Side by Side
(2012), de Christopher Keneally, fala sobre o embate entre o digital e a
película, com foco em alguns
dos mais importantes diretores e diretores de fotografia do cinema norte-americano. Mas ele me parece também dois filmes em um só, ambos apegados à sua época.
Primeiro o
documentário, com opiniões de quem muito entende, mas com linguagem que
funciona para quem não está lá. O que é 2K, 4K, 5K; como era, como tem sido e
de como pode vir a ser. Diferenças entre câmeras, entre o digital e a película; filmes e nomes que escolhem um lado e o outro.
Na maioria das vezes, o documentário soa como
um juiz tão fascinado pela justiça e pela fidelidade aos fatos e às opiniões divergentes que
ele se abstém do que aqui, de fato, pode ser irrelevante. Se é que ele é
possível, pouca importa um veredito definitivo. O que fica são as informações e
as ideias de cada um, que vão do didatismo à divagação filosófica. E todas visões de hoje, que poderiam ser ditas num bar.
Já o outro ponto diz respeito ao filme que fala sobre filmes, com orgulhosa base fincada no início do século XXI.
Com barateamento de
tecnologia, várias câmeras evitam problema de continuidade e seduzem a vários
cortes. Mas como todo mundo já corta muito, a gente pode acrescentar uma trilha sonora
onipresente. Para ilustrar melhor, vamos inserir imagens de filme e de arquivo. E
do que mais estiver a mão.
Assim, Side By Side é também um exemplo de
filme que, dentro de uma postura relativamente sóbria de documentário tradicional,
vive constantemente no risco de confundir o “tudo é possível” com o “tudo é
necessário”. De ser parte do cinema onde a respiração é ignorada, onde tesão e
confiança por som e imagem são cada vez mais raros, onde predomina a ejaculação precoce.
Lógico que uma coisa
não anula a outra, e talvez até ajude no sentido de transformar o filme num
registro de sua época. Um diferencial é que, graças
principalmente a quem ele escuta, esse tem algo a dizer.
* Texto também disponível em Cinematotal/la.