terça-feira, 9 de abril de 2013

O tom e a pretensão*



(Com spoilers.)

Um dos diretores franceses mais ativos de sua geração, aos 45 anos François Ozon já tem 13 longas, o último deles
Dentro da Casa (Dans la maison – França, 2012), onde ele se volta ao suspense e, em menor escala, à sexualidade.

Um filme bacana, que funciona razoavelmente bem, até que lembramos de trabalhos anteriores dele, e até o tom brigar com a pretensão.

Na comédia-musical-satírica à la Agatha Christie que é 8 Mulheres (2002), Ozon teve um elenco espetacular que deu qualidade e carisma a um resultado despretensioso e divertido, mas que já tinha um lado sacana símbolo principalmente de outros dois filmes do início da carreira dele.

Gotas D’Água sobre Pedras Escaldantes (2000) e Swimming Pool – À Beira da Piscina (2003), apesar de abençoados pela tão sexy quanto talentosa Ludivine Sagnier, tinham uma câmera que trazia sensualidade sem prejudicar a leveza narrativa. Já em Dentro da Casa, embora permaneçam importantes para o todo, Ozon diminuiu a libido e a fluência.

Agora, a história gira em torno de professor de literatura (Germain, Fabrice Lucchini) que conhece aluno talentoso (Claude, Ernst Umhauer), cujos textos dizem respeito às visitas dele à casa de um colega de sala (Rapha, Bastien Ughetto). Histórias que vão crescendo, por atração, tensão e insinuações bem criadas e mantidas entre os que estão ali, naquela casa.

Nesse percurso, o que inclui o roteiro de Ozon adaptado de uma peça do espanhol Juan Mayorga, ele consegue nos enganar com o batido e não exatamente fácil “isso aconteceu mesmo?”, inclusive deixando o filme menos sisudo ao fazer o jovem talentoso olhar para a câmera e ao trazer o professor para cena em que só seu pupilo o enxerga.

Mas se essas quebras levam um tom jocoso ao filme, terminam por jogar contra ele no final, quando som e imagem carregam uma presunção ausente até ali, no que pode ser visto como uma homenagem, mas que também pode ser visto como uma pretensão descabida.

É complicado ir da leveza à grandiloquência, é complicado ir de Woody Allen a Hitchcock (logo a Janela Indiscreta?!), e é o que Ozon parece querer fazer do banco para o desfecho.

Lógico que permanece uma trama que, apesar às vezes apressada, é bem conduzida, mas uma pena que a pretensão e os parênteses joguem contra um filme que preza tanto pelo prazer de escrever, ler e contar histórias.

* Texto também publicado aqui.

Um comentário:

Rafael Carvalho disse...

Pretensão é uma boa palavra mesmo, ainda mais que esse me parece um filme inchado. Ozon toca em muitas questões que ele não parece dar conta (ou nem quer remexê-las tanto assim). Tem bom material nas mãos, mas não consegue freá-lo.