segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Novembro*

Dos melhores do ano, com muitas revisões e lembrança especial para Jean-Claude Brisseau. Entre os filmes, links para os dois textos mais recentes, sobre Cosmópolis (2012) e Coisas Secretas (2002).

23. Time (2006), de Kim Ki-duk (DVDRip) (**)
22. Arca Russa (2002), de Aleksandr Sokurov (DVDRip) (**)
21. Aquele Querido Mês de Agosto (2008), de Miguel Gomes (DVDRip) (**1/2)
20. As Aventuras do Sr. Hulot no Tráfego Louco (1971), de Jacques Tati (DVD – Sala Walter da Silveira) (**1/2)
19. À Aventura (2008), de Jean-Claude Brisseau (DVDRip) (**1/2)
18. 39 degraus (1935), de Alfred Hitchcock (BDRip) (***)
17. Cada um com seu cinema (2007), de vários diretores (DVDRip) (***)
16. Berlin Alexanderplatz – Parte 6 (1981), de Rainer Werner Fassbinder (DVDRip) (***)
15. Berlin Alexanderplatz – Parte 7: Um juramento pode ser amputado (1981), de Rainer Werner Fassbinder (DVDRip) (***)
14. Cosmópolis(2012), de David Cronenberg (BDRip) (***)
13. 007 – Operação Skyfall (2012), de Sam Mendes (Cine Santa Clara) (***)
12. Coração Selvagem (1990), de David Lynch (BDRip) (***)
11. Boogie Nights (1997), de Paul Thomas Anderson (DVDRip) (***1/2)
10. Boda Branca (1989), de Jean-Claude Brisseau (DVDRip) (***1/2)
9. Mad Men S05E11 – The Other Woman (2012), de Phil Abraham (HDRip) (***1/2)
8. Mad Men S05E13 – The Phantom (2012), de Matthew Weiner (HDRip) (***1/2)
7. Halloween (1978), de John Carpenter (BDRip) (***1/2)
6. Mad Men S05E12 – Commissions and Fees (2012), de Chris Manley (HDRip) (***1/2)
5. Hair (1979), de Milos Forman (BDRip) (****)
4. Edward Mãos de Tesoura (1990), de Tim Burton (BDRip) (****)
3. Os Anjos Exterminadores (2006), de Jean-Claude Brisseau (DVDRip) (****)
2. Coisas secretas (2002), de Jean-Claude Brisseau (DVDRip) (****1/2)
1. Faces (1968), de John Cassavetes (BDRip) (****1/2) 

* Texto disponível também no cinematotal/la.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Bolha blindada*


A sensação de estranheza com Cosmópolis (Cosmopolis – Canadá/ França/ Portugal/ Itália, 2012) me parece vir não só do retorno de David Cronenberg a ela.

Primeiro, a decepção inicial de vê-lo depois de assistir a trailer que traz a lembrança de alguns de seus filmes mais vigorosos. Se formos para um sentido mais hollywodiano do termo, a ação do filme pode ser resumida no minuto e meio de vídeo promocional.

Em compensação, não dá para dizer que Cosmópolis é irmão de Um Método Perigoso (2011), o último trabalho de Cronenberg, nem que é um filho bastardo de Crash – Estranhos Prazeres (1996), onde ele mistura tão bem personagens misteriosos com sexo e tecnologia, um rumo que o trailer nos faz crer possível para este aqui.

Dessa vez o foco está numa crise pessoal de Eric Packer (Robert Pattinson), alguém que precisa empobrecer se quiser ficar bilionário, mas longe de ser tratado como o pobre menino rico.

Dentro de limusines que enxerga como apartamentos, ele passa por esposa, amantes e empregados de forma assustadoramente impessoal. O tesão, a tecnologia e a violência, a trinca com a qual Cronenberg lida tão bem, influencia aqui de uma maneira diferente, especialmente se pensarmos na linha de Scanners (1981), Videodrome (1983), e Crash (1996).

O dinheiro e o isolamento aumentaram, enquanto o prazer, tão importante para os personagens quanto presente no filmar, foi diluído no capitalismo.

Afinal de contas, embora não seja um panfleto que coloca a ideologia acima do cinema, temos um filme político. Desde a visita do presidente dos EUA, que chega numa cidade onde a coleção de limusines não é para ele, até o longo diálogo final. Uma crítica que culmina em situação que parece ser a única maneira de, após fazer parte de uma segregação como essa, ainda se ter uma companhia.

Quando em perspectiva com os melhores momentos de Cronenberg, Cosmópolis tem menos energia. Mais importante que a narrativa, o caminho para cumprir a ordinária missão de cortar o cabelo é marcado pelo tédio que vemos no rosto de Pattinson, e a bolha dificulta até para quem assiste. Mas é impossível não reconhecer o poder claustrofóbico, asséptico, crítico e bem cuidado das imagens, talvez as características mais marcantes no personagem que o filme persegue.

* Visto em BDRip, 13 de Novembro de 2012. Texto disponível também no cinematotal/la.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dor e gozo sem limites*


A apresentação de Jean-Claude Brisseau a Coisas Secretas (Choses Secrètes, FRA, 2002) é simples.

Uma mulher nua, deitada na cama, aos poucos se levanta e caminha sobre um palco, onde logo depois começa a se masturbar. A câmera a acompanha até o momento em que mostra uma plateia e, ao fundo, uma atendente, que olha tudo e descobrimos ser a narradora do filme.

Finalizado o espetáculo, temos o princípio de amizade entre Nathalie (Coralie Revel), a stripper, e Sandrine (Sabrina Seyvecou), antes espectadora privilegiada, ambas postas para fora e que passam a morar juntas. A primeira é mais velha, segura e com ar professoral; a segunda é uma jovem que pouco sabe de orgasmos, mas que percebemos ser uma ótima aprendiz.

Uma visão limitada da primeira hora do filme pode fazê-lo parecer um manifesto feminista, mas ele deixa claro que vai para algo além do puro sexismo.

Se por um lado ele é pele e contato, ele também é sangue. Para Nathalie e Sandrine, os fins justificam os meios, mas esses meios envolvem relações afetivas, e as duas são feitas de carne e osso, diferente do que aparenta o contraponto do filme. Alguém cujo trauma na infância tenta explicar o que se tornou, um misantropo que parece formado apenas por caracteres, e que tem como prioridade o cruzamento da luxúria com a libertinagem. Mas sem prazer.

Verdade que os franceses parecem ter sensualidade e cinema impregnados no DNA, e que Brisseau (de 1944, meio herdeiro e meio responsável por essa herança) consegue estar acima da média de compatriotas e contemporâneos, mas as Coisas Secretas são mais sobre o que está por trás de toda essa libido.

Soa descartável início de narração em reencontro final, como às vezes pode soar excessivamente solene a trilha sonora, mas estamos diante de um universo onde nada é moderado.

Seja com o sexo ou com a dor, o que temos são sentimentos e sensações extremas, expostas através de corpos filmados com intensidade absurda. Formidável.

* Texto também disponível no blog do Cinema Total / LA.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Outubro

18. As Amazonas na Lua (1987), de vários diretores (DVDRip) (Incompleto)
17. This is Spinal Tap (1984), de Rob Reiner (BRRip) (**)
16. Salve-se quem puder (A Vida) (1980), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (**1/2)
15. Berlin Alexanderplatz – parte 5: Um ceifador com a violência de nosso senhor (1980), de Rainer Werner Fassbinder (DVDRip) (**1/2)
14. Os Olhos sem Rosto (1960), de Georges Franju (BRRip) (**1/2)
13. Metropolitan (1990), de Whit Stillman (DVDRip) (**1/2)
12. The Hot Spot (1990), de Dennis Hopper (DVDRip) (***)
11. Família Rodante (2004), de Pablo Trapero (DVDRip) (***)
10. Febre do Rato (2012), de Cláudio Assis (Auditório da Uesc – DVD) (***)
9. Mad Men S05E10 – Christmas Waltz (2012), de Michael Uppendahl (HDRip) (***)
8. Mad Men S05E09 – Dark Shadows (2012), de Scott Hornbacher (HDRip) (***1/2)
7. Mad Men S05E08 – Lady Lazarus (2012), de Phil Abraham (HDRip) (***1/2)
6. Casamento ou Luxo (1923), de Charles Chaplin (DVDRip) (***1/2)
5. Boneca de Carne (1956), de Elia Kazan (TVRip) (***1/2)
4. Senna – versão estendida (2010), de Asif Kapadia (BRRip) (***1/2)
3. Jules e Jim (1962), de François Truffaut (BRRip) (***1/2)
2. Mad Men S05E07 – At the Codfish Ball (2012), de Michael Uppendahl (HDRip) (****)
1. Era uma vez na América (1984), de Sergio Leone (BRRip) (****)

sábado, 6 de outubro de 2012

Cinema em série*


Mad Men é uma anomalia do bem.

Não é exatamente divertida, nem tem um protagonista ultra carismático, como no caso de Big Bang Theory (Jim Parsons) ou Californication (David Duchovny), por exemplo. Não tem serial killer, não tem sobrenatural, não tem maniqueísmo. Dá para dizer até que todo mundo tem caráter duvidoso o suficiente para não se criar uma empatia pública. Ou seja, Mad Men pouco ou nada tem que, de antemão, já atraia a curiosidade de um grande público. Mas, ainda que se pondere o fato de ser exibido em uma TV a cabo (AMC), ele se mantém com episódios que são no mínimo bons média metragens e que, no sétimo episódio da quinta temporada, resume a série e beira a perfeição.

Está ali tudo de bom que tivemos nos últimos cinco anos. Ótimas atuações, a direção com enquadramentos que conciliam o esmero e a fluidez, o não dito e o jogo de aparências, o lado podre da publicidade e da Nova Iorque dos anos 60. Só que tudo isso potencializado no episódio em que o ponto de vista é de Sally (Kiernan Shipka), uma criança.

O primeiro telefonema, a ida para a casa de Don (pai, Jon Hamm), o encontro com a madrasta e os pais franceses dela, o problema e a solução com um cliente, a discussão para ir ao baile, e o que acontece lá. Tudo isso intercalado com a ansiedade de Peggy (Elizabeth Moss), uma mudança em sua vida e a notícia dada a mãe, que nos leva de volta à premiação, onde uma mesa é palco de imagem simples e cheia de significado.

Depois tem-se um talvez descartável telefonema, cuja última palavra vem acompanhada de corte brusco que ela merece. Mas tudo o que leva a ele, naquela pouco mais de meia hora, é dos melhores momentos do ano.

* UFPV também disponível no http://cinematotal.com/la.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Setembro

Na lista do mês, passo a incluir séries, pelo menos aquelas em que paro o que estiver fazendo para me dedicar a um episódio na íntegra. No caso do mês, entram na cota Mad Men e Berlin Alexanderplatz, que é mais um (gigantesco!) filme dividido em 13 partes, como é anunciado em cada episódio. Sobre diminuição de textos, a culpa é da busca por frilas e a pré-produção de Lara, próximo curta metragem. Você também é bem-vindo aqui.

Abaixo, os filmes.

17. Rock of Ages (2012), de Adam Shankman (Cine Santa Clara) (**)
16. Nosso Dia Chegará (2010), de Romain Gravas (DVDRip) (**)
15. Pretty Girls All In a Row (1971), de Roger Vadim (TVRip) (**1/2)
14. Passion (1982), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (**1/2)
13. Pina (2011), de Wim Wenders (BRRip) (**1/2)
12. Estado de Sítio (2012), de vários diretores (Youtube) (**1/2)
11. Fuga de Los Angeles (1996), de John Carpenter (BRRip) (**1/2)
10. Berlin Alexanderplatz – Parte 4: Um Punhado de Gente nas Profundezas do Silêncio (DVDRip) (***)
9. Mad Men (S05E06) (2012) (HD Rip) (***)
8. Hannah e suas irmãs (1986), de Woody Allen (BRRip) (***)
7. Um Verão Escaldante (2011), de Phillipe Garrel (DVDRip) (***)
 6. Berlin Alexanderplatz – Parte 2: Como Viver quando não queremos morrer? (1980) (DVDRip) (***)
5. Berlin Alexanderplatz – Parte 1: O Castigo Começa (1980), de Rainer Werner Fassbinder (DVDRip) (***)
4. Mad Men (S05E04) (2012) (HD Rip) (***1/2)
3. Mad Men (S05E05) (2012) (HD Rip) (***1/2)
2. Berlin Alexanderplatz – Parte 3: Uma martelada na cabeça pode ferir a alma (1980) (DVDRip) (***1/2)
1. A Noite Americana (1973), de François Truffaut (DVDRip) (****)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Patologia romântica*



Longe de Salvador e com preguiça de ir ao Cine Santa Clara, recorro à Internet e à Tortura do Medo (Peeping Tom – ING, 1960), de Michael Powell.

Com roteiro de Leo Marks, também autor da peça em que se baseia o filme, é o tipo de filme em extinção.

Um homem (Mark Lewis, com ar de voyeur ingênuo trazido por Karlheinz Böhm) que trabalha como assistente de fotografia e quer fazer seu filme, tem um prazer pouco usual, que é o de observar e filmar reações de medo das mulheres antes de matá-las. É o que ele faz logo em primeira cena.

Percebemos que o assassino é um ser humano com aparência de civil inofensivo, capaz de despertar empatia no espectador, mas o foco não está no social.

Seja quando se apaixona, seja quando assassina, seja no final, ele se mantém fiel às imagens que deseja; imagens que são filmadas com inacreditável esmero.

Com já dezenas de filmes dirigidos até ali, é fantástica a capacidade de Powell lidar com enquadramento, câmera e luz (fotografia de Otto Heller). Ele parece buscar um nível que seja tão raro quanto o que o personagem quer filmar. E embora não possa afirmar quão incomum é esse tipo de deleite, dá para dizer que as imagens têm força difícil de ser atingida.

São mortes, pistas e despistes, que envolvem um ser com um histórico que reverbera e com duas paixões, que lutam para coexistir.

Em outra análise, pode-se divagar que seu prazer é um universo próprio, uma espécie de filme onde é possível existir sem qualquer tipo de moral, onde ela vem depois da satisfação pessoal. Já o apaixonar-se, que independe dele e se mistura com o perigo de ser pego pela lei, representa a vida real.

Nesse caso, logicamente, é complicada para ambas conviverem harmoniosamente. Enquanto elas tentam, vemos tensão que ainda incluem uma cega e um set de filmagem. O que é até esperado, em um filme onde a visão é fundamental, e onde o cinema não só é personagem, como é bem tratado.

* Originalmente publicado aqui. 

sábado, 1 de setembro de 2012

Agosto

12. Honor de Cavalleria (1996), de Albert Serra (DVDRip) (**)
11. O Nó – Ato Humano Deliberado (2012), de Dilson Araújo (DVD) (**1/2)
10. A Garota de Rosa Shocking (1986), de Howard Deutch (DVDRip) (**1/2)
9. L’equip petit (2012), de Roger Gómez e Dani Resines (Vimeo - curta) (***)
8. Bahêa Minha Vida (2011), de Marcio Cavalcante (DVDRip) (***)

7. Para Roma, com Amor (2012), de Woody Allen (Cinema do Museu) (***)
6. Como Loucos (2011), de Drake Doremus (DVDRip) (***)

5. American Master: A Tribute to Elia (2010), de Martin Scorsese e Kent Jones (DVDRip) (***1/2)
4. May (2003), de Lucky Mckee (DVDRip) (***1/2)
3. Gremlins (1984), de Joe Dante (Blu-Ray Rip) (***1/2)
2. A Tortura do Medo (1960), de Michael Powell (BRRip) (****)
1. Na Cidade de Sylvia (2009), de José Luis Guerin (DVDRip) (****1/2)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Beleza e penitência*

Créditos costurados, pedaços de boneca caindo, sangue, grito, uma criança com olho preguiçoso, e um conselho da mãe.

“Se não consegue fazer amigos, construa-os”.

Assim começa May – Obsessão Assassina (May – EUA, 2002), longa de estreia de Lucky Mckee que pode levar muita gente a encontrar metáforas e simbolismos, mas que não é o tipo de filme que se importa mais com um suposto debate posterior que com suas imagens e o que elas têm a dizer.

Existe o conflito, o que leva a personagem a ter um comportamento estranho que, com o decorrer do filme, só piora. Também existe muito sangue e os momentos em que pode ser difícil manter os olhos na tela. No entanto, May não se limita a uma história que envolve vingança e a um visual gore, como milhões de outros aí afora.

Vemos assassinatos estilosos, porém vemos um ser que é tão esquisito, por desejos e falhas pouco usuais, quanto humano, por ter desejos e falhas.

May não é um psicodrama hipster, e sim um filme que usa um gênero (gore), um sentido (visão) e um sentimento base (solidão e derivados), não importa se você conhece ou não o novo sucesso indie da música e do cinema. Sua deficiência e sua criação potencializaram frustrações, mas May sente raiva, desejo e se decepciona, como qualquer ser humano.

Um retrato cruel, como seria inevitável em meio aos problemas que vão da genética à mãe. Só que também um retrato doce, e maior prova disso é a última sequência, quando dor, carência e carinho convivem harmoniosamente. É um desfecho que mistura bem beleza e penitência, como o resto do filme.

(Originalmente publicado na Clitoris - Ed. 5.)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Julho

12. Correspondencias – Jonas Mekas / J.L. Guerin (2011), de Jonas Mekas e José Luis Guerin (curta) (**)
11. Na Estrada (2012), de Walter Salles (Espaço Unibanco – Cine Glauber) (**)
10. Louca Escapada (1974), de Steven Spielberg (DVD) (**1/2)
9. Razão e Sensibilidade (1995), de Ang Lee (DVD) (**1/2)
8. Sociedade dos Poetas Mortos (1989), de Peter Weir (DVD) (***)
7. Rocky – Um Lutador (1976), de John G. Avildsen (DVD) (***)
6. A Guerra Está Declarada (2011), de Valérie Donzelli (DVDRip) (***)
5. Rio Grande (1950), de John Ford (***1/2) (DVD)
4. Adivinhe Quem Vem Para Jantar (1967), de Stanley Kramer (DVDRip) (***1/2)
3. Drive (2011), de Nicolas Winding Refn (Blu-Ray Rip) (****)
2. Vá e Veja (1985), de Elem Klimov (DVDRip) (****1/2)
1. Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino (DVD) (****1/2)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Competência e estilo*



Mesmo que em tela pequena, rever Drive (Idem – EUA, 2011), de Nicolas Winding Refn, Palma de Ouro de Direção em Cannes, fez um bem danado, e me refiro não só não à cena de abertura, que perdi no cinema, mas a todo o filme.

Já na apresentação, que dura coisa de dez minutos, são jogadas na mesa todas as cartas. Tanto a do personagem, um motorista silencioso e enigmático que cumpre o que promete, como a do filme, que mescla cadência e tensão graças a uma câmera cuidadosa. Na hora dos créditos, o final das boas-vindas, entra a estilização visual e musical que marcam a hora e quarenta por vir.

Um ponto positivo é que não se trata (apenas) de um diretor imprimindo sua estética (ou a falta dela), o que às vezes pode ser um desastre. Ritmo e trilha sonora deixam claro que não estamos vendo (só) um tipo de autor, e sim um tipo de filme. Uma ação dos anos 2000 que, dos sintetizadores à fonte rosa, tem influência na ação americana dos anos 80 e adjacências.

No entanto, a influência e o risco de fazer um simples pastiche são menores que o desejo de filmar bem a história de um rapaz, um anti-herói com princípios. Um homem simples, como é a mulher que ele conhece, e como é o roteiro. Mas que, nas mãos certas, mostra imagens que fluem com narrativa, e que são guiadas por um diretor que gosta delas.

Com dois dos melhores atores da nova geração, Ryan Gosling e Carey Mulligan, temos o elevador, o quarto de hotel, o bordel. Temos também cenas coadjuvantes, filmadas com igual tesão. Pode-se dizer que há um pequeno deslize na quebra de ritmo, mas a ideia dele foi dada já na apresentação.

O final sem açúcar, uma defesa do caráter anti-herói, só ressalta um filme em sintonia com o personagem. Alguém competente e com estilo.

* Originalmente publicado aqui.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Vício, dor e desejo (de vingança)

(Originalmente publicado na Clitoris - Ed. 4.) 

Um exploitation obscuro que muito influenciou Tarantino, uma coletânea de sexo explícito e violência estilizada, uma superlativa vingança sádica, e até uma defesa do mérito e de um sonho.

Thriller: A Cruel Picture (Thriller: em grym film – Suécia, 1974), de Alex Fridolinski como a assinatura de Bo Arne Vibenius, é um filme que pode ser visto de várias maneiras, mas que do início ao fim mantém um norte claro. De um lado e de outro, seu foco é na dor. Não existe vingança sem sofrimento, e Vibenius sublinha essa ideia pela forma como filma os assassinatos e, talvez até principalmente, por como mostra o sexo.

As preliminares oscilam entre o sensual e o grotesco, mas o sexo de fato pouco atrai. É primitivo não por saciar a libido inerente ao ser humano, e sim por ser necessário para sustentar duas coisas sem as quais a personagem não vive. O vício e o desejo de vingança.

Nessa odisseia, um assustador ponto de vista que precede e acompanha rapidamente um estupro, vem seguido de um longo período de penitência da caolha, incluindo aí um close-up no momento em que ela perde visão.

Quando a vingança começa, Vibenius usa e abusa de uma câmera ultra-lenta que remete a Laranja Mecânica (1971), e que parece ter no prolongamento do sangue o ápice do prazer.

A dor sentida por sua personagem, que não consegue mais falar, parece pedir todo aquele excesso. É como se ela dissesse, através de cada tiro, “seu puto, toda essa agonia ainda é pouca”.

Mas ela não diz nada, o que torna tudo mais visual, incluindo aí a última cena, provavelmente uma das mais sádicas da história do cinema.

Nela, depois de quase duas horas de tudo explícito, Vibenius se limita à montagem e à sugestão para finalizar a saga. É um desfecho à altura de toda a raiva, até ali reprimida, que aquela moça tem o direito de sentir.

Ps curioso: Em 1966, Vibenius foi assistente de direção em Persona, de Bergman.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Junho

9. The Sacred Triangle: Bowie, Iggy and Lou (2010), Alec Lindsell (Cinema do Museu – Festival In-Edit) (**)
8. Isto não é um filme (2011), de Jafar Panahi (DVDRip) (**)
7. Sombras da Noite (2012), de Tim Burton (Multiplex Iguatemi – Cabine de imprensa)  (***)
6. Namorados para Sempre (2010), de Derek Cianfrance (DVDRip) (***)
5. O Deus da Carnificina (2011), de Roman Polanski (Espaço Unibanco – Cine Glauber) (***1/2)
4. Deus Abençoe Ozzy Osbourne (2011), de Mike Fleiss e Mike Piscitelli (Cinema do Museu – Festival In-Edit) (***1/2)
3. Thriller: A Cruel Picture (1974), de Bo Arne Vibenius (como Alex Fridolinski) (DVDRip) (***1/2)

2. Torrente de Paixão (1953), de Henry Hathaway (DVDRip) (***1/2)
1. Scarface (1983), de Brian de Palma (DVD) (****)

Ps: Dentro das próximas semanas, blog terá roupa nova.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

A comédia ganha*



Com ajuda de elenco e roteiro afinados quando o propósito é o humor e o escapismo, dá para dizer que Sombras da Noite (Dark Shadows – EUA, 2012) é um dos mais divertidos trabalhos que Tim Burton fez nos últimos anos.

Permanece certo esmero para dirigir e enquadrar que ele sempre teve, mas com trilha sonora não original em diálogo mais direto com o ritmo e a fantasia ali criados. No que isso tem de elogioso, dá para falar de um Tim Burton “tarantinizado”.

Existe um universo à parte que fica claro logo em apresentação que precede os créditos, quando vemos um suicídio não consumado nos gritar que aquilo é ficção. A partir dali, fica mais fácil acreditar em um homem que dorme em 1780 e acorda em 1972, assim como rir das situações estranhas que um parar no tempo pode fazer.

O humor é inteligente e os trejeitos de Johnny Depp (Barnabas Collins) se repetem, mas funcionam melhor aqui. Sombras da Noite pode tratar de família, de amor e da impossibilidade do eterno sucesso nelas, mas brilha é como uma comédia.

Mefistófeles, o McDonalds, os Carpenters, o primeiro encontro com carro, os diálogos de uma maneira geral, são gags hilárias ou criativas, pelo menos. O porém é que Burton parece querer acrescentar aí uma beleza triste presente num Edward Mãos de Tesoura, onde também existe a incapacidade de estar com quem se ama, mas onde essa questão afetiva era tão forte quanto a fantasia, e fluía com naturalidade que falta aqui (e mais adiante, quando temos a revelação de personalidade de um dos Collins).

Não sei qual era a prioridade da série original (1966-71), mas essa tentativa de diferentes tons não ajuda o resultado de Burton, com desfecho também pouco feliz. No entanto, soa inevitável para um filme tão caro.

Problemas à parte, ficam o humor e os encaixes iluminados de imagens com sons, o que são sempre bem-vindos.

Visto em cabine de imprensa no Multiplex Iguatemi – Salvador, 19 de junho de 2012.

* Originalmente publicado aqui.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Maio

9. A Fonte das Mulheres (2011), de Radu Mihaileanu (Cinema do Museu) (**)
8. Destino do Poseidon (1972), de Ronald Neame (DVD) (**1/2)
7. Quando Morremos à Noite (2011), de Eduardo Morotó (curta – Porta Curtas) (**1/2)
6. Milão Violenta (1972), de Fernando di Leo (Sala Walter da Silveira) (***1/2)

5. Paraisos Artificiais (2012), de Marcos Prado (Espaço Unibanco Cine Glauber) (***1/2)
4. O Quarto do Filho (2001), de Nanni Moretti (DVDRip) (***1/2)

3. Balada do Amor e do Ódio (2010), de Álex de la Iglesia (DVDRip) (****)
2. Na Cidade de Sylvia (2007), de José Luis Guerin (DVDRip) (****1/2)
1. E.T. – O Extra-terrestre (1982), de Steven Spielberg (DVD) (*****)


sábado, 26 de maio de 2012

Colhões e entranhas

Começo hoje a escrever, mensalmente, para a revista Clitoris, de Camila Fraga. É uma revista de literatura cujo foco não é a grife nem a pose, o que me agrada. Estreia foi originalmente publicada aqui.

Guerra Civil Espanhola. Num circo, crianças se divertem, mas com ressalvas. Aos poucos, a gargalhada vira um canto de boca e fica menor que a tensão. O som ao redor não ameniza. Pressentimos uma desgraça.

Aparece um grupo uniformizado que não está de bom humor, nem quer ninguém assim. Um palhaço tenta dialogar, sabe que corre risco de vida. Seu colega nem tanto. A caricatura do militar reage. “Seu amigo tem colhões. (...) Mas só com colhões, não se ganha uma guerra”. Tensão descamba para violência. Livre arbítrio e princípios são artigos de luxo. Um menino vê seu pai levado, contra a vontade. Entram os créditos, acompanhados de uma trilha sonora que só potencializa impressão de um porvir com muita agressividade e pouca gentileza.

No resto da projeção, Balada do Amor e do Ódio (Balada Triste de Trompeta, 2010), de Álex de la Iglesia, confirma tudo que apresenta. Imagens e sentimentos sem firulas. Dor, medo, ódio, vingança, nada vem acompanhado de um “por favor”. Temos guerra, morte, opressão, um trauma que reverbera. E temos o que só uma feliz tradução infiel poderia adiantar.

Dois palhaços, uma mulher. Eles têm personalidades distintas, o essencial para a trama. Ela é uma mulher estupenda, a inspiração pro pecado bíblico, quem cede e faz ceder sem esforço. Com os três, o amor e o ódio são carnais, o desejo é maior que qualquer escrúpulo. Acompanhado de vingança, do sentimento de posse, de ciúme, pouco importa. O que importa é a satisfação dos impulsos.

Os efeitos especiais em um acidente histórico chegam a ser toscos, nem tudo chega espetacularmente filmado, mas tudo chega com vontade, com tesão.

A apresentação de Natalia, sua dança no Kojak, a primeira conversa entre Sergio e Javier, as cenas de sexo. Elas são parte de uma abordagem que foca o primitivo. Não interessa a versão celestial de cada um. Como bem diz Javier, “a morte une as pessoas”.

Aqui, é o terreno que impera e um não enxerga o outro como semelhante, mas como rival. Minutos antes do desfecho, uma cena espetacular reúne o desespero e um monumento espanhol, em deleite de beleza e angústia. Nela e nas últimas duas expressões que vemos, a motivação vem dos colhões, em forma de coragem e de libido. A sensibilidade e a dor vêm das entranhas. Como todo o filme.