000), de Jean-Claude Brisseau (***1/2)
3. Contagem (2010), de Gabriel Martins e Maurilio Martins (***1/2)
2. Killer Joe (2011), de William Friedkin (***1/2)
1. O Balão Vermelho (1956), de Albert Lamorisse (****)

segunda-feira, 11 de março de 2013

Um filme de hoje*

Side by Side (2012), de Christopher Keneally, fala sobre o embate entre o digital e a película, com foco em alguns dos mais importantes diretores e diretores de fotografia do cinema norte-americano. Mas ele me parece também dois filmes em um só, ambos apegados à sua época.

Primeiro o documentário, com opiniões de quem muito entende, mas com linguagem que funciona para quem não está lá. O que é 2K, 4K, 5K; como era, como tem sido e de como pode vir a ser. Diferenças entre câmeras, entre o digital e a película; filmes e nomes que escolhem um lado e o outro.

Na maioria das vezes, o documentário soa como um juiz tão fascinado pela justiça e pela fidelidade aos fatos e às opiniões divergentes que ele se abstém do que aqui, de fato, pode ser irrelevante. Se é que ele é possível, pouca importa um veredito definitivo. O que fica são as informações e as ideias de cada um, que vão do didatismo à divagação filosófica. E todas visões de hoje, que poderiam ser ditas num bar.

Já o outro ponto diz respeito ao filme que fala sobre filmes, com orgulhosa base fincada no início do século XXI.

Com barateamento de tecnologia, várias câmeras evitam problema de continuidade e seduzem a vários cortes. Mas como todo mundo já corta muito, a gente pode acrescentar uma trilha sonora onipresente. Para ilustrar melhor, vamos inserir imagens de filme e de arquivo. E do que mais estiver a mão.

Assim, Side By Side é também um exemplo de filme que, dentro de uma postura relativamente sóbria de documentário tradicional, vive constantemente no risco de confundir o “tudo é possível” com o “tudo é necessário”. De ser parte do cinema onde a respiração é ignorada, onde tesão e confiança por som e imagem são cada vez mais raros, onde predomina a ejaculação precoce.

Lógico que uma coisa não anula a outra, e talvez até ajude no sentido de transformar o filme num registro de sua época. Um diferencial é que, graças principalmente a quem ele escuta, esse tem algo a dizer.

* Texto também disponível em Cinematotal/la.

sábado, 2 de março de 2013

Fevereiro

Textos virão em março.

17. Confissões de uma garota de programa (2009), de Steven Soderbergh (*1/2)
16. Ensaio de Cinema (2011), de Allan Ribeiro (curta) (**)
15. Amor (2011), de Michael Haneke (**)
14. Hora de Voltar (2004), de Zazch Braff (**1/2)
13. Maldito Futebol Clube (2009), de Tom Hooper (**1/2)
12. O Pai de Meus Filhos (2009), de Mia Hansen-Løve. (**1/2)
11. Ciúme: O Inferno do Amor Possessivo (1994), de Claude Chabrol (***)
10. Suspiria (1977), de Dario Argento (***)
9. Sapatinhos Vermelhos (1948), de Michael Powell e Emeric Pressburger (***)
8. Cavaleiro Solitário, O (1985), de Clint Eastwood (***)
7. Lucia e o Sexo (2001), de Julio Medem (***)
6. Berlin Alexsanderplatz: Parte 10 (1980), de Rainer Werner Fassbinder (***)
5. O Abrigo (2011), de Jeff Nichols (***)
4. Holy Motors (2011), de Leos Carax (***1/2)
3. Mens Sana in Corpore Sano (2011), de Juliano Dornelles (curta) (***1/2)
2. Django Livre (2011), de Quentin Tarantino (***1/2)
1. A Longa Caminhada (1971), de Nicolas Roeg (***1/2)


* Texto também pode ser lido em cinematotal.com.br/la.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Janeiro

A ausência de textos continua um mérito principalmente de Lara, mas janeiro foi bacana.

20. The Dirk Diggler Story (1988), de Paul Thomas Anderson (curta) (**)
19. A Última Noite (2006), de Robert Altman (**1/2)
18. Rafa (2012), de João Salaviza (curta) (**1/2)
17. Cerro Negro (2009), de João Salaviza (curta) (**1/2)
16. Epílogo (1992), de Tom Tykwer (curta) (**1/2)
15. Berlin Alexanderplatz – Parte 9 (1980), de Rainer Werner Fassbinder (DVDRip) (**1/2)
14. A Troca (2008), de Clint Eastwood (***)
13. Arena (2008), de João Salaviza (curta) (***)
12. Catnip: Egress to Oblivion (2012), de Jason Willis (curta) (***)
11. Polissia (2011), de Maïwenn (***)
10. Dr. Fantástico (1964), de Stanley Kubrick (***)
9. Os Homens Preferem as Loiras (1953), de Howard Hawks (***) 
8. Vivendo no Abandono (1995), de Tom diCillo (***1/2)
7. Lolita (1962), de Stanley Kubrick (***1/2)
6. Ilha do Medo (2011), de Martin Scorsese (***1/2) 
5. Swimming Pool – À beira da Piscina (2002), de François Ozon (***1/2)
4. O Intendente Sansho (1954), de Kenji Mizoguchi (***1/2)
3. Smáfuglar – 2 Birds (2008), de Rúnar Rúnarsson (curta) (****)
2. Drive (2011), de Nicolas Winding Refn (****)
1. Na Cidade de Sylvia (2007), de José Luis Guerin (****1/2)

* Texto também pode ser lido em cinematotal.com.br/la.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Melhores - 2012*

Taí minha lista dos melhores de 2012, que inclui unanimidades, mas também filmes que foram execrados por meio mundo.

Com saída de Salvador e atenções voltadas para Lara, final de ano foi com raras idas ao cinema e algumas lacunas de queridinhos recentes de gente bacana, como O Som ao Redor, Frankenweenie e Argo. É triste não incluir Faça-me Feliz, de Emmanuel Mouret, que estreou na Bahia este ano, mas de 2009 e com estreia comercial no Brasil na última semana de 2011, o único motivo para não estar na lista.

Sem estes, são 20 filmes entre o tradicional circuito de Salvador, incluindo aí o Festival In-Edit, o Cine Santa Clara em Ilhéus, e a sempre útil internet, às vezes nossa última opção.

Diferente de 2011, hispânicos não dominam a lista.

20. Sombras da Noite (2012), de Tim Burton (***) 
19. Deus Abençoe Ozzy Osbourne (2011), de Mike Fleiss e Mike Piscitelli (***) 
18. Um Verão Escaldante (2011), de Phillipe Garrel (***)
17. Para Roma, com Amor (2012), de Woody Allen (***)
16. 4:44 – O Fim do Mundo (2011), de Abel Ferrara (***)
15. L’Appolonide – Os Amores da Casa de Tolerância (2011), de Bertrand Bonello (***)

14. Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios (2011), de Beto Brant e Renato Ciasca (***)
13. Cosmópolis (2012), de David Cronenberg (***)
12. Febre do Rato (2012), de Cláudio Assis (***)
11. Hugo (2011), de Martin Scorsese (***)
10. O Deus da Carnificina (2011), de Roman Polanski (***1/2)
9. 007 – Operação Skyfall (2012), de Sam Mendes (***1/2) 
8. Adeus, Primeiro Amor (2011), de Mia Hansen Løve (***1/2)

7. Paraisos Artificiais (2012), de Marcos Prado (***1/2)
6. Cavalo de Guerra (2011), de Steven Spielberg (***1/2)
5. Moonrise Kingdom (2012), de Wes Anderson (***1/2)

4. Shame (2011), de Steve McQueen (***1/2)
3. Habemus Papam (2011), de Nanni Moretti (***1/2)
2. O Artista (2011), de Michel Hazanavicius (****)
1. Drive (2011), de Nicolas Winding Refn (****)

* Texto pode ser lido também no cinematotal/la.