Depois de vê-lo, me parece menos relevante se o mais forte é o gosto de homenagem ou de pastiche, de nostalgia ou de paródia. Lógico que um filme quase totalmente mudo e com imagem quadrada remete a clássicos sacralizados da primeira metade do século passado, mas O Artista, como todos os familiares que assumidamente bebem de fontes anteriores, é um filme único e deve funcionar como tal. Funciona? A pergunta nem sempre é simples, mas o filme o é, e talvez aí esteja sua graça.
Não sendo uma obra-prima do melodrama, da comédia ou do romance (onde o é mais falho), o maior diferencial está no carisma e na presença de protagonistas (a ótima Bérénice Bejo e o ainda melhor Jean Dujardin, além do simpático cachorro) ao encarnarem gêneros, assim como no encaixe de momentos inspirados.
Para não falar da saída-redenção, do pesadelo sonoro, ou do “bang”, vamos à primeira parte: o (re)conhecimento do sapateado e, principalmente, a “auto-carícia”, talvez a imagem mais bonita de todo o filme, cuja fotografia abusa da beleza. E apesar de um ou outro momento arrastado, temos uma essência que carrega emoção sem pudores, mas também sem constranger.
O rabugento pode dizer que, se fosse feito no período em que se passa, ou até um pouco depois, O Artista passaria despercebido. Talvez, mas ele não foi feito nos anos 30. Ainda assim, pode levar um ou outro a perder parte do preconceito com outros filmes mudos, o que não é pouco. E o que importa, sua hora e quarenta de projeção e o que fica dela, até agora me soam bem dignas.
* Coluna originalmente publicada aqui.