segunda-feira, 23 de maio de 2011

Glauber e Joe

Até agora foram apenas cinco filmes em maio. Outra mudança a conta-gotas e período de início de trabalho se juntam à ausência do DVD para esculhambar tudo. Lado positivo é que apenas Lope (2010), de Andrucha Waddington, pareceu realmente descartável – apesar da sempre ótima Pilar López de Ayala (Na Cidade de Sylvia).

As coisas mais relevantes – e não necessariamente melhores – foram o Tio Boonmee que pode recordar de suas vidas passadas (2010), de Apichatpong Weerasethakul, e O Leão de Sete Cabeças (1970), de Glauber Rocha. Aqui é válido o clichê de que não são filmes, mas experiências.

Cheguei a cochilar no caso de “Joe”, e complexidade de Glauber pode levar ao desinteresse (fio narrativo é menos forte que sequências) mas – apesar dos quarenta anos que separam os filmes – é monumental a crença no meio que usam. Neles, a imagem e o som geralmente soam mais importantes que história que contam. Ainda que talvez não saiba resumir caminho que trilham, carregarei para sempre imagens de ambos.

(Spoilers!) As apresentação do e as imagens dos homens-macacos e seus olhos vermelhos, e a “aparição” em Tio Boonmee, assim como a abertura de O Leão e a cena em que Hugo Carvana cumprimenta um por um os africanos antes de fuzilá-los, em fila, já bateram o carimbo. (Fim de spoilers.)

Neste último plano, como acontece em boa parte de muitos dos filmes de Glauber, temos um diretor que defendia “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, mas que calculava e pensava movimentos e atores. Mesmo dentro do caos que emana de seus filmes, em uma palavra, ele se importava com a mise-en-scène. Muita gente adora dizer que está seguindo conselho dele, mas – para nem falar em talento – maioria não tem nem o cuidado nem o tesão de filmar que ele tinha.

2 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

Concordo com vc em relação os filmes de Glauber e Apichatpong Weerasethakul: são experiências.

O Falcão Maltês

Rafael Carvalho disse...

Também acho que ambos os filmes estejam no campo da experiência audiovisual, mas é possível pescar um fio narrativo que conduz as histórias. Se em Glauber essa sensorialidade está a serviço da alegoria, em Joe está a serviço da atmosfera transcendental, ambos confiando na força das imagens.

O Leão não se revela tão genial quanto os principais filmes de Glauber, de início de carreira, mas me agradou mais do que aqueles em que a narrativa é mais fragmentada, como Claro e Idade da Terra.

E embora esse filme do Joe seja bastante festejado, gosto bem mais de Mal dos Trópicos, mas possui seus interesses. As aparições do macaco fantasma são bizarras.