quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O que nos une*

Apesar do que muitos podem alegar, Balada do Amor e do Ódio (Balada Triste de Trompeta – Espanha/França, 2011), de Álex de la Iglesia, não me soou sub-Tarantino. Direta ou indireta, alguma influência existe, mas enquanto QT é herdeiro direto de Sergio Leone e Brian de Palma, com prioridade por câmera e mise-en-scène, Iglesia parece, com pitadas do burlesco e do grotesco, buscar algo mais orgânico.

Não é só uma questão de fazer a câmera respirar, coisa que às vezes ela faz demais, e em ritmo de cortes que pode soar excessivo nas primeiras partes do filme. Seu tesão por história é maior que a fé numa decupagem perfeita, exceção feita à sequência do Valle de los Caídos, que soa como a prole de Hitchcock com a computação gráfica do século XXI. Mas, ela à parte, Iglesia se liga menos à câmera que à alma dos que estão no filme.

Os palhaços no cinema são, no geral, historicamente caricatos e ligados a gêneros específicos, principalmente terror e comédia. E a apresentação de quase todos aqui nos leva a crer que, afunilando os protagonistas, de fato assistimos a um palhaço sorridente e vilão (Antonio de la Torre) contra um palhaço triste que tende a ser herói (Carlos Areces). Mas a situação não é simples assim, e poucas vezes uma tradução infiel foi tão feliz.

Se no início Iglesia deixa claro um motivo para a tristeza e a vingança, depois ele mostra ódio e amor sem psicologizá-los. No triângulo amoroso, completado pela bela do circo (Carolina Bang), ele dá vazão para que sintam extremos sem moderação, cada um à sua maneira, e em seu “objeto” de admiração ou repulsa. Sua secura ao filmar violência ainda prova que, pelo menos aqui, a dor física de quem é bom não difere da de quem é mau. Não existe espaço para frescuras.

Quando o palhaço diz à sua bela que “a morte une todos nós”, ele poderia resumir tudo, mas o filme vai além em seguida, na última sequência. Ao vermos só dois lados do triângulo, naquele estado, Iglesia parece dizer que a arte (de fazer rir e de fazer chorar), o amor e alegria, o ódio e a tristeza, também têm o mesmo efeito.

* Texto originalmente publicado no Pixelando Online.

2 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

Vou procurar vê-lo, Leo. Gosto do La Iglesia. "A Comunidade" é uma comédia das melhores.

O Falcão Maltês

Unknown disse...

talvez o tesão por geografia local seja a maior semelhança do filme com 'A Comunidade', Antonio. por outro lado, vi gente que também gosta de La Iglesia taxar o 'Balada...' como o pior de sua carreira.