sexta-feira, 1 de abril de 2011

May



Dia desses Gorebahia me indicou May (idem – EUA, 2002), longa de estreia de Lucky Mckee, que me soou como uma talentosa esperança não apenas para o terror gore, mas para o gênero de uma maneira mais ampla. Primeiro porque Mckee tem algo para dizer além do puro exercício de direção e virtuosismo, e depois porque demonstra algum tino para comédia fora do mais óbvio padrão dela - seja lá o que isso signifique.

Para começar, pedaços de boneca a despencarem sobre fundo preto ao som de trilha que, sem passar a impressão de querer parecer, pode lembrar O Bebê de Rosemary (1968), mesclados com estilizada (e mais tarde “justificável”) apresentação de créditos. Eis aí uma apresentação de respeito, que é completada quando conhecemos a pequenina May, cujo "olho preguiçoso" leva-a a usar um tapa-olho que não facilita o relacionamento com os colegas.

A partir do primeiro momento em que vemos May adulta, até o final do filme, vivemos então uma jornada de terror, solidão e um perfeccionismo singular, para dizer o mínimo.

De incômodo, vem boa parte gore, que flerta com o realismo em quantidade e tempo o suficiente para me incomodar a vista, mas aí vem uma questão bem pessoal – há quem se contorça em Irrersível e Kill Bill, que me descem sem problema, ainda que com abordagens e propósitos distintos. Outro lado negativo é o relativo tempo gasto para solucionar algumas cenas que me pareceram longas demais, especialmente quando comparadas às melhores do filme. Além das já citadas apresentações de May criança e adulta, filme funciona com humor doente, e sacadas para momentos mais violentos são brilhantes, da “mão no rosto” até as “pernas bonitas” – para evitar spoiler.

Duas coisas, no entanto, me chamaram mais a atenção (spoiler). Primeiro perceber que o perfeito encaixe do final não soou como uma obsessão do roteiro, mas como um ponto de partida que resultou em história que soube prender e disfarçar enquanto possível. Já o último movimento do filme, mais do que uma suposta concessão feliz (além de violenta, cena me soa triste), não é apenas uma defesa da ficção, o que gêneros invariavelmente tendem a fazer, mas uma defesa da companhia da ficção – o que não é apenas louvável, como difícil de ser mostrado de maneira tão convincente.

Ps: Sobre filmes de março, tristeza maior é a distância de Salvador, o que leva a uma inevitável ausência do cinema. Isso à parte, curioso como Recife Frio (2009) me soou muito melhor na tela grande, mesmo sendo a princípio tão minimalista, do humor à ficção científica. Já Armadilha do Destino (1966), uma das lacunas de Polanski, me fez “torcer”, apesar do excelente Donald Pleasence, quase todo o momento por um close em Françoise Dorleac, para novamente perguntar: por que você morreu, hein?!

Filmes de março:
13. Um Sonho de Liberdade (1994), de Frank Darabont (DVD) (**1/2)
12. A Loja da Esquina (1940), de Ernst Lubitsch (DVDRip) (**1/2)
11. Trovão Tropical (2008), de Ben Stiller (DVD) (***)
10. Os Infiltrados (2006), de Martin Scorsese (DVD) (***)
9. À ma soeur (2001), de Catherine Breillat (DVDRip) (***)
8. Gangues de Nova York (2002), de Martin Scorsese (DVD) (***)
7. Os Matadores (1997), de Beto Brant (DVDRip) (***)
6. Senhores do Crime (2007), de David Cronenberg (DVD) (***1/2)
5. Armadilha do Destino (1966), de Roman Polanski (DVDRip) (***1/2)
4. May (2002), de Lucky Mckee (DVDRip) (***1/2)
3. Tropa de Elite 2 (2010), de José Padilha (DVD) (****)
2. Recife Frio (2009), de Kleber Mendonça Filho (DVD) (curta) (****)
1. No Tempo das Diligências (1939), de John Ford (DVDRip) (hc)

2 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

O que achou de A LOJA DA ESQUINA? Lubstich é um mestre inimitável.
Abração. Vou aparecer por aí na Semana Santa.

www.ofalcaomaltes.blogspot.com

- Creio que vai gostar do meu novo post sobre Pauline Kael.

Leandro Afonso Guimarães disse...

Antonio, me interessei mais por A LOJA DA ESQUINA depois de um post seu sobre Lubitsch, mas confesso que filme não bateu. É bem dirigido, mas lance noir e (SPOILER!) "luta" pelo conter-se diante do querido (que só nós sabemos) soou bem conduzida, mas me cansou. De qualquer jeito, lembro de detalhes do filme, o que já é alguma coisa.