segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Bolha blindada*


A sensação de estranheza com Cosmópolis (Cosmopolis – Canadá/ França/ Portugal/ Itália, 2012) me parece vir não só do retorno de David Cronenberg a ela.

Primeiro, a decepção inicial de vê-lo depois de assistir a trailer que traz a lembrança de alguns de seus filmes mais vigorosos. Se formos para um sentido mais hollywodiano do termo, a ação do filme pode ser resumida no minuto e meio de vídeo promocional.

Em compensação, não dá para dizer que Cosmópolis é irmão de Um Método Perigoso (2011), o último trabalho de Cronenberg, nem que é um filho bastardo de Crash – Estranhos Prazeres (1996), onde ele mistura tão bem personagens misteriosos com sexo e tecnologia, um rumo que o trailer nos faz crer possível para este aqui.

Dessa vez o foco está numa crise pessoal de Eric Packer (Robert Pattinson), alguém que precisa empobrecer se quiser ficar bilionário, mas longe de ser tratado como o pobre menino rico.

Dentro de limusines que enxerga como apartamentos, ele passa por esposa, amantes e empregados de forma assustadoramente impessoal. O tesão, a tecnologia e a violência, a trinca com a qual Cronenberg lida tão bem, influencia aqui de uma maneira diferente, especialmente se pensarmos na linha de Scanners (1981), Videodrome (1983), e Crash (1996).

O dinheiro e o isolamento aumentaram, enquanto o prazer, tão importante para os personagens quanto presente no filmar, foi diluído no capitalismo.

Afinal de contas, embora não seja um panfleto que coloca a ideologia acima do cinema, temos um filme político. Desde a visita do presidente dos EUA, que chega numa cidade onde a coleção de limusines não é para ele, até o longo diálogo final. Uma crítica que culmina em situação que parece ser a única maneira de, após fazer parte de uma segregação como essa, ainda se ter uma companhia.

Quando em perspectiva com os melhores momentos de Cronenberg, Cosmópolis tem menos energia. Mais importante que a narrativa, o caminho para cumprir a ordinária missão de cortar o cabelo é marcado pelo tédio que vemos no rosto de Pattinson, e a bolha dificulta até para quem assiste. Mas é impossível não reconhecer o poder claustrofóbico, asséptico, crítico e bem cuidado das imagens, talvez as características mais marcantes no personagem que o filme persegue.

* Visto em BDRip, 13 de Novembro de 2012. Texto disponível também no cinematotal/la.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dor e gozo sem limites*


A apresentação de Jean-Claude Brisseau a Coisas Secretas (Choses Secrètes, FRA, 2002) é simples.

Uma mulher nua, deitada na cama, aos poucos se levanta e caminha sobre um palco, onde logo depois começa a se masturbar. A câmera a acompanha até o momento em que mostra uma plateia e, ao fundo, uma atendente, que olha tudo e descobrimos ser a narradora do filme.

Finalizado o espetáculo, temos o princípio de amizade entre Nathalie (Coralie Revel), a stripper, e Sandrine (Sabrina Seyvecou), antes espectadora privilegiada, ambas postas para fora e que passam a morar juntas. A primeira é mais velha, segura e com ar professoral; a segunda é uma jovem que pouco sabe de orgasmos, mas que percebemos ser uma ótima aprendiz.

Uma visão limitada da primeira hora do filme pode fazê-lo parecer um manifesto feminista, mas ele deixa claro que vai para algo além do puro sexismo.

Se por um lado ele é pele e contato, ele também é sangue. Para Nathalie e Sandrine, os fins justificam os meios, mas esses meios envolvem relações afetivas, e as duas são feitas de carne e osso, diferente do que aparenta o contraponto do filme. Alguém cujo trauma na infância tenta explicar o que se tornou, um misantropo que parece formado apenas por caracteres, e que tem como prioridade o cruzamento da luxúria com a libertinagem. Mas sem prazer.

Verdade que os franceses parecem ter sensualidade e cinema impregnados no DNA, e que Brisseau (de 1944, meio herdeiro e meio responsável por essa herança) consegue estar acima da média de compatriotas e contemporâneos, mas as Coisas Secretas são mais sobre o que está por trás de toda essa libido.

Soa descartável início de narração em reencontro final, como às vezes pode soar excessivamente solene a trilha sonora, mas estamos diante de um universo onde nada é moderado.

Seja com o sexo ou com a dor, o que temos são sentimentos e sensações extremas, expostas através de corpos filmados com intensidade absurda. Formidável.

* Texto também disponível no blog do Cinema Total / LA.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Outubro

18. As Amazonas na Lua (1987), de vários diretores (DVDRip) (Incompleto)
17. This is Spinal Tap (1984), de Rob Reiner (BRRip) (**)
16. Salve-se quem puder (A Vida) (1980), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (**1/2)
15. Berlin Alexanderplatz – parte 5: Um ceifador com a violência de nosso senhor (1980), de Rainer Werner Fassbinder (DVDRip) (**1/2)
14. Os Olhos sem Rosto (1960), de Georges Franju (BRRip) (**1/2)
13. Metropolitan (1990), de Whit Stillman (DVDRip) (**1/2)
12. The Hot Spot (1990), de Dennis Hopper (DVDRip) (***)
11. Família Rodante (2004), de Pablo Trapero (DVDRip) (***)
10. Febre do Rato (2012), de Cláudio Assis (Auditório da Uesc – DVD) (***)
9. Mad Men S05E10 – Christmas Waltz (2012), de Michael Uppendahl (HDRip) (***)
8. Mad Men S05E09 – Dark Shadows (2012), de Scott Hornbacher (HDRip) (***1/2)
7. Mad Men S05E08 – Lady Lazarus (2012), de Phil Abraham (HDRip) (***1/2)
6. Casamento ou Luxo (1923), de Charles Chaplin (DVDRip) (***1/2)
5. Boneca de Carne (1956), de Elia Kazan (TVRip) (***1/2)
4. Senna – versão estendida (2010), de Asif Kapadia (BRRip) (***1/2)
3. Jules e Jim (1962), de François Truffaut (BRRip) (***1/2)
2. Mad Men S05E07 – At the Codfish Ball (2012), de Michael Uppendahl (HDRip) (****)
1. Era uma vez na América (1984), de Sergio Leone (BRRip) (****)