sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Seleção sem time





Boa Sorte, Meu Amor (2012, Brasil), de Daniel Aragão, é uma seleção de craques que não consegue formar um time à altura.

Temos uma protagonista com beleza, carisma e talento muito acima da média, a fotografia estilizada é de um esmero notável na iluminação e nos enquadramentos, diálogos misturam sapiência e leveza, e o filme tem algo a dizer e a mostrar.

Apresentação é com imagens estáticas do sertão que culminam em imagem de homem enterrado, com apenas parte de rosto à vista. A cena seguinte tem um gigantesco plano cheio de sombra que, após um longuíssimo zoom-in, é finalizada com frase a respeito da família e da opressão.

Pouco depois, o primeiro plano de Maria (Cristina Ubach) que, assim como todas as vezes que ela aparece, domina a tela. Aliás, quase todo plano feminino transmite um prazer de quem está atrás de câmera. No entanto, assim que ela sai do filme, acaba o interesse.

As imagens mantêm a média de estilo e de duração, mas não a força. E como o desde o início planos imensos são mesclados com outros bem mais curtos que parecem fazer parte de um filme bem mais dinâmico, a sessão perde ritmo e fôlego.

Finalizado o filme, todo o estilo, que vai desde os enquadramentos e o preto e branco à trilha sonora, ajuda menos que destoa do tom naturalista e crítico que existe ali. Cheios de personalidade, estilo e "mensagem" estão em conflito.

Mesmo perceptível o diálogo com conterrâneos, Boa Sorte, Meu Amor parece um filho bastardo de Buñuel com Tarantino. Ainda que o DNA pernambucano e talentoso esteja lá, bem claro.

* Texto também publicado em cinematotal.com/la.

sábado, 14 de setembro de 2013

Além da boa referência

Pode ser que eu mude de ideia até o final da temporada, pode ser que a digressão com o tempo perca o sentido, mas hoje ligo Bates Motel (2013-...) a Mad Men (2007-...).

Embora a primeira tenha sido adaptada aos dias atuais, as duas têm como base inicial o final da Era de Ouro de Hollwood, quando grandes artesãos faziam cinema. O tripé, a sobriedade de enquadramentos, a narrativa clássica, a busca pelo simples sem pretensões gritantes, está tudo lá.

Mas se em Mad Men temos uma série de personagens mais que de ações, Bates Motel quer honrar Hitchcock, talvez o maior em juntar mise-en-scène e fluência.

O problema é que, apesar de ter como referência um tempo em que a forma geralmente coexistia harmoniosamente com o roteiro, Bates Motel não tem a mesma leveza.

Mesmo que a série esteja longe de tentar ser um manifesto existencialista, nem tudo fala a mesma língua.

Freddie Highmore, o Norman Bates, está geralmente contido e irritante, é daquele personagem cuja insegurança pode passar impressão de ser do ator, mas hoje me convence. Já os pitis de Vera Farmiga (Norma) às vezes são constrangedores, e destoa da atuação do resto.

Outro ponto é que, no quinto episódio, temos alguns dos mais estranhos enquadramentos que vi recentemente, o que em teoria não é problema, mas se torna um quando seu resultado visa um fluxo narrativo, a atenção presa na história. O plano muito diferenciado soa como malabarismo e abre um parêntese.

Divagação à parte, que seja louvada a boa intenção de ter como referência época e diretor que hoje parecem esquecidos ou pouco vistos por grande parte dos que fazem cinema. Ela tem bons momentos, mas ainda espero ter impressão melhor quando acabar a temporada.

* Também publicada no http://cinematotal.com/la.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Agosto*

Mês razoável, primeiro contato com Bates Motel tem sido interessante. Prometo texto para os próximos dias.

10. A Cartomante (2013), de Adriano Big (**1/2)
9. Encaixotando Helena (1993), de Jennifer Chambers Lynch (**1/2)
8. Reminiscências de uma Viagem à Lituânia (1972), de Jonas Mekas (**1/2)
7. Holocausto Canibal (1980), de Ruggero Deodato (***)
6. Exótica (1994), de Atom Egoyan (***)
5. Dwaj ludzie z szafa (1958), de Roman Polanski (***)
4. Notes on the Circus (1966), de Jonas Mekas (***)
3. O Emprego (2008), de Santiago Bou Grasso (***1/2)
2. Vítima de uma Alucinação (2006), de Kiyoshi Kurosawa (***1/2)
1. Blackout (1997), de Abel Ferrara (****) 
* Também publicado em http://cinematotal.com/la.