domingo, 26 de fevereiro de 2012

O filme é um só*

O prêmio de melhor ator e a boa recepção em Cannes fizeram muita gente bacana se interessar por e escrever sobre O Artista (2011), de Michel Hazanavicius, enquanto o Oscar fez ou vai fazer mais gente assistir.

Depois de vê-lo, me parece menos relevante se o mais forte é o gosto de homenagem ou de pastiche, de nostalgia ou de paródia. Lógico que um filme quase totalmente mudo e com imagem quadrada remete a clássicos sacralizados da primeira metade do século passado, mas O Artista, como todos os familiares que assumidamente bebem de fontes anteriores, é um filme único e deve funcionar como tal. Funciona? A pergunta nem sempre é simples, mas o filme o é, e talvez aí esteja sua graça.

Não sendo uma obra-prima do melodrama, da comédia ou do romance (onde o é mais falho), o maior diferencial está no carisma e na presença de protagonistas (a ótima Bérénice Bejo e o ainda melhor Jean Dujardin, além do simpático cachorro) ao encarnarem gêneros, assim como no encaixe de momentos inspirados.

Para não falar da saída-redenção, do pesadelo sonoro, ou do “bang”, vamos à primeira parte: o (re)conhecimento do sapateado e, principalmente, a “auto-carícia”, talvez a imagem mais bonita de todo o filme, cuja fotografia abusa da beleza. E apesar de um ou outro momento arrastado, temos uma essência que carrega emoção sem pudores, mas também sem constranger.

O rabugento pode dizer que, se fosse feito no período em que se passa, ou até um pouco depois, O Artista passaria despercebido. Talvez, mas ele não foi feito nos anos 30. Ainda assim, pode levar um ou outro a perder parte do preconceito com outros filmes mudos, o que não é pouco. E o que importa, sua hora e quarenta de projeção e o que fica dela, até agora me soam bem dignas.

* Coluna originalmente publicada aqui.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A força dos "chatos"*

Rever Na Cidade de Sylvia (2007) e Brown Bunny (2003) na mesma semana me fez pensar sobre filmes “chatos”.

No primeiro, temos basicamente um homem olhando mulheres em busca de apenas uma, no outro acompanhamos um motoqueiro que pouco corre. Nos dois casos, a ação é pouca, fala-se menos ainda.

O que eles fazem, entre outras coisas, é usar o que o cinema tem mais de exclusivo (a imagem por uma câmera) para criar uma sensação dificilmente atingida se a hipotética monotonia fosse diminuída, se o filme fosse reduzido a um média-metragem.

Graças à meia-hora de olhares, me parece inevitável a angústia quando o personagem principal se perde em Na Cidade de Sylvia, me parece impossível não crer na sua tendência voyeur, na miragem que ele enxerga mais adiante. Isso para não falar no tesão que José Luis Guerín tem pela câmera e pelas mulheres, contagiante para quem simpatize com a beleza que as duas podem mostrar.

Falando nelas, em Brown Bunny temos o famigerado explícito sexo oral. Mas ele vem após Bud Clay (Vincent Gallo, diretor, protagonista e na época namorado da atriz Chloë Sevigny) pouco fazer além de transbordar melancolia e carência. É redundante, sim. Mas como tornar um sexo explícito em algo realmente invulgar e aflitivo, sem mostrar tudo que o precede, toda depressão presente naquele quarto?

Desconfio que, depois de ver Brown Bunny, a primeira transa de muitos soe triste. Nenhuma decepção verdadeira dura cinco ou dez minutos e é esquecida. Dessas todo mundo deve ter diariamente. Uma angústia como a de The Brown Bunny, não.

Da mesma maneira, o rosto de uma mulher pode ter força o suficiente para levar à alucinação. Mesmo em um voyeur, ou principalmente nele, que se resume a olhar outras tantas que são iguais a ela só até certo ponto.

Quatro anos se passaram, a figura dela não. A vida segue, mas a imagem e a lembrança ficam. Ah, se toda chatice fosse assim...

* Coluna originalmente publicada aqui.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Janeiro

Mês bom. Em breve texto sobre chatice, entre outras coisas.

14. Corrida Sem Fim (1971), de Monte Hellman (DVDRip) (**1/2)
13. China Girl (1987), de Abel Ferrara (DVDRip) (**1/2)
12. Irmãs Diabólicas (1973), de Brian de Palma (**1/2)
11. Tiros na Broaway (1994), de Woody Allen (**1/2)
10. L’Appolonide – Os Amores da Casa de Tolerância (2011), de Bertrand Bonello (Cinema do Museu) (***)
9. Bukowski – Born Into This (2003), de John Dullaghan (DVDRip) (***1/2)
8. Adeus, Primeiro Amor (2011), de Mia Hansen Løve (Cine Vivo) (***1/2)
7. Shine a Light (2008), de Martin Scorsese (DVDRip) (***1/2)
6. The Brown Bunny (2003), de Vincent Gallo (DVDRip) (***1/2)
5. Faça-me Feliz (2009), de Emmanuel Mouret (Cinema da Ufba) (***1/2)
4. Buffalo 66 (1998), de Vincent Gallo (DVDRip) (***1/2)
3. Cavalo de Guerra (2011), de Steven Spielberg (Cinemark) (****)
2. Na Cidade de Sylvia (2007), de José Luis Guerín (DVDRip) (****)
1. Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano com Martin Scorsese (1995), de Martin Scorsese e Michael Henry Wilson (DVDRip) (*****)