sábado, 16 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes*



Obsessão pela modernidade

Em seus dois primeiros longas – Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) e Snatch – Porcos e Diamantes (2000) –, Guy Ritchie conseguiu despertar alguma curiosidade como alguém com um diferencial dentro da explosão de adeptos da geração MTV. Mais de dez anos depois, contudo, ele consegue a incrível e infeliz façanha de, reiterando e – teoricamente aprimorando – algumas de suas características como diretor, fazer provavelmente o seu pior filme: Sherlock Holmes (idem – EUA, 2008).

Em todo o tempo, Guy Ritchie dá indícios de que não acredita em ninguém. Robert Downey Jr., com um carisma sem igual para personagens excêntricos e enigmáticos (como Holmes), nunca tem tempo de tela suficiente; as gags do roteiro são tão apressadas que, se comparadas aos geralmente picotados sitcom’s da atualidade, fazem estes últimos parecerem arrastados filmes mudos; e as sacadas de Holmes, de tão explicitadas, se transformam em simples explicações, que conseguem o feito de ser didáticas (por explicar tim-tim por tim-tim) e, ao mesmo tempo, confusas – pela rapidez e pelo fato de aparecerem a todo momento.

Como se não bastasse a mania de explicar e acelerar tudo, temos uma história que funciona bem até ligada no piloto automático sem, aqui, o que de melhor é inerente a ela – o mistério e o poder da sugestão. Guy Ritchie satisfaz aquele que quer dizer que Holmes é inteligente (mesmo que não faça ideia do que está vendo), mas não o outro que prefere perceber por si só essa inteligência.

Com 42 anos ainda incompletos, Guy Ritchie é um exemplo de cineasta jovem e já preso ao passado de sua formação – ou pelo menos a que chega na tela. Com seus recursos fáceis e os vícios cada vez mais específicos de sua época que de sua pessoa, ele consegue deixar sua marca cada vez mais forte: a de uma cineasta eternamente “jovem” – e bobo.

Ps: Terminada a cabine de imprensa, as duas pessoas com quem falei sobre o filme estavam bem felizes com o que viram. Até que tentei (embora não muito), mas não consegui entender.

Sherlock Holmes (idem – EUA, 2009)
Direção: Guy Ritchie
Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams
Duração: 128 minutos
Projeção: 1.85:1

8mm
Lola
Ainda me faltam ver coisas de Rainer Werner Fassbinder – afinal de contas, são mais de 40 filmes em 16 anos de carreira –, mas é provável que poucas voltem a deixar as marcas de Lola. Da abertura, com os cabelos da dita cuja em paralelo com um diálogo baseado em raciocínio sobre poesia e tristeza, até o sarcástico final; passando pela cena em que Lola parece dançar possuída depois de ser vista por quem não podia, num plano sequência que dá a impressão de ser filmado e atuado por seres (com talento) sem paralelo entre os terráqueos. Maravilha de filme.

Sem luz
Primeiro veio Viver a Vida, agora Tempos Modernos; antes Godard, depois Chaplin. Qual será a próxima heresia em nomes de novela da Globo? O Iluminado? Soberba? Kubrick e Orson Welles já se reviram...

Filmes da semana:
1. Sweeney Todd: o Barbeiro Canibal (2006), de Dave Moore (**)
2. Lola (1981), de Rainer Werner Fassbinder (****1/2)
3. Casablanca (1942), de Michael Curtiz (****)
4. Código Desconhecido (2000), de Michael Haneke (***)
5. Deserto Vermelho (1964), de MichelangeloAntonioni (**1/2)
6. Caminhos Perigosos (1973), de Martin Scorsese (***)

* Coluna 70mm também publicada no www.pimentanamuqueca.com.br.

3 comentários:

Raphael Camacho disse...

Olá Leandro, tudo bem? Adorei o teu blog de cinema!

Sou colaborador do site cinedica.com.br e gostaríamos de comentar que no dia 17 de janeiro, as 22 horas, iremos agitar um bate papo em nosso site em função da cerimônia do globo de ouro e gostaríamos muito de contar com a presença de vocês e de seus usuários.
Nosso site é feito por amantes e para amantes da sétima arte. Somos contra a pirataria e amamos falar sobre cinema.
Dia 17 é um dia especial pois a cerimônia será mostrada ao vivo via canal TNT e não existe um lugar onde quem curte essa premiação possa debater via mensagens, os acontecimentos, ao vivo, que se seguem.
Gostaríamos de saber se você pode nos ajudar com a divulgação desta nossa iniciativa.
Nós rodamos a internet para encontrar sites interessantes e que fazem parte de nossa filosofia.
Você pode conhecer um pouco desta idéia pelo link: http://www.cinedica.com.br/filmes/cinefest.php
Desde já agradecemos e aguardamos uma resposta.

Atenciosamente, equipe CineDica.

rp@cinedica.com.br
raphaelcamacho@gmail.com

João Daniel Oliveira disse...

Primeiro veio Viver a Vida, agora Tempos Modernos; antes Godard, depois Chaplin. Qual será a próxima heresia em nomes de novela da Globo? O Iluminado? Soberba? Kubrick e Orson Welles já se reviram...


kkk, adorei. tb achei ridículo.

Sweeney deserves more love.

Rafael Carvalho disse...

Não vi ainda, mas pelo trailer já deu para perceber que esse é mais um filme do Richie igual a todos os outros que ele já fez na vida. Parecia a chane dele de fazer alguma coisa diferente. Não quis. Ou não pôde. Ou os dois.

E continuo sem ter visto nada do Fassbinder ainda.

Sobre os outros, adoro Sweeney Todd; tenho uma vontade danada de rever Casablanca porque é uma beleza de filme; embora goste de Código Descohecido, me parece o Haneke mais fraco dos que eu vi até então; também não me entusiasmo muito com o Deserto Vermelho, apesar de achar o Antonioni um diretor fodaço; e Caminhos Perigosos é um ótimo ensaio do Scorsese para o que ele faria mais à frente.