Com ajuda de elenco e roteiro afinados quando o propósito é o humor e o escapismo, dá para dizer que Sombras da Noite (Dark Shadows – EUA, 2012) é um dos mais divertidos trabalhos que Tim Burton fez nos últimos anos.
Permanece certo esmero
para dirigir e enquadrar que ele sempre teve, mas com trilha sonora não
original em diálogo mais direto com o ritmo e a fantasia ali criados. No que
isso tem de elogioso, dá para falar de um Tim Burton “tarantinizado”.
Existe um universo à
parte que fica claro logo em apresentação que precede os créditos, quando vemos
um suicídio não consumado nos gritar que aquilo é ficção. A partir dali, fica
mais fácil acreditar em um homem que dorme em 1780 e acorda em 1972, assim como
rir das situações estranhas que um parar no tempo pode fazer.
O humor é
inteligente e os trejeitos de Johnny Depp (Barnabas Collins) se repetem, mas funcionam
melhor aqui. Sombras da Noite pode tratar
de família, de amor e da impossibilidade do eterno sucesso nelas, mas brilha é como
uma comédia.
Mefistófeles, o
McDonalds, os Carpenters, o primeiro encontro com carro, os diálogos de uma
maneira geral, são gags hilárias ou
criativas, pelo menos. O porém é que Burton parece querer acrescentar aí uma
beleza triste presente num Edward Mãos de
Tesoura, onde também existe a incapacidade de estar com quem se ama, mas
onde essa questão afetiva era tão forte quanto a fantasia, e fluía com
naturalidade que falta aqui (e mais adiante, quando temos a revelação de
personalidade de um dos Collins).
Não sei qual era a
prioridade da série original (1966-71), mas essa tentativa de diferentes tons
não ajuda o resultado de Burton, com desfecho também pouco feliz. No entanto,
soa inevitável para um filme tão caro.
Problemas à parte,
ficam o humor e os encaixes iluminados de imagens com sons, o que são sempre
bem-vindos.
Visto em cabine de imprensa no Multiplex Iguatemi – Salvador, 19 de junho de 2012.
* Originalmente publicado aqui.