Mesmo que em tela pequena, rever Drive (Idem – EUA, 2011), de Nicolas Winding Refn, Palma de Ouro de Direção em Cannes, fez um bem danado, e me refiro não só não à cena de abertura, que perdi no cinema, mas a todo o filme.
Já na apresentação, que
dura coisa de dez minutos, são jogadas na mesa todas as cartas. Tanto a do
personagem, um motorista silencioso e enigmático que cumpre o que promete, como
a do filme, que mescla cadência e tensão graças a uma câmera cuidadosa. Na hora
dos créditos, o final das boas-vindas, entra a estilização visual e musical que
marcam a hora e quarenta por vir.
Um ponto positivo é
que não se trata (apenas) de um diretor imprimindo sua estética (ou a falta
dela), o que às vezes pode ser um desastre. Ritmo e trilha sonora deixam claro que não estamos vendo (só) um tipo de autor, e sim um tipo
de filme. Uma ação dos anos 2000 que, dos sintetizadores à fonte rosa, tem influência na ação americana dos
anos 80 e adjacências.
No entanto, a
influência e o risco de fazer um simples pastiche são menores que o desejo de
filmar bem a história de um rapaz, um anti-herói com princípios. Um homem
simples, como é a mulher que ele conhece, e como é o roteiro. Mas que, nas mãos
certas, mostra imagens que fluem com narrativa, e que são guiadas por um diretor que gosta delas.
Com dois dos
melhores atores da nova geração, Ryan Gosling e Carey Mulligan, temos o
elevador, o quarto de hotel, o bordel. Temos também cenas coadjuvantes, filmadas
com igual tesão. Pode-se dizer que há um pequeno deslize na quebra de ritmo, mas
a ideia dele foi dada já na apresentação.
O final sem açúcar, uma
defesa do caráter anti-herói, só ressalta um filme em sintonia com o
personagem. Alguém competente e com estilo.
* Originalmente publicado aqui.