Logo no primeiro plano de Heleno (idem – Brasil, 2011), de José Henrique Fonseca, um personagem acabado nos leva a entender que esse não é o biofilme de um vencedor com final feliz. Na sequência, sua primeira atitude remete a decadência, ao passado e à proximidade da morte. Depois dela, os créditos iniciais.
Essa apresentação é um resumo do filme. Didática, bem filmada, com boa reconstrução de época, e com uma atuação soberba de Rodrigo Santoro. Só que sem alma, exatamente o oposto do que era o jogador e o homem ali mostrados.
Heleno de Freitas foi, nos anos 40, uma espécie de precursor do craque-problemático, personificado no Brasil dos anos 80 e 90 por gente como Renato Gaúcho e Edmundo. Entre esportistas no cinema, maior semelhança me parece o Jake La Motta de Touro Indomável, de quem lembrei desde imagem inicial, e com quem diálogo só aumenta na sequência estilizada dos murros na parede, quando recordação pouco ajuda. Especialmente porque, quando posto ao lado de Heleno, Touro Indomável parece um melodrama.
As idas e vindas no tempo soam como quebras que evitam a entrada definitiva no que vemos. O receio de se entregar ao personagem, ou pelo menos a uma das várias facetas dele, talvez seja o maior pecado do filme. Vemos Heleno fazer muito do que deu a ele fama e infâmia, dos gols e da idolatria até as mulheres e a sífilis, os vícios diversos e os ataques de raiva.
Heleno não é apenas isso, e o filme mostra que ele foi mais, o que é um mérito. A esposa, o companheiro de clube, a amante argentina são personagens que funcionam e ajudam na construção do homem. Mas a carreira, a vida e o fim dele dão à sua existência um tom que sempre exalou paixão. Que pouco vi, em meio à beleza e ao didatismo que transbordavam na tela.
* Coluna originalmente publicada aqui.
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