quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A paixão pela arma*

Caminho para o Nada (Road to Nowhere – EUA, 2010) foi o primeiro filme que vi de Monte Hellman. Impossibilidade de paralelo com carreira à parte, lembranças imediatas tendem a ser 8 ½ (1963) de Fellini, O Desprezo (1963) de Godard, Abraços Partidos (2009) de Almodóvar e, talvez a maior, Cidade dos Sonhos (2001) de Lynch.

Não que Hellman soe aqui um emulador de Lynch, cuja carreira começou quase duas décadas depois. O que ele faz – como Lynch – é mergulhar em mundo cinéfilo menos romântico e mais sombrio, que envolve mecenas e membros da equipe com passado indefinido e que, dentro do processo do filme dentro do filme, nos confunde.

Mas a piada pronta do título, que se alia a esse embaralhamento, é o que também serve de defesa para o filme. Afinal de contas, se o destino de cada ser é igual, e a tendência natural é fugir dele, a morte não deixa de ser um nada, sendo justamente o caminho que importa. Nesse percurso, o início do filme já deixa claro o que mostra e o que deixa de mostrar, o que é perceptível (o filme dentro do filme, o som do tiro) e o que vai (tentar) ser formado em nossa mente.

Pode-se criticar a construção de personagens, assim como um hipotético “excesso” de cinefilia de personagem-diretor via Hellman, e um grau de confusão que também remete a Lynch nos casos em que a força intuição sugerida supera a falta de compreensão didática – sendo Estrada Perdida (1997) e Cidade dos Sonhos (2001) os possíveis melhores exemplos. Hellman, contudo, parece querer mergulhar não na psicologia, ou nas agruras dos seus personagens, e sim nas do cinema.

“O que importa é o elenco”, “não estou com ciúmes, só me importo com que você faça o filme funcionar” e “largue a arma”, além de discussões com roteirista, são – com certa falha da memória para as aspas – alguns dos momentos textuais que ficam, mas que não impedem que Caminho para o Nada seja absurdamente visual. As duas formas do acidente, os diferentes takes feitos e refeitos, a recepção do filme (e como a câmera camufla situação em início e fim), assim como o último plano, trazem ao resultado final uma força que reside em obsessão pelo cinema. Com um lado apaixonadamente triste que, como toda arma, pode ser letal.

Ps: Uma pena filme ter passado apenas no 7º Festival Internacional de Cinema de Salvador que acabou no dia 24. Será que ele volta, Circuito Sala de Arte?

* Texto originalmente publicado no Pixelando Online.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Filmes - novembro

TV quebrada, notebook em garantia, preparativos para lançamento de NMVF = miséria.

6. O Dia da Desforra (1966), de Sergio Sollima (DVDRip) (**1/2)
5. O Palhaço (2011), de Selton Mello (UCI Barra) (**1/2)
4. Monika e o Desejo (1953), de Ingmar Bergman (DVDRip) (**1/2)
3. Caminho para o Nada (2010), de Monte Hellman (Cinema da Ufba) (***1/2)
2. O Silêncio de Lorna (2008), de Jean-Pierre e Luc Dardenne (DVDRip) (***1/2)
1. A Pele que Habito (2011), de Pedro Almodóvar (Cinema do Museu) (***1/2)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O que nos une*

Apesar do que muitos podem alegar, Balada do Amor e do Ódio (Balada Triste de Trompeta – Espanha/França, 2011), de Álex de la Iglesia, não me soou sub-Tarantino. Direta ou indireta, alguma influência existe, mas enquanto QT é herdeiro direto de Sergio Leone e Brian de Palma, com prioridade por câmera e mise-en-scène, Iglesia parece, com pitadas do burlesco e do grotesco, buscar algo mais orgânico.

Não é só uma questão de fazer a câmera respirar, coisa que às vezes ela faz demais, e em ritmo de cortes que pode soar excessivo nas primeiras partes do filme. Seu tesão por história é maior que a fé numa decupagem perfeita, exceção feita à sequência do Valle de los Caídos, que soa como a prole de Hitchcock com a computação gráfica do século XXI. Mas, ela à parte, Iglesia se liga menos à câmera que à alma dos que estão no filme.

Os palhaços no cinema são, no geral, historicamente caricatos e ligados a gêneros específicos, principalmente terror e comédia. E a apresentação de quase todos aqui nos leva a crer que, afunilando os protagonistas, de fato assistimos a um palhaço sorridente e vilão (Antonio de la Torre) contra um palhaço triste que tende a ser herói (Carlos Areces). Mas a situação não é simples assim, e poucas vezes uma tradução infiel foi tão feliz.

Se no início Iglesia deixa claro um motivo para a tristeza e a vingança, depois ele mostra ódio e amor sem psicologizá-los. No triângulo amoroso, completado pela bela do circo (Carolina Bang), ele dá vazão para que sintam extremos sem moderação, cada um à sua maneira, e em seu “objeto” de admiração ou repulsa. Sua secura ao filmar violência ainda prova que, pelo menos aqui, a dor física de quem é bom não difere da de quem é mau. Não existe espaço para frescuras.

Quando o palhaço diz à sua bela que “a morte une todos nós”, ele poderia resumir tudo, mas o filme vai além em seguida, na última sequência. Ao vermos só dois lados do triângulo, naquele estado, Iglesia parece dizer que a arte (de fazer rir e de fazer chorar), o amor e alegria, o ódio e a tristeza, também têm o mesmo efeito.

* Texto originalmente publicado no Pixelando Online.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Outubro

8. Pai e Filho (2003), de Aleksandr Sokurov (DVDRip) (**)
7. Meu País (2011), de André Ristum (Cinema do Museu) (***)
6. The Cutting Edge: The Magic of Movie Editing (2004), de Wendey Apple (DVDRip) (***)
5. O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper (DVDRip) (***)

4. Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres, de Joann Sfar (Cinema do Museu) (***1/2)

3. Balada do Amor e do Ódio (2010), de Álex de la Iglesia (Cinema do Museu) (***1/2)
3. Balada do Amor e do Ódio (2010), de Álex de la Iglesia (Cinema da Ufba) (****)
2. Recife Frio (2009), de Kleber Mendonça Filho (DVD) (****)
1. À Prova de Morte (2007), de Quentin Tarantino (DVDRip) (****)

Ps: No próximo post, texto sobre Balada do Amor e do Ódio.

domingo, 16 de outubro de 2011

Pixelando Online

Na falta de tempo, a gente arranja mais coisa para fazer.

Já está no ar há algumas semanas, mas só agora lembrei de divulgar, uma coluna minha no "Pixelando Online".

Em texto de estreia, defendo (para muitos, indefensável) A Casa.

Ela vai ao ar mensalmente.

Ver

"Neste espaço, todo texto terá um filme, geralmente visto no cinema, espécie de “estreia do mês”. Mas início será diferente, com base em dois momentos do Panorama (Internacional Coisa de Cinema), que rolou no final de agosto aqui em Salvador, e em outra sessão.

Adolfo Gomes, que ministrou a Oficina de Cinema Corsário, em um momento disse que inúmeros filmes atuais são áudio-descritivos, você pode fechar os olhos e não perder nada. Lógico que existem estilos, diretores com diferentes prioridades, mas este me parece o ápice da descrença no que é projetado e, consequentemente, o ápice do fracasso de um cineasta. Uma triste de verdade que vale para muitos, mas não para Premonição, curta baiano que vai para o Festival de Brasília dirigido por Pedro Abib (não o conheço), e que, no fim da sessão, me fez soltar um “vida longa a esse rapaz”.

Estrear na ficção com um filme de que flerta com Hitchcock e Sergio Leone é tão sedutor quanto pretensioso, mas ele dosou bem tesão (por filmar) e esmero (para enquadrar, decupar), essenciais para conversa minimamente digna com dois dos maiores mestres no domínio do meio. Quem morreu, quem vai matar, que horas, por que... tudo é resolvido – e relativizado – via cortes, via dilatação e contração do tempo, via imagens. É um filme “feito na montagem”, ela quem mais contribui para manutenção de suspense, mas isso só é possível em filmagem pensada, calculada. Como foi o segundo caso, só que de maneira oposta.

Se Premonição foi “feito na montagem”, o uruguaio A Casa (La Casa Muda – Uruguai, 2010), de Gustavo Hernández, outro exemplar de gênero, foi “feito nos ensaios”.

Simulado em plano-sequência, foi a Cannes na leva dos “inexplicáveis”, já que pareço uma das poucas pessoas a ter gostado do filme. Que tem alguns problemas óbvios e já citados por meio mundo, mas prós bem menos comentados. (Se não quer possíveis detalhes do filme, pare aqui).

A Casa não é só mais um (entre tantos) filme de sustos, ou só mais um (entre um pouco menos) a acreditar piamente em uma ideia, que se torna um conceito apaixonado por si mesmo – aqui, o plano-sequência.

Mais do que em seus pais, A Bruxa de Blair (1999) e Atividade Paranormal (2007), cujas primeiras versões me até me agradam, vemos. Vemos os frames da Polaroid, vemos a criança como um ponto branco que vem “do nada” e logo some, vemos as fotos na parede, a boneca, a “reviravolta”. Vemos que “nos enganamos”, ou pelo menos que há outro algo errado. Vemos a esquizofrenia, vemos a ilusão. Às vezes com um simples ir e vir de câmera, que na verdade é muito mais que isso, vemos duas versões, que fazer repensar inclusive outro possível “porquê” para plano-sequência. Vemos.

Ps: Pode ser que falta do gênero tenha me afetado? Lá se vão cinco meses de última experiência decente com Lucky Mckee e seu May (2002). No cinema, coisa bacana mais recente foi A Sétima Alma (2010), de Wes Craven (A Hora do Pesadelo), no fim do ano passado e que muitos consideram outra bobagem. Quem sabe em revisão eu diminua A Casa ao embuste que maioria achou."

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Setembro

Perdão a quem espera algo além das estrelinhas, que sozinhas soam como a anti-crítica, mas tem acontecido coisa suficiente para eu mal ver filmes. Não garanto mais nada.

14. O Espinho no Coração (2009), de Michel Gondry (Sala Walter da Silveira) (incompleto)
13. Elvis e Madona (2009), de Marcelo Laffitte (Cinema da Ufba) (**)
12. Planeta dos Macacos: A Origem (2011), de Ruperto Wyatt (UCI Barra) (**1/2)
11. Ex-isto (2010), de Cao Guimarães (Espaço Unibanco Cine Glauber) (incompleto)
10. Bahêa Minha Vida (2011), de Márcio Cavalcante (Espaço Unibanco Cine Glauber) (***)
9. Soberba (1942), de Orson Welles (DVDRip) (***)
8. In a lonely place (1950), de Nicholas Ray (DVDRip) (1950) (***)
7. Os Homens e os Deuses (2010), de Xavier Beauvois (Cinema da Ufba) (***)
6. A Casa (2010), de Gustavo Hernández (UCI Iguatemi) (***1/2)
5. A Besta Deve Morrer (1969), de Claude Chabrol (DVDRip) (***1/2)
4. Crítico (2008), de Kleber Mendonça Filho (Cinema da Ufba) (***1/2)
3. Medianeras: Buenos Aires na era do amor virtual (2011), de Gustavo Taretto (Cinema do Museu) (***1/2)
2. O Amor é Mais Frio que a Morte (1969), de Rainer Werner Fassbinder (DVDRip) (****)
1. Sabrina (1954), de Billy Wilder (Cinema do Museu – DVD) (****)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Panorama

Pena não lembrar - nem conseguir descobrir - o filme de Jean Rollin exibido na Oficina de Cinema Corsário, no Panorama aqui em Salvador. Cara sabia das coisas. Não gostei do de Bressane, cujo nome também me escapa, e apenas simpatizei com o de zumbis ecológicos ingleses dirigidos por um espanhol. Na falta deles, todos sugeridos pelo sempre ótimo Adolfo Gomes, vão os que vi lá. Pena desgraça pessoal - além de um erro na programação que constava em site no primeiro dia - sempre coincidir com algum filme de João Pedro Rodrigues.

5. Sexo e o Claustro (Cine Glauber – Panorama), de Claudia Priscilla (curta – **1/2)
4. O Amor do Palhaço (2005), de Armando Praça (Cine Glauber – Panorama) (curta – **1/2)
3. A Vida Útil (2010), de Federico Veiroj (Cine Glauber – Panorama) (**1/2)
2. A Alegria (2010), de Felipe Bragança e Marina Meliande (Cine Glauber – Panorama) (***1/2)
1. A Amiga Americana (2009), de Ivo Lopes Araújo, Ricardo Pretti (Cine Glauber – Panorama) (curta – ****)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Agosto - até Panorama

Gripe do capeta me prende em casa enquanto Adolfo Gomes continua a Oficina de Cinema Corsário no Panorama, aqui em Salvador. Sem Lucio Fulci, que seria mais abordado hoje, lembro de coisas bacanas como Premonição (2011), de Pedro Abib, que vai para Festival de Brasília e teve sua première anteontem, e A Amiga Americana (2009), de Ivo Lopes e Ricardo Pretti, curta já com carreira consolidada.

Mas eles são assuntos pra outro post.

6. O Grito (1978), de Jerzy Skolimowsky (DVDRip) (**)
5. A Árvore da Vida (2011), de Terrence Malick (Cine Glauber – Espaço Unibanco) (**1/2)
4. A Marca da Pantera (1982), de Paul Schrader (DVDRip) (**1/2)
3. Super 8 (2011), de JJ Abrams (Cine Glauber – Espaço Unibanco) (***)
2. O Homem ao Lado (2009), de Mariano Cohn e Gastón Duprat (Cinema da Ufba) (***1/2)
1. Melancolia (2011), de Lars Von Trier (Cine Glauber – Espaço Unibanco) (****)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cine Futuro - cotações

(Quando tiver tempo e disposição, tento escrever sobre.)

1. O Último Tango em Paris (1972), de Bernardo Bertolucci (Instituto Goethe - DVD) (***1/2)


2. Planos Para Amanhã (2010), de Juana Macías (TCA) (**1/2)
3. Beleza Roubada (1996), de Bernardo Bertolucci (Instituto Goethe - DVD) (***)
4. Sala dos Milagres (2011), de Cláudio Marques e Marília Hughes (curta) (TCA) (**1/2)
5. Esc4escape (2011), de Alexandre Guena (curta) (TCA) (*1/2)
6. Venus Vs. Me (2010), de Nathalie Teirlink (curta) (TCA) (*1/2)
7. Olho de Boi (2010), de Diego Lisboa (curta) (TCA) (**1/2)
8. O Homem que não dormia (2011), de Edgard Navarro (TCA) (***)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Julho - até Cine Futuro

Começou ontem em Salvador o Cine Futuro, vou ver se escrevo um texto à parte sobre ele. Aí vão filmes vistos no mês, até hoje.

1. Bikini Bandits (2002), de Steve Grasse (média) (DVDRip) (*1/2)
Parece filme de publicitário com muita criatividade e pouca fé na imagem. O corta-corta atinge níveis estratosféricos, e o tesão fica apenas na ideia. Já que os biquinis e o corpos são personagens do filme, seria natural filmá-los com mais vontade, mais libido mesmo. Lá se vai uma semana e nada do filme fica, além de uma extravagância que soa como preguiça.

2. Prisioneiro do Sexo (1979), de Walter Hugo Khouri (DVDRip) (**1/2)
No sentido sexo e câmera, não podia ser diferente do outro. Walter Hugo Khouri demonstra carinho especial por cada plano, abusando de zooms e movimentos que chamam atenção para si, não importa se o objeto é um rosto ou o sexo. O porém é quando, quase sempre, a direção deixa de ser cuidadosa e passa impressão de narcisista, mais até que virtuosa. Não temos dúvida de que estamos vendo um filme, no bom sentido também, mas perde-se algo orgânico. Por outro lado, close final é prova definitiva de que ele tinha algo a dizer.

3. Sombras (1959), de John Cassavetes (Sala Walter da Silveira – DVD) (***1/2)
Gena Rowlands à parte, o close no rosto de Lelia Goldoni, em se tratando de Cassavetes, talvez só perca para o de Lynn Carlin em Faces (1968). Improviso oscila entre o “para que vemos isso?” e o fabuloso, com elenco e algo a dizer em sintonia com mise-en-scène. Além de racismo, que Cassavetes não abordou mais tanto em sua obra, personagens confusos e complexos já começavam a ser rascunhados.

4. Noite de Estreia (1977), de John Cassavetes (Sala Walter da Silveira – DVD) (****)
Noite de Estreia deve ter o melhor início e o melhor fim de Cassavetes, embora – caso oposto de Sombras – tenha diminuído em revisão. Talvez peque pelo excesso ao, em quase duas horas e meia de filme, investir tudo basicamente em uma personagem, Myrtle (Gena Rowlands), recheada de problemas, o maior deles talvez sendo o de envelhecer, especialmente depois de ver um fã morrer atropelada. Mas apesar de agonia poder cansar espectador, vemos em um só filme o amor ao teatro e ao ser humano, sem excesso de condescendência, além de muito cuidado com o cinema. Ao se filmar alguns de seus combustíveis (arte anterior, álcool), Cassavetes não se deixa embriagar por eles.

5. Assim Falou o Amor (1971), de John Cassavetes (Sala Walter da Silveira – DVD) (***)
“Cassavetes não nasceu para fazer comédia” é primeira impressão, mas filme não é (apenas) uma comédia. Ele mergulha nos personagens, em suas agonias e dramas, e nisso funciona como sempre. Seu humor varia entre o sutil (no diálogo) e o excessivo (no tom de personagens) e não me bate. Diferente da angústia e das idiossincrasias daqueles de quem fala.

6. Gigolô Americano (1980), de Paul Schrader (DVDRip) (****)
Se a trilha de Giorgio Moroder, como quase sempre, data o filme, não dá para dizer o mesmo do resto. Schrader acompanha um personagem e um mundo à parte, com o olhar crítico e humano, sem soar moralista nem ingênuo, exceção talvez feita ao final, com espécie de redenção agridoce, que para mim passa. Momento paranoico de Julian (Richard Gere) em carro lembra muito A Conversação (1974), de Coppola, embora resultado seja diferente. Schrader filma Julian como um profissional e um ser humano, o que ele é como qualquer outro, só que em um meio onde sua função não é “oficializada”. Diálogos afiados em um mundo que liga o submundo à alta classe, com poucas diferenças no fim das contas. Muito além de um filme de um (na época mais) roteirista (que diretor).

7. Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho (DVDRip) (****)
Parece uma tentativa de evolução do já excelente Edifício Master (2002), aqui talvez excessivo. Alguns depoimentos são, como no outro, um elegante e bonito convite às lágrimas. A diferença é que não sabemos, ou apenas desconfiamos, do que é real e do que é atuado. Até quando é possível estar anestesiado em meio a idas e vindas, e quando achamos que entendemos ou prevemos o que é real ou não, ele nos engana. Pouca gente consegue extrair tanta beleza do cotidiano.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Junho

14. Muro (2009), de Tião (Canal Brasil) (curta) (*1/2)
13. Não Reconciliados (1965), de Jean-Marie Straub (Walter da Silveira – DVD) (**)
12. What’s Happening! The Beatles in the USA (1964), de Albert Maysles e David Maysles (#In-Edit – Cinema do Museu) (**)
11. Os Sinais (2006), de Eugène Green (DVDRip) (**1/2)
10. Mulheres Apaixonadas (1969), de Ken Russell (**1/2) (Alexandre Robatto – DVD)
9. Gimme Shelter (1970), de Albert Maysles, David Maysles e Charlotte Zwerin (#In-Edit – Cinema do Museu) (**1/2)
8. Who Killed Nancy? (2009), de Alan G. Parker (#In-Edit – Cinema do Museu) (**1/2)
7. Copacabana (2010), de Marc Fitoussi (#Festival Varilux – Cine Glauber) (**1/2)
6. Potiche – Esposa Troféu (2010), de François Ozon (#Festival Varilux – Cine Glauber) (***)
5. Terra de Ninguém (1973), de Terrence Malick (DVDRip) (***)
4. O Vencedor (2010), de David O. Russell (DVDRip) (***)
3. Procurando Simon Werner (2010), de Fabrice Golbert (#Festival Varilux – Cine Glauber) (***)
2. Namorados para Sempre (2010), de Derek Cianfrance (UCI Iguatemi) (***1/2)
1. Meia-Noite em Paris (2011), de Woody Allen (Cine Glauber) (****)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Maio

9. Lope (2010), de Andrucha Waddington (Cinema da Ufba) (**)
8. Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano (2010), de Beatriz Seigner (Espaço Unibanco/Cine Glauber) (**)
7. Tio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas (2010), de Apichatpong Weerasethakul (Cinema do Museu) (**1/2)
6. Um Quarto em Roma (2010), de Julio Medem (Cinema da Ufba) (**1/2)
5. Transcendendo Lynch (2011), de Marcos Andrade (Espaço Unibanco/Cine Glauber) (**1/2)
4. A Conversação (1974), de Francis Ford Coppola (Telecine Cult) (***1/2)
3. O Leão de Sete Cabeças (1970), de Glauber Rocha (Sala Walter da Silveira – DVD) (***1/2)
2. Diário de uma garota perdida (1929), de G.W. Pabst (Sala Alexandre Robatto – DVD) (HC)
1. Persona (1966), de Ingmar Bergman (DVD) (****1/2)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Glauber e Joe

Até agora foram apenas cinco filmes em maio. Outra mudança a conta-gotas e período de início de trabalho se juntam à ausência do DVD para esculhambar tudo. Lado positivo é que apenas Lope (2010), de Andrucha Waddington, pareceu realmente descartável – apesar da sempre ótima Pilar López de Ayala (Na Cidade de Sylvia).

As coisas mais relevantes – e não necessariamente melhores – foram o Tio Boonmee que pode recordar de suas vidas passadas (2010), de Apichatpong Weerasethakul, e O Leão de Sete Cabeças (1970), de Glauber Rocha. Aqui é válido o clichê de que não são filmes, mas experiências.

Cheguei a cochilar no caso de “Joe”, e complexidade de Glauber pode levar ao desinteresse (fio narrativo é menos forte que sequências) mas – apesar dos quarenta anos que separam os filmes – é monumental a crença no meio que usam. Neles, a imagem e o som geralmente soam mais importantes que história que contam. Ainda que talvez não saiba resumir caminho que trilham, carregarei para sempre imagens de ambos.

(Spoilers!) As apresentação do e as imagens dos homens-macacos e seus olhos vermelhos, e a “aparição” em Tio Boonmee, assim como a abertura de O Leão e a cena em que Hugo Carvana cumprimenta um por um os africanos antes de fuzilá-los, em fila, já bateram o carimbo. (Fim de spoilers.)

Neste último plano, como acontece em boa parte de muitos dos filmes de Glauber, temos um diretor que defendia “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, mas que calculava e pensava movimentos e atores. Mesmo dentro do caos que emana de seus filmes, em uma palavra, ele se importava com a mise-en-scène. Muita gente adora dizer que está seguindo conselho dele, mas – para nem falar em talento – maioria não tem nem o cuidado nem o tesão de filmar que ele tinha.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Abril



Um Lugar Qualquer (Somewhere - EUA, 2010), de Sofia Coppola, parece o desenvolvimento de uma variação da personagem de Anna Faris em Encontros e Desencontros (2002), só que em versão masculina discreta: uma estrela de cinema (Johnny Marco, interpretado por Stephen Dorff), com bolso cheio e cabeça vazia. Só que agora ela desenvolve esse personagem em meio ao tédio de quem não tem muito o que fazer e a dizer, e corre o risco de transformar seu próprio filme em um reflexo disso. O que talvez seja a intenção, mas - de maneira bem pessoal - entediante não é uma palavra que busco em filmes.

A longa sequência com imagem estática, com os dois à beira da piscina e em zoom out é linda e poderia ser um ótimo final. A partir dali, sequência de cassino me soou descartável, assim como um ou outro momento redudantes no decorrer do filme, que embora novamente remetam ao estado do ator, simplesmente não batem. Momento em que ele chora ao telefone também me soa como uma humanização forçada.

Ainda assim, não faltam sequências inspiradas, afinal de contas temos uma diretora com absurda sensibilidade para filmar coisas simples. Da sequência de abertura à final, passando por dança, discussões com filha, encontro com (des)conhecidas, a mão é talentosa. Mas seria um retrocesso para quem começou tão bem com Virgens Suicidas (1999) e Encontros e Desencontros? Pode ser que sim, como também pode ser que seja alguém com diferentes intenções e ideias depois do estrondoso início da (hoje já consolidada) carreira. Espero pelo próximo.

Kiarostami
Adoraria dizer que Cópia Fiel (2010), de Abbas Kiarostami, foi das melhores coisas que vi do ano, mas prefiro revê-lo. Decepção foi mesclada com passagens memoráveis e imagens e momentos que perseguem até em sonho. Além disso, só digo que, para mim, ele sequer foi o melhor Kiarostami do mês.

15. Alpha Dog (2006), de Nick Cassavetes (DVD) (**)
14. O Resgate do Soldado Ryan (1998), de Steven Spielberg (DVD) (**1/2)
13. Dança dos Vampiros (1967), de Roman Polanski (DVDRip) (**1/2)
12. A Morte de um Bookmaker Chinês (1976), de John Cassavetes (DVDRip) (**1/2)
11. Climas (2006), de Nuri Bilge Ceylan (DVDrip) (**1/2)
10. Bullit (1968), de Peter Yates (DVDRip) (***)
9. Roman Polanski: Wanted and Desired (2008), de Marina Zenovich (DVDRip) (***)
8. Marte Ataca (1996), de Tim Burton (DVD) (***)
7. A Comunidade (2000), de Alex de la Iglesia (DVDRip) (***)
6. Um Lugar Qualquer (2010), de Sofia Coppola (Cinema do Museu) (***)
5. A Dama de Shanghai (1947), de Orson Welles (DVDRip) (***1/2)
4. O Porteiro da Noite (1974), de Liliana Cavani (DVDRip) (***1/2)
3. Cópia Fiel (2010), de Abbas Kiarostami (Cinema do Museu) (***1/2)
2. Gosto de Cereja (1997), de Abbas Kiarostami (DVD) (****)
1. À Prova de Morte (2007), de Quentin Tarantino (DVD) (****)

terça-feira, 19 de abril de 2011

A perseguição



Falando de lacunas, enfim assisti a Bullitt (1968), de Peter Yates, clássico caso do “filme de ação que não se faz mais”, e o como expoente disso temos o ritmo cadenciado mas seco, aliado à longa e tão falada perseguição pelas ladeiras e ruas estreitas de San Francisco – top-3 em lista pessoal, fácil. Nestes pouco mais de 10 minutos, percebemos (outra vez) não só como a cidade nasceu para ser filmada, como me parece inevitável lembrar da perseguição no fim de À Prova de Morte (2007) – que me veio à mente mais aqui que em Corrida contra o Destino (1971) e 60 Segundos (1974), citações diretas e explícitas do filme de Tarantino.

Se quase 40 anos depois de Bullitt Zöe Bell deixou de ser a dublê de Uma Thurman para interpretar uma dublê e causar calafrios na plateia com receio por sua saúde, aqui Steve Mcqueen (auxiliado por Peter Yates, logicamente), famoso por recusar substituto, por vezes nos faz acreditar que ele mesmo faz todas aquelas estripulias. Por mais que boa parte delas tenham sido obra de Loren Janes (um dos únicos sobreviventes da equipe do filme, ao lado da sempre linda – e aqui pouco além disso – Jacqueline Bisset), planos longos e outros próximos aumentam verossimilhança.

Ao comentar com meu pai sobre, ele (que gosta do filme) perguntou se eu não tinha ficado com dor de cabeça em meio a tantas ladeiras. Deveria dizer que sou da geração dos diretores que dirigem muito mais na montagem, e que acham que a melhor montagem é a que mais corta.

De volta ao filme, a sequência do aeroporto me lembrou Fogo contra Fogo (1995), embora em Bullit ela pareça ainda mais perigosa, e tão impossível de se repetir quanto no filme de Michael Mann, pelo que me lembro das atuais restrições dos aeroportos americanos. (Vi em algum extra?)

No resto do filme, o simples e o banal se misturam em direção correta, mas que pode soar preguiçosa, especialmente para um misto de ação e policial.

No entanto, para ficar apenas em exemplos recentes de filmes que adoro, é bom lembrar que perseguições em San Francisco não começaram em Instinto Selvagem (1992), e que pegas com duração de dois dígitos de minutos não começaram em À Prova de Morte.

Para quem quiser ver ou rever a sequência, aqui vai: http://www.youtube.com/watch?v=GMc2RdFuOxI&fmt=18.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

May



Dia desses Gorebahia me indicou May (idem – EUA, 2002), longa de estreia de Lucky Mckee, que me soou como uma talentosa esperança não apenas para o terror gore, mas para o gênero de uma maneira mais ampla. Primeiro porque Mckee tem algo para dizer além do puro exercício de direção e virtuosismo, e depois porque demonstra algum tino para comédia fora do mais óbvio padrão dela - seja lá o que isso signifique.

Para começar, pedaços de boneca a despencarem sobre fundo preto ao som de trilha que, sem passar a impressão de querer parecer, pode lembrar O Bebê de Rosemary (1968), mesclados com estilizada (e mais tarde “justificável”) apresentação de créditos. Eis aí uma apresentação de respeito, que é completada quando conhecemos a pequenina May, cujo "olho preguiçoso" leva-a a usar um tapa-olho que não facilita o relacionamento com os colegas.

A partir do primeiro momento em que vemos May adulta, até o final do filme, vivemos então uma jornada de terror, solidão e um perfeccionismo singular, para dizer o mínimo.

De incômodo, vem boa parte gore, que flerta com o realismo em quantidade e tempo o suficiente para me incomodar a vista, mas aí vem uma questão bem pessoal – há quem se contorça em Irrersível e Kill Bill, que me descem sem problema, ainda que com abordagens e propósitos distintos. Outro lado negativo é o relativo tempo gasto para solucionar algumas cenas que me pareceram longas demais, especialmente quando comparadas às melhores do filme. Além das já citadas apresentações de May criança e adulta, filme funciona com humor doente, e sacadas para momentos mais violentos são brilhantes, da “mão no rosto” até as “pernas bonitas” – para evitar spoiler.

Duas coisas, no entanto, me chamaram mais a atenção (spoiler). Primeiro perceber que o perfeito encaixe do final não soou como uma obsessão do roteiro, mas como um ponto de partida que resultou em história que soube prender e disfarçar enquanto possível. Já o último movimento do filme, mais do que uma suposta concessão feliz (além de violenta, cena me soa triste), não é apenas uma defesa da ficção, o que gêneros invariavelmente tendem a fazer, mas uma defesa da companhia da ficção – o que não é apenas louvável, como difícil de ser mostrado de maneira tão convincente.

Ps: Sobre filmes de março, tristeza maior é a distância de Salvador, o que leva a uma inevitável ausência do cinema. Isso à parte, curioso como Recife Frio (2009) me soou muito melhor na tela grande, mesmo sendo a princípio tão minimalista, do humor à ficção científica. Já Armadilha do Destino (1966), uma das lacunas de Polanski, me fez “torcer”, apesar do excelente Donald Pleasence, quase todo o momento por um close em Françoise Dorleac, para novamente perguntar: por que você morreu, hein?!

Filmes de março:
13. Um Sonho de Liberdade (1994), de Frank Darabont (DVD) (**1/2)
12. A Loja da Esquina (1940), de Ernst Lubitsch (DVDRip) (**1/2)
11. Trovão Tropical (2008), de Ben Stiller (DVD) (***)
10. Os Infiltrados (2006), de Martin Scorsese (DVD) (***)
9. À ma soeur (2001), de Catherine Breillat (DVDRip) (***)
8. Gangues de Nova York (2002), de Martin Scorsese (DVD) (***)
7. Os Matadores (1997), de Beto Brant (DVDRip) (***)
6. Senhores do Crime (2007), de David Cronenberg (DVD) (***1/2)
5. Armadilha do Destino (1966), de Roman Polanski (DVDRip) (***1/2)
4. May (2002), de Lucky Mckee (DVDRip) (***1/2)
3. Tropa de Elite 2 (2010), de José Padilha (DVD) (****)
2. Recife Frio (2009), de Kleber Mendonça Filho (DVD) (curta) (****)
1. No Tempo das Diligências (1939), de John Ford (DVDRip) (hc)

terça-feira, 1 de março de 2011

Fevereiro

Apenas quatro idas ao cinema, mas todas válidas, incluindo aí Cisne Negro, do qual não gostei muito, mas que está longe de ser o pior de Aronofsky - afinal de contas, ele também dirigiu Fonte da Vida (2006).

Caso semelhante veio com Pablo Trapero, pois ainda que seu Abutres me soe um bom filme irregular, não ajudam a semelhança com o pior de Juan José Campanella e a distância e a lembrança de Família Rodante (2004) e Leonera (2008), talvez seus dois melhores resultados - ainda que bem distintos entre si.

Abaixo, o que foi visto este mês, incluindo alguns dos momentos mais altos de Cronenberg e Craven:

16. Slacker (1991), de Richard Linklater (DVDRip) (**)
15. Vela ao Crucificado (2010), de Federico Machado (BlipTV) (**) (curta)
14. La Leçon de Guitare (2006), de Martin Rit (DVDRip) (**1/2) (curta)
13. A Chinesa (1967), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (**1/2)
12. Cisne Negro (2010), de Darren Aronofsky (Espaço Unibanco Cine Glauber) (**1/2)
11. Corrida contra o Destino (1971), de Richard C. Sarafian (DVDRip) (**1/2)
10. Léo e Bia (2010), de Oswaldo Montenegro (Cine XIV) (***)
9. Abutres (2010), de Pablo Trapero (Cinema do Museu) (***)
8. Videodrome (1983), de David Cronenberg (DVDRip) (***)
7. Bravura Indômita (2010), dos irmãos Coen (Cinemark) (***)
6. A Hora do Pesadelo (1984), de Wes Craven (DVDRip) (***1/2)
5. Scanners (1981), de David Cronenberg (DVDRip) (***1/2)
4. A Ponte das Artes (2004), de Eugène Green (DVDRip) (***1/2)
3. Tiros em Columbine (2002), de Michael Moore (DVDRip) (****)
2. Faces (1968), de John Cassavetes (DVDRip) (****1/2)
1. Persona (1966), de Ingmar Bergman (DVD) (*****)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Léo e Bia



No final de Léo e Bia (idem/ Brasil, 2010) de Oswaldo Montenegro, fiquei com a impressão de ter assistido ao filme que não é de um cineasta, mas de um artista. Tem-se uma direção (longe de preguiçosa, mas irregular), que oscila entre o dar a cena ao atores e abusar de cortes e escolhas que complicam o ritmo e passam a impressão de alguém brincando em um meio com o qual não está acostumado (o que a princípio não é ruim, pelo contrário). Por outro lado, desde o início Montenegro deixa claro que, mais do que harmonizar ambos, ele parece querer explorar possibilidades do teatro e do cinema juntos.

Ele não diz “isto é cinema” ou “isto é teatro filmado”, mas nos faz crer que “isto é ficção”, graças à maneira como lida com o meio onde “estreia”.

Todavia, em alguns momentos (e creio que em especial um longo plano-sequência em que a maior parte da equipe interage com “Cachorrinha”, interpretada por Vitória Frate) ele recorre ao naturalismo de todo o muito bom elenco, de onde volta ao “isso é ficção” de maneira brusca. Ainda que o filme seja baseado em musical dele nos anos 80, em meio ao bombardeio de músicas e mudança de tom, essas quebras e estilizações deixam o todo tão pessoal quanto poluído.

Apesar dos poréns (e vamos incluir aí também o constrangedor auê que se faz ao diretor sugerir interpretar papel diante de ator gay – o que talvez seja um reflexo de uma sociedade atual mais preconceituosa e pudica que no grupo e na época em que o filme se passa), é inegável o tom honesto que transborda da tela.

Como diz Andrea Ormond aqui “amar o teatro, reagir como Léo (Emílio Dantas) e escrever uma peça depois de censurado, ou virar hippie de boutique com todo o conforto, são tentações maravilhosas”. O adendo é que Montenegro, além de um filme irregular e de ideais de fácil identificação utópica, consegue nos deixar claro que o filme é uma experiência única, bem pessoal.

Nos últimos anos, quantos filmes nacionais, de apelo relativamente popular, passam essa sensação?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cisne Negro



Após a sessão de Cisne Negro (Black Swan – EUA), fiquei com a impressão de que O Lutador (2008), sobre o qual escrevi aqui, parece menos uma mudança de rumo que uma exceção na carreira de Darren Aronofsky. Voltamos a ter personagens castigados e sofridos, de quem a câmera quase nunca se afasta, mas as semelhanças no lidar com eles não vão muito além. Infelizmente.

Aronofsky filma ainda mais próximo do foco, agora a bailarina Nina Sayers, na outra vez ótima Natalie Portman, em quase todos os planos do filme. Mas essa direção que beira a claustrofobia não se traduz em um aumento de empatia ou de busca por uma maior expressividade da protagonista. Nem parece que isso foi tentado, aliás.

O uso da câmera atrás e bem próxima, se por um lado pode ajudar na manutenção do público sempre grudado à personagem, por outro deixa recurso com aparência excessiva. Além dela, o uso de pouca luz, de fortes imagens em planos fechados, os rápidos movimentos de câmera, o abuso da trilha sonora, tudo parece querer o aumento da tensão, o que de fato é obtido às vezes. O problema é que Aronofsky dilui o que poderíamos deduzir, ou pelo menos tentar, na maior parte do tempo. Nessas horas ele parece voltar a Réquiem para um Sonho (2000), do qual até gosto, mas no que aquele tem de pior. Vemos, novamente, muitas imagens e sons que parecem querer justificar sua existência na base do excesso (pode-se falar em afetação), seja de uma pretensa força, seja do volume.

O porém é que, na mescla entre o chocar, ser sensível, ter o suspense como ritmo e imagens de horror, o filme se perde. Aronofsky tem coragem ao misturar tudo e investir tanto no lado do pesadelo, e é feliz em alguns momentos, auxiliados por um elenco e música de qualidade. Só não me soou suficiente, nem próximo do que de melhor ele tem.

Visto no Espaço Unibanco/Cine Glauber – Salvador, fevereiro de 2011.

Ps: Às 16h de uma terça-feira, a sala - com capacidade para 197 pessoas - estava quase lotada.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Janeiro

Janeiro marcou o fim do contrato com o Tô Frito, assim como a dedicação quase diária e exclusiva à decupagem e montagem de Nunca mais vou filmarhttp://nuncamaisvoufilmar.blogspot.com.

Até o dia 26, foram apenas dez filmes, em meio ao início da quarta temporada de Californication (muito boa até aqui), e da surpresa positiva que se mostrou a Clandestinos – só vi agora. Também comecei a ver Mad Men, serie que tem um cuidado com a mise-en-scène que falta à maioria dos filmes do cinemão.

Tivemos ainda a estreia, pelo menos aqui em Salvador, de Machete (2010), para mim o melhor filme de Robert Rodriguez, assim como de Tetro (2009), a prova desnecessária de que Coppola filma como pouquíssimos, mesmo quando escrita está (talvez bem) abaixo.

Que fevereiro seja tão bacana quanto, ou um pouco melhor, vá lá.

Janeiro:
0. Chicago (2002), de Rob Marshall (DVD) (**1/2) (Último filme de 2010)
1. Darkened Room (2002), de David Lynch (DVDRip) (**1/2) (curta)
2. A Outra (1988), de Woody Allen (DVDRip) (**1/2)
3. A Noite do Demônio (1957), de Jacques Torneur (DVD – sala Alexandre Robatto) (**1/2)
4. Mal dos trópicos (2004), de Apichatpong Weerasethakul (DVDRip) (**1/2)
5. Crônicas de um Amor Louco (1981), de Marco Ferreri (DVDRip) (**1/2)
6. Tudo que o Céu Permite (1955), de Douglas Sirk (***) (DVDRip)
7. Moscou, Bélgica (2008), de Christophe Van Rompaey (Cine Vivo) (***)
8. O Concerto (2009), de Radu Mihaileanu (Cine Vivo) (***)
9. Além da Vida (2010), de Clint Eastwood (Cabine de imprensa – Multiplex Iguatemi) (***)
10. Estrada Perdida (1997), de David Lynch (DVDRip) (***1/2)
11. Sombras (1959), de John Cassavetes (DVDRip) (***1/2)
12. Machete (2010), de Robert Rodrigueze e Ethan Maniquis (Cinema da Ufba) (***1/2)
13. Tetro (2009), de Francis Ford Coppola (UCI Orient Multiplex Iguatemi) (***1/2)
14. Viver a Vida (1962), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (****)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Top-2010

Hoje vão três Top-10.

O primeiro reúne filmes de 2010 de acordo com o IMDB, o segundo os melhores vistos no cinema no ano que passou, independente do ano de lançamento, e o terceiro é uma mistura dos dois.

Nas três listas, bom frisar, conto apenas filmes vistos em película ou cópia digital que não DVD. Com isso, só para ficar em exemplos exibidos no cinema e que entrariam na lista, ficam de fora Os Incompreendidos (1959), Batalha no Céu (2005) e Antes do Pôr-do-Sol (2004).

Bateram na trave Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague (2010), Vincere (2009), O que resta do tempo (2009) e A Fuga da Mulher Gorila (2009). Não necessariamente nessa ordem.

Lançados em 2010:
10. Toy Story 3, de Lee Unkrich
9. Você vai conhecer o homem dos seus sonhos, de Woody Allen
8. A Sétima Alma, de Wes Craven
7. A Rede Social, de David Fincher
6. Cabeça a Prêmio, de Marco Ricca
5. Senna, de Asif Kapadia
4. Os Mercenários, de Sylvester Stallone
3. Tropa de Elite 2, de José Padilha
2. Ilha do Medo, de Martin Scorsese
1. O Escritor Fantasma, de Roman Polanski

Ps: O IMDB trata Cabeça a Prêmio como 2009, mas não vou mudar a lista por isso.

Lançados até 2009:
10.Coco Chanel e Igor Stravinsky (2009), de Jan Kounen
9. O Profeta (2009), de Jacques Audiard
8. Onde vivem os monstros (2009), de Spike Jonze
7. Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano (2009), de Henrique Dantas
6. Zumbilândia (2009), de Ruben Fleischer
5. A Religiosa Portuguesa (2009), de Eugène Green
4. Sem Teto Nem Lei (1985), de Agnès Varda
3. Mother – A Busca pela Verdade (2009),
2. Vício Frenético (2009), de Werner Herzog
1. À Prova de Morte (2007), de Quentin Tarantino

Geral:
10. Senna (2010), de Asif Kapadia
9. Os Mercenários (2010), de Sylvester Stallone
8. A Religiosa Portuguesa (2009), de Eugène Green
7. Sem Teto Nem Lei (1985), de Agnès Varda
6. Mother – A Busca pela Verdade (2009)
5. Vício Frenético (2009), de Werner Herzog
4. Tropa de Elite 2 (2010), de José Padilha
3. Ilha do Medo (2010), de Martin Scorsese
2. O Escritor Fantasma (2010), de Roman Polanski
1. À Prova de Morte (2007), de Quentin Tarantino