sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Léo e Bia



No final de Léo e Bia (idem/ Brasil, 2010) de Oswaldo Montenegro, fiquei com a impressão de ter assistido ao filme que não é de um cineasta, mas de um artista. Tem-se uma direção (longe de preguiçosa, mas irregular), que oscila entre o dar a cena ao atores e abusar de cortes e escolhas que complicam o ritmo e passam a impressão de alguém brincando em um meio com o qual não está acostumado (o que a princípio não é ruim, pelo contrário). Por outro lado, desde o início Montenegro deixa claro que, mais do que harmonizar ambos, ele parece querer explorar possibilidades do teatro e do cinema juntos.

Ele não diz “isto é cinema” ou “isto é teatro filmado”, mas nos faz crer que “isto é ficção”, graças à maneira como lida com o meio onde “estreia”.

Todavia, em alguns momentos (e creio que em especial um longo plano-sequência em que a maior parte da equipe interage com “Cachorrinha”, interpretada por Vitória Frate) ele recorre ao naturalismo de todo o muito bom elenco, de onde volta ao “isso é ficção” de maneira brusca. Ainda que o filme seja baseado em musical dele nos anos 80, em meio ao bombardeio de músicas e mudança de tom, essas quebras e estilizações deixam o todo tão pessoal quanto poluído.

Apesar dos poréns (e vamos incluir aí também o constrangedor auê que se faz ao diretor sugerir interpretar papel diante de ator gay – o que talvez seja um reflexo de uma sociedade atual mais preconceituosa e pudica que no grupo e na época em que o filme se passa), é inegável o tom honesto que transborda da tela.

Como diz Andrea Ormond aqui “amar o teatro, reagir como Léo (Emílio Dantas) e escrever uma peça depois de censurado, ou virar hippie de boutique com todo o conforto, são tentações maravilhosas”. O adendo é que Montenegro, além de um filme irregular e de ideais de fácil identificação utópica, consegue nos deixar claro que o filme é uma experiência única, bem pessoal.

Nos últimos anos, quantos filmes nacionais, de apelo relativamente popular, passam essa sensação?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cisne Negro



Após a sessão de Cisne Negro (Black Swan – EUA), fiquei com a impressão de que O Lutador (2008), sobre o qual escrevi aqui, parece menos uma mudança de rumo que uma exceção na carreira de Darren Aronofsky. Voltamos a ter personagens castigados e sofridos, de quem a câmera quase nunca se afasta, mas as semelhanças no lidar com eles não vão muito além. Infelizmente.

Aronofsky filma ainda mais próximo do foco, agora a bailarina Nina Sayers, na outra vez ótima Natalie Portman, em quase todos os planos do filme. Mas essa direção que beira a claustrofobia não se traduz em um aumento de empatia ou de busca por uma maior expressividade da protagonista. Nem parece que isso foi tentado, aliás.

O uso da câmera atrás e bem próxima, se por um lado pode ajudar na manutenção do público sempre grudado à personagem, por outro deixa recurso com aparência excessiva. Além dela, o uso de pouca luz, de fortes imagens em planos fechados, os rápidos movimentos de câmera, o abuso da trilha sonora, tudo parece querer o aumento da tensão, o que de fato é obtido às vezes. O problema é que Aronofsky dilui o que poderíamos deduzir, ou pelo menos tentar, na maior parte do tempo. Nessas horas ele parece voltar a Réquiem para um Sonho (2000), do qual até gosto, mas no que aquele tem de pior. Vemos, novamente, muitas imagens e sons que parecem querer justificar sua existência na base do excesso (pode-se falar em afetação), seja de uma pretensa força, seja do volume.

O porém é que, na mescla entre o chocar, ser sensível, ter o suspense como ritmo e imagens de horror, o filme se perde. Aronofsky tem coragem ao misturar tudo e investir tanto no lado do pesadelo, e é feliz em alguns momentos, auxiliados por um elenco e música de qualidade. Só não me soou suficiente, nem próximo do que de melhor ele tem.

Visto no Espaço Unibanco/Cine Glauber – Salvador, fevereiro de 2011.

Ps: Às 16h de uma terça-feira, a sala - com capacidade para 197 pessoas - estava quase lotada.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Janeiro

Janeiro marcou o fim do contrato com o Tô Frito, assim como a dedicação quase diária e exclusiva à decupagem e montagem de Nunca mais vou filmarhttp://nuncamaisvoufilmar.blogspot.com.

Até o dia 26, foram apenas dez filmes, em meio ao início da quarta temporada de Californication (muito boa até aqui), e da surpresa positiva que se mostrou a Clandestinos – só vi agora. Também comecei a ver Mad Men, serie que tem um cuidado com a mise-en-scène que falta à maioria dos filmes do cinemão.

Tivemos ainda a estreia, pelo menos aqui em Salvador, de Machete (2010), para mim o melhor filme de Robert Rodriguez, assim como de Tetro (2009), a prova desnecessária de que Coppola filma como pouquíssimos, mesmo quando escrita está (talvez bem) abaixo.

Que fevereiro seja tão bacana quanto, ou um pouco melhor, vá lá.

Janeiro:
0. Chicago (2002), de Rob Marshall (DVD) (**1/2) (Último filme de 2010)
1. Darkened Room (2002), de David Lynch (DVDRip) (**1/2) (curta)
2. A Outra (1988), de Woody Allen (DVDRip) (**1/2)
3. A Noite do Demônio (1957), de Jacques Torneur (DVD – sala Alexandre Robatto) (**1/2)
4. Mal dos trópicos (2004), de Apichatpong Weerasethakul (DVDRip) (**1/2)
5. Crônicas de um Amor Louco (1981), de Marco Ferreri (DVDRip) (**1/2)
6. Tudo que o Céu Permite (1955), de Douglas Sirk (***) (DVDRip)
7. Moscou, Bélgica (2008), de Christophe Van Rompaey (Cine Vivo) (***)
8. O Concerto (2009), de Radu Mihaileanu (Cine Vivo) (***)
9. Além da Vida (2010), de Clint Eastwood (Cabine de imprensa – Multiplex Iguatemi) (***)
10. Estrada Perdida (1997), de David Lynch (DVDRip) (***1/2)
11. Sombras (1959), de John Cassavetes (DVDRip) (***1/2)
12. Machete (2010), de Robert Rodrigueze e Ethan Maniquis (Cinema da Ufba) (***1/2)
13. Tetro (2009), de Francis Ford Coppola (UCI Orient Multiplex Iguatemi) (***1/2)
14. Viver a Vida (1962), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (****)