segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Metal: a headbanger's journey



Um sonho headbanger

Tenho tido algum tempo livre, até pelas férias do jornal e da faculdade (mesmo que somente por essa semana), mas ainda assim me sinto tão útil e produtivo como o apêndice em cada um de nós. Isso até hoje, quando vi o Metal: A Headbanger’s Journey (Metal: A Headbanger’s Journey, CAN, 2005), que me ajudou a espantar a preguiça e a criar coragem pra escrever alguma coisa. Antes de ir pro texto, no entanto, vale salientar que isso aqui é direcionado a quem ama ou, no mínimo, quer saber sobre o gênero. Se você é um daqueles (com genes de Einstein e Mozart) que acredita na imagem estereotipada de metal passada por vovô ou por seus amiguinhos indies auto-suficientes, e/ou não vê como mudar de idéia sobre o assunto, não perca seu tempo. Nem vendo o filme nem lendo esse texto. Recado dado, vamos lá.

Quem dirige, narra e até certo ponto estrela o filme é Sam Dunn (que tem Scott McFadyen e Jessica Joy Wise como co-diretores), que trabalha basicamente com um documentário de conversa, à la Eduardo Coutinho. Dunn é também um headbanger convicto, que se apresenta e diz que tinha 12 anos em 1986, ano que ele cita como o auge de popularidade do metal. Esse amor ao assunto já dá ao resultado algo minimamente honesto, de alguém com conhecimento de causa e apaixonado pelo que está fazendo. Ou seja, o enfoque aqui é muito mais no conteúdo do que na estilização.

Conteúdo, aliás, excepcional. O acervo de imagens de arquivo, a quantidade de entrevistas e a seleção de entrevistados é um fenomenal pra quem gosta do tema – vemos Bruce Dickinson, Dio, Dee Snider, Alice Cooper, Tony Iommi e mais trocentas e vinte e sete pessoas que muitos de nós gostaríamos de conhecer/conversar. Com esse material e em pouco menos de 100 minutos, Dunn tenta, entre outras coisas, quebrar os estereótipos (o que ele frisa, no início e no fim, ser sua principal intenção) ligados ao metal. Destaque especial para a genealogia que ele criou para o gênero, o que sempre vai gerar controvérsia, mas que aqui é convincente. Fora ela (um dos pontos mais altos de tudo que é apresentado), ele leva o filme num formato não muito inventivo, mas assaz didático e informativo. Trata das origens, de influências, do visual, das mulheres (e da falta delas), do mítico símbolo do “chifre-do-diabo”, e da ligação do gênero com o satanismo, suicídios, homicídios e coisas do tipo.

Dunn é bem minucioso em assuntos polêmicos e que envolvem infinitos mitos, mas consegue saber a hora de parar um tema e partir pra outro, sem deixar o filme repetitivo e dando tempo pra se respirar. Metal... tem conteúdo e ritmo, passa rápido. De brinde, ainda vemos um Dee Snider (Twisted Sister) que parece, 20 anos depois, estar com a voz de Al Pacino.

Em meio a tantos pontos positivos, o filme parece falhar ao, vez ou outra, ainda repetir alguns clichês e estereótipos ligados ao mundo em questão. Talvez por ele achar que eles são de fato alguns que refletem a realidade headbanger, mas ver Vince Neil (Motley Crue), por exemplo, falar que "sexo, drogas e rock n' roll pode ser também um trabalho" soa como discurso preguiçoso e repetitivo não bem vindo pra o filme. De qualquer maneira, ainda assim, Metal... é definitivamente uma excelente pedida para os outsiders que se interessem pelo tema.

Visto no computador – 28 de fevereiro de 2008