terça-feira, 24 de julho de 2012

Competência e estilo*



Mesmo que em tela pequena, rever Drive (Idem – EUA, 2011), de Nicolas Winding Refn, Palma de Ouro de Direção em Cannes, fez um bem danado, e me refiro não só não à cena de abertura, que perdi no cinema, mas a todo o filme.

Já na apresentação, que dura coisa de dez minutos, são jogadas na mesa todas as cartas. Tanto a do personagem, um motorista silencioso e enigmático que cumpre o que promete, como a do filme, que mescla cadência e tensão graças a uma câmera cuidadosa. Na hora dos créditos, o final das boas-vindas, entra a estilização visual e musical que marcam a hora e quarenta por vir.

Um ponto positivo é que não se trata (apenas) de um diretor imprimindo sua estética (ou a falta dela), o que às vezes pode ser um desastre. Ritmo e trilha sonora deixam claro que não estamos vendo (só) um tipo de autor, e sim um tipo de filme. Uma ação dos anos 2000 que, dos sintetizadores à fonte rosa, tem influência na ação americana dos anos 80 e adjacências.

No entanto, a influência e o risco de fazer um simples pastiche são menores que o desejo de filmar bem a história de um rapaz, um anti-herói com princípios. Um homem simples, como é a mulher que ele conhece, e como é o roteiro. Mas que, nas mãos certas, mostra imagens que fluem com narrativa, e que são guiadas por um diretor que gosta delas.

Com dois dos melhores atores da nova geração, Ryan Gosling e Carey Mulligan, temos o elevador, o quarto de hotel, o bordel. Temos também cenas coadjuvantes, filmadas com igual tesão. Pode-se dizer que há um pequeno deslize na quebra de ritmo, mas a ideia dele foi dada já na apresentação.

O final sem açúcar, uma defesa do caráter anti-herói, só ressalta um filme em sintonia com o personagem. Alguém competente e com estilo.

* Originalmente publicado aqui.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Vício, dor e desejo (de vingança)

(Originalmente publicado na Clitoris - Ed. 4.) 

Um exploitation obscuro que muito influenciou Tarantino, uma coletânea de sexo explícito e violência estilizada, uma superlativa vingança sádica, e até uma defesa do mérito e de um sonho.

Thriller: A Cruel Picture (Thriller: em grym film – Suécia, 1974), de Alex Fridolinski como a assinatura de Bo Arne Vibenius, é um filme que pode ser visto de várias maneiras, mas que do início ao fim mantém um norte claro. De um lado e de outro, seu foco é na dor. Não existe vingança sem sofrimento, e Vibenius sublinha essa ideia pela forma como filma os assassinatos e, talvez até principalmente, por como mostra o sexo.

As preliminares oscilam entre o sensual e o grotesco, mas o sexo de fato pouco atrai. É primitivo não por saciar a libido inerente ao ser humano, e sim por ser necessário para sustentar duas coisas sem as quais a personagem não vive. O vício e o desejo de vingança.

Nessa odisseia, um assustador ponto de vista que precede e acompanha rapidamente um estupro, vem seguido de um longo período de penitência da caolha, incluindo aí um close-up no momento em que ela perde visão.

Quando a vingança começa, Vibenius usa e abusa de uma câmera ultra-lenta que remete a Laranja Mecânica (1971), e que parece ter no prolongamento do sangue o ápice do prazer.

A dor sentida por sua personagem, que não consegue mais falar, parece pedir todo aquele excesso. É como se ela dissesse, através de cada tiro, “seu puto, toda essa agonia ainda é pouca”.

Mas ela não diz nada, o que torna tudo mais visual, incluindo aí a última cena, provavelmente uma das mais sádicas da história do cinema.

Nela, depois de quase duas horas de tudo explícito, Vibenius se limita à montagem e à sugestão para finalizar a saga. É um desfecho à altura de toda a raiva, até ali reprimida, que aquela moça tem o direito de sentir.

Ps curioso: Em 1966, Vibenius foi assistente de direção em Persona, de Bergman.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Junho

9. The Sacred Triangle: Bowie, Iggy and Lou (2010), Alec Lindsell (Cinema do Museu – Festival In-Edit) (**)
8. Isto não é um filme (2011), de Jafar Panahi (DVDRip) (**)
7. Sombras da Noite (2012), de Tim Burton (Multiplex Iguatemi – Cabine de imprensa)  (***)
6. Namorados para Sempre (2010), de Derek Cianfrance (DVDRip) (***)
5. O Deus da Carnificina (2011), de Roman Polanski (Espaço Unibanco – Cine Glauber) (***1/2)
4. Deus Abençoe Ozzy Osbourne (2011), de Mike Fleiss e Mike Piscitelli (Cinema do Museu – Festival In-Edit) (***1/2)
3. Thriller: A Cruel Picture (1974), de Bo Arne Vibenius (como Alex Fridolinski) (DVDRip) (***1/2)

2. Torrente de Paixão (1953), de Henry Hathaway (DVDRip) (***1/2)
1. Scarface (1983), de Brian de Palma (DVD) (****)

Ps: Dentro das próximas semanas, blog terá roupa nova.