segunda-feira, 7 de julho de 2014

Mais que um clássico (em que quase ninguém acreditava)


Obs: Citações retiradas do ótimo livro O Massacre da Serra Elétrica - Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper, não é só um clássico do terror, um dos pilares do slasher e uma eterna influência para o cinema de gênero. Ele não é só um filme que conseguiu sofrer com a censura  por causa da violência, sem mostrar quase nada de sangue. Ele é também um filme que tinha boa parte da equipe ou descrente ou pouco otimista.

A começar pelo protagonista, Gunnar Hansen. “Eles tinham contratado alguém para fazer o Leatherface, mas ele estava na pior, bêbado num motel, e não conseguiu comparecer; eu queria muito uma chance e eles estavam desesperados. Então pensei: ‘Bem, é apenas um bico para o verão, eu poderei contar aos meus netos sobre o filme’ – e isso era tudo o que eu pensei que seria”. Assistente de câmera, Lou Perryman é menos sutil. “Não tinha a menor pista de que aquele filme seria um clássico, pelo menos eu não tinha. Tenho que admitir que entrei no projeto como um pessimista que passava o tempo todo no set reclamando de como aquilo era uma porcaria, e continuei assim”.

Mesmo com o filme já acontecendo, Allen Danziger, que interpretou Jerry, não conseguia enxergar potencial no que via. “Eu assistia a alguns dos copiões e Tobe dizia: ‘Você acha que tem alguma coisa que podemos fazer para melhorar o filme?’, e acho que eu disse: ‘Colocar as poltronas bem longe da tela!’ Pensei que seria um enorme fiasco.

Mas o acaso e a intuição também jogaram a favor do filme. O tatu empalhado no início do filme foi uma ideia de Robert A. Burns, diretor de arte, que aprendeu o processo de taxidermia na pré-produção do filme. Já as imagens em flashes que aparecem também no começo não estavam originalmente no roteiro.

Por outro lado, não dá para falar em sorte como prioridade para o peso da sequência da carona, ou basicamente os primeiros 20 minutos do filme, uma aula de tensão que, embora não tenha nas atuações um forte, é amplificada por mistura rara de texto, direção e montagem. Na parte central do filme, quando começa de fato o massacre, a atmosfera se mantém através das imagens e da decupagem, com o bônus de sustos. No fim, a perseguição, a luta pela vida e a luta pela morte, com um final fabuloso que resume personagens e história, e o sentimento de cada uma das duas pessoas que ficam para contar a história.

40 anos depois de lançado, O Massacre da Serra Elétrica permanece um dos melhores exemplos de bom filme de terror que, slasher ou não, vai além dos sustos. E aqui, em meio a uma tensão sempre alta, nem eles são fáceis de conseguir.

* Texto também publicado em http://www.cinematotal.com/la.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Companhias


A Garota de Lugar Nenhum (La Fille de Nulle Part, FRA, 2012) é um filme do menos, especialmente dentro da filmografia recente de Jean-Claude Brisseau.

Não só pelo erotismo, regra e ponto de partida de Coisas Secretas (2002), Anjos Exterminadores (2006) e À Aventura (2008), mas porque o filme foi rodado no apartamento de um Brisseau que também atua, tem na protagonista (Dora, interpretada por Virginie Legeay) a assistente de direção, e na montadora alguém que fez parte produção e foi responsável pelo figurino.

Não temos o tom épico no clímax de Coisas Secretas, não temos tantas mulheres sensuais como em Anjos Exterminadores, e o minimalismo consegue ser maior que o de À Aventura – talvez também por motivos financeiros, embora isso pouco reverbere no filme.

Verdade que em uma vez ou outra a decupagem não vem tão precisa como costuma ser, e que parte de final é desencadeada por acontecimento cuja (falta de) fluência pode ser questionada, mas estamos diante de um personagem único na filmografia de Brisseau.

Numa entrega semelhante à de Anjos Exterminadores, cujo resultado dá todos os indícios de ser sua versão da história que culminou em sua prisão por assédio sexual a atrizes que estiveram na pré-produção de Coisas Secretas, ele interpreta um professor bem mais velho diante de uma jovem que ele encontra sendo agredida por namorado, em início e premissa que se assemelham com Boda Branca (1989). O adendo que desencadeia as diferenças é que Brisseau e personagem envelheceram.

Apesar de em um momento desafiar a jovem nesse sentido, a libido está menor e, no caso específico do Michel, ele ainda tem o luto eterno pela morte de sua esposa há 29 anos. É um homem só, velho, sem esposa e sem filhos. Nessas circunstâncias, Brisseau volta a focar o erotismo e o fantástico, o corpo e o sobrenatural, com maestria de costume, apesar de limitada financeiramente.

Numa época em que Steve McQueen tem seu lado pintor lembrado em meio ao alvoroço de 12 Anos de Escravidão, são os planos de Brisseau que, entrecortados por respiros que estão longe do desleixo, parecem muito mais pintura, sem deixar de ser cinema.

Assim como seu personagem já descrente de quase tudo, Brisseau ainda acredita na imagem ou, mais especificamente no caso de personagem e diretor, em um tipo de imagem. Viva ou não, ela é real  e está na tela ou diante dos olhos dele. Michel e Brisseau acreditam na potência dela, no que ela pode emanar. Porque para Michel e para Brisseau, a imagem é força e companhia.

* Texto também publicado no http://cinematotal.com/la.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Top-50 indie

Semana passada, como exercício para próximo projeto, sugeri a Bruno Bandido que fizéssemos uma lista dos 50 melhores filmes independentes de cada um. Depois escolhemos do outro nomes que poderiam estar na lista, sem abaixar o nível.

Seguem abaixo os 50 de cada e os outros onde concordamos. Não está em ordem de preferência. Não consegui escolher só um Coutinho, só um Lynch, só um Bonello ou só um Eugène Green.

Lógico que o conceito de independente é sempre discutível, e pode ser bem questionado em alguns filmes abaixo, mas tentei trabalhar com uma ideia geral de colhões e talento maiores que o orçamento.

Lá vão.

A lista dele:
1 - Mystery Train (1989) Jim Jarmusch
2 - Confiança (1990) Hal Hartley
3 - O Selvagem da Motocicleta (1983) Francis Ford Coppola
4 - Vício Frenético (1992) Abel Ferrara
5 - Naked (1993) Mike Leigh
6 - Estranhos no paraíso (1982) Jim Jarmusch
7 - Os maridos (1970) - John Cassavetes
8 - Gato preto, gato branco (1998) Emir Kusturica
9 - Down by Law (1986) Jim Jarmusch
10 - Martin (1979) George Romero
11 - O Rei de Nova York (1990) Abel Ferrara
12 - Uma mulher sob influência (1974) - John Cassavetes
13 - O Lutador (2008) Darren Aronofsky
14 - Um guia para reconhecer seus santos (2006) Dito Montiel
15 - Mad Max (1979) George Miller
16 - Os Chefões (1996) Abel Ferrara
17 - Tudo ou nada (2002) Mike Leigh
18 - Flerte (1995) Hal Hartley
19 - Easy Rider (1969) Dennis Hopper
20 - Short Cuts - Cenas da Vida (1993) Robert Altman
21 - Paris, Texas (1984) Win Wenders
22 - Rampart (2011) Oren Moverman
23 - Bug (2006) William Friedkin
24 - Os selvagens da noite (1979) Walter Hill
25 - The Evil Dead (1981) Sam Raimi
26 - Halloween - A Noite do Terror (1977) John Carpenter
27 - Dead Man (1995) Jim Jarmusch
28 - Um tiro na noite (1981) Brian de Palma
29 - Antes da Meia-noite (2013) - Richard Linklater (mas vale pra trilogia)
30 - A morte de um bookmaker chinês (1976) John Cassavetes
31 - Traga-me a cabeça de Alfredo Garcia (1974) Sam Peckinpah
32 - Mean Streets (1973) Martin Scorcese
33 - O Jogo de Emoções (1987) David Mamet
34 - Funeral Parade of Roses (1969) Toshio Matsumoto
35 - Vocês, os vivos (2007) Roy Anderson
36 - Barfly (1987) Barbet Schroeder
37 - Hardcore - No Submundo do Sexo (1979) Paul Schrader
38 - Amores Brutos (2000) Alejandro González Iñárritu
39 - A Mosca (1986) - David Cronemberg
40 - Loucos de amor (1985) Robert Altman
41 - O Mensageiro (2009) Oren Moverman
42 - Killer Joe (2013) William Friedkin
43 - Jovens, Loucos e Rebeldes (1993) - Richard Linklater
44 - Homeboy - Chance de Vencer (1988) Michael Seresin
45 - Shotgun Stories (2007) Jeff Nichols
46 - Black Snake Moan (Entre o Céu e o Inferno) (2006) Craig Brewer
47 - Ride in the Whirlwind (1965) Monte Hellman
48 - Hard Times (O lutador da rua) (1975) Walter Hill
49 - Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos (2009) Paulo Biscaia Filho
50 - El Mariachi (1992) Robert Rodriguez

A minha:
1. Na Cidade de Sylvia (2007), de José Luis Guerin
2. Noite de Sexta Manhã de Sábado (2006), de Kleber Mendonça Filho
3. O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper
4. O Amor é Mais Frio que a Morte (1969), de Fassbinder
5. Falsa Loura (2007), de Carlos Reichenbach
6. Superoutro (1989), de Edgard Navarro
7. A Casa Muda (2010), de Gustavo Hernandez
8. Faces (1968), de Cassavetes
9. Famlia Rodante (2004), de Pablo Trapero
10. Deixe a Luz Acesa (2012), de Ira Sachs
11. Rubber (2010), de Quentin Dupiex
12. Aos Nosso Amores (1983), de Maurice Pialat
13. 2 Birds (2008), de Rúnar Rúnarson
14. Gotas D'Água Sobre Pedras Escaldantes (2000), de François Ozon
15. A Longa Caminhada (1971), de Nicolas Roeg
16. Holy Motors (2011), de Leos Carax
17. Vivendo no Abandono (1995), de Tom diCillo
18. Adeus, Primeiro Amor (2011), de Mia Hansen Løve
19. Moonrise Kingdom (2012), de Wes Anderson
20. A Primeira Noite de um Homem (1967), de Mike Nichols
21. Boda Branca (1989), de Jean-Claude Brisseau
22. May (2003), de Lucky Mckee
23. Thriller: A Cruel Picture (1974), de Bo Arne Vibenius (como Alex Fridolinski)
24. Namorados para Sempre (2010), de Derek Cianfrance
25. Cidade dos Sonhos (2001), de David Lynch
26. Buffalo 66 (1998), de Vincent Gallo
27. Caminho para o Nada (2010), de Monte Hellmann
28. As Canções (2011) / Edifício Master (2002) / Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho
29. A Amiga Americana (2009), de Ivo Lopes Araújo, Ricardo Pretti 
30. Armadilha do Destino (1966), de Roman Polanski
31. A Hora do Pesadelo (1984), de Wes Craven
32. A Ponte das Artes (2004), de Eugène Green 
33. A Religiosa Portuguesa (2009), de Eugène Green
34. A Bela Junie (2008), de Christophe Honoré
35. Viver a Vida (1962), de Jean-Luc Godard
36. Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto (2007), de Sidney Lumet
37. La Jetée (1962), de Chris Marker
38. Cidade Baixa (2003), de Sergio Machado
39. Estrada Perdida (1997), de David Lynch
40. Uma História Real (1999), de David Lynch
41. Crash – Estranhos Prazeres (1996)
42. Diário dos Mortos (2007), de George A. Romero
43. Sem Teto, Nem Lei (1985), de Agnès Varda
44. Casamento Silencioso (2008), de Horatiu Malaele 
45. O Raio Verde (1986), de Eric Rohmer
46.  O Grande Lebowski (1998), dos irmãos Coen
47. Tiresia (2003), de Bertrand Bonello
48. O Pornógrafo (2001), de Bertrand Bonello
49. Cão sem Dono (2007), de Beto Brant e Renato Ciasca
50. Sozinho contra todos (1998), de Gaspar Noé

Que estavam na lista dele e que me agradam um bocado:
1. O Lutador (2008) Darren Aronofsky
2. Paris, Texas (1984) Win Wenders
3. Halloween - A Noite do Terror (1977) John Carpenter
4. Um tiro na noite (1981) Brian de Palma
5. Antes da Meia-noite (2013) - Richard Linklater (vale pros dois primeiros tb)
6. Mean Streets (1973) Martin Scorcese
7. Hardcore - No Submundo do Sexo (1979) Paul Schrader
8. A Mosca (1986) - David Cronemberg
9. Killer Joe (2013) William Friedkin
10.Mad Max (1979), de George Miller
11. Short Cuts – Cenas da Vida (1993), de Robert Altman

E os da minha lista que estariam na dele:
1. A Longa Caminhada (1971), de Nicolas Roeg
2. O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper
3. Falsa Loura (2007), de Carlos Reichenbach
4. Gotas D'Água Sobre Pedras Escaldantes (2000), de François Ozon
5. Moonrise Kingdom (2012), de Wes Anderson
6. A Hora do Pesadelo (1984), de Wes Craven
7. Estrada Perdida (1997), de David Lynch
8. Crash – Estranhos Prazeres (1996)
9. O Grande Lebowski (1998), dos irmãos Coen
10. Cão sem Dono (2007), de Beto Brant e Renato Ciasca

11. Uma História Real (1999), de David Lynch

* Também publicado em cinematotal.com/la.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Entrega extrema



Um filme muito decupado até para os padrões de hoje, o que tende a ser um paradoxo quando pensamos no foco (as atuações), na época (década de 1960) e na duração (130 minutos). Em outras palavras, rever Faces (1968), obra-prima de John Cassavetes, dá a certeza de estar diante de um filme referência, talvez a maior delas, quando o assunto é a total entrega a personagens, e as consequências por vezes extremas disso.

Pode-se divagar que boa parte dos filmes dele é resultado da cumplicidade com a equipe e principalmente com os atores, basicamente o mesmo grupo de amigos, com sua visão crítica e pouco feliz da vida. Só que em Faces ele atinge um ápice na mistura do experimentalismo que ele começou em Sombras (1959) com o foco nas reações aos pontapés que a vida dá em cada um dos personagens.

Tecnocratas do século XXI têm alguns motivos pra não gostar do filme. Se for o caso, Cassavetes deixa de lado o som (às vezes bruscamente cortado), a continuidade da imagem (são inúmeros os “erros”), a câmera (em um momento, vemos o cinegrafista), a fotografia (às vezes sem foco), tudo pela captação de rostos e expressões raramente tão explorados.

Às vezes eles duram um ou dois segundos, às vezes duram um minuto, às vezes são estáticos, às vezes são potencializados por zoom-ins, mas os close-ups, especialmente de Gena Rowlands (Jeannie) e Lynn Carlin (Maria), figuram fácil entre os maiores do cinema.

As duas sofrem mais que os homens, e as reações delas diante de decepções já valeriam os 130 minutos do filme. Mas temos aí atuações periféricas monumentais que, com o tipo de direção que Cassavetes imprime, têm suas almas escarafunchadas. Resultado não é fácil de se obter, é mais difícil ainda de se manter, e consegue ser extremo e carinhoso ao mesmo tempo.

* Texto também publicado em http://cinematotal.com/la.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Top 2013

Tempo foi tomado por trabalho, do do ponto até o de Habeas Corpus, mas em breve publico texto também.

Sobre 2013, lembranças válidas para This Must Be The Place, de Paolo Sorrentino, The Canyons, de Paul Schrader, Elena, de Petra Costa, Passion, de de Palma, e Django Livre, de QT. Gostei deles menos do que queria ter gostado.

Holy Motors, de Leos Carax, não conta porque vi atrasado – e seria top do ano passado.

10. Searching for Sugar Man, de Malik Bendjelloul
9. Frances-Ha, de Noah Baumbach
8. Deixe a Luz Acesa, de Ira Sachs
7. Spring Breakers, de Harmony Korine
6. Aquele Cara, de Dellani Lima
5. Antes da Meia-Noite, de Richard Linklater
4. Vocês Ainda Não Viram Nada, de Alain Resnais
3. O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho
2. Killer Joe, de William Friedkin
1. Tabu, de Miguel Gomes

* Texto também publicado em http://cinematotal.com/la

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Outubro

10. Food Matters (2008), de James Colquhoun e Carlos Ledesma (**1/2)
9. Vênus Negra (2010), de Abdellatif Kechiche (**1/2)
8. L’Ange et la Femme (2008), de Olivier L. Brunet (**1/2)
7. Pornografizme (2010), de Leo Pyrata (***)
6. Os Inocentes (1961), de Jack Clayton (***)
5. A Casa da Noite Eterna (1973), de John Hough (***)
4. A Ponte (2006), de Eric Steel (***)
3. Psicose (1960), de Alfred Hitchcock (***1/2)
2. Rubber (2010), de Quentin Dupiex (****)
1. Tabu (2012), de Miguel Gomes (****)

* Também publicado em http://cinematotal.com/la.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Matemática afetiva



Muito já foi dito a respeito de Tabu (2012), mas para mim seu maior mérito é a sofisticação que chega como simplicidade, às vezes até despretensiosa.

Em um corte, pulamos 40 anos; em outro, milhares de quilômetros. Em ambos, a fluência se mistura com esmero e afetuosidade, por personagens, pela história deles, e pela música.

Como em Aquele Querido Mês de Agosto (2008), ela volta a ser personagem, embora dessa vez uma música especifica se sobressaia. Toca uma primeira vez, ligada a uma personagem e em momento já emotivo, mas como espécie de preparação para um segundo momento, quando um corte e um som trazem emoção raramente vista nos últimos anos.

Após uma introdução extraordinária, pode-se dizer que a primeira parte demora a engrenar, mas a contemplação bem humorada inicial deixa um espaço, uma brisa leve que depois é preenchida por uma gigantesca carga afetiva que marca a última hora do filme, uma história de amor.

Um extremo de silêncio, com apenas o balbuciar sem palavras, junto a uma narração diário, conciliando meticulosidade, para não nos repetir o que estamos vendo, e carinho.

Existe aí o enigma do crocodilo, o saudosismo e a ligação com Murnau e o cinema mudo, mas tudo isso é bônus de um filme que é tão genial e cuidadoso na forma quanto é simples em resultado e efeito.

Texto também publicado em http://cinematotal.com/la.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Setembro

Salvo por Guerin e Mizoguchi.

10. Tchau e Benção (2013), de Daniel bandeira (**1/2)
9. Bolívia (2001), de Adrián Caetano (**1/2)
8. A Cura (1997), de Kiyoshi Kurosawa (**1/2)
7. Quando os anjos caem (1959), de Roman Polanski (***)
6. Eye for na Eye (1998), de Artur Żmijewski (***)
5. A Ressurreição de Adam (2008), de Paul Schrader (***)
4. Cashback (2004), de Sean Ellis (***)
3. Frances Ha (2013), de Noah Baumbach (***)
2. Em Construção (2001), de José Luis Guerin (***1/2)
1. Rua da Vergonha (1956), de Kenji Mizoguchi (***1/2)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Seleção sem time





Boa Sorte, Meu Amor (2012, Brasil), de Daniel Aragão, é uma seleção de craques que não consegue formar um time à altura.

Temos uma protagonista com beleza, carisma e talento muito acima da média, a fotografia estilizada é de um esmero notável na iluminação e nos enquadramentos, diálogos misturam sapiência e leveza, e o filme tem algo a dizer e a mostrar.

Apresentação é com imagens estáticas do sertão que culminam em imagem de homem enterrado, com apenas parte de rosto à vista. A cena seguinte tem um gigantesco plano cheio de sombra que, após um longuíssimo zoom-in, é finalizada com frase a respeito da família e da opressão.

Pouco depois, o primeiro plano de Maria (Cristina Ubach) que, assim como todas as vezes que ela aparece, domina a tela. Aliás, quase todo plano feminino transmite um prazer de quem está atrás de câmera. No entanto, assim que ela sai do filme, acaba o interesse.

As imagens mantêm a média de estilo e de duração, mas não a força. E como o desde o início planos imensos são mesclados com outros bem mais curtos que parecem fazer parte de um filme bem mais dinâmico, a sessão perde ritmo e fôlego.

Finalizado o filme, todo o estilo, que vai desde os enquadramentos e o preto e branco à trilha sonora, ajuda menos que destoa do tom naturalista e crítico que existe ali. Cheios de personalidade, estilo e "mensagem" estão em conflito.

Mesmo perceptível o diálogo com conterrâneos, Boa Sorte, Meu Amor parece um filho bastardo de Buñuel com Tarantino. Ainda que o DNA pernambucano e talentoso esteja lá, bem claro.

* Texto também publicado em cinematotal.com/la.