sábado, 5 de dezembro de 2009

Diário dos Mortos*



O atualizar da paixão crítica


Diário dos Mortos (Diary of the Dead – EUA, 2007), de George A. Romero, é um filme reflexo não só das obsessões como também, e principalmente, do talento de seu diretor para o gênero. É uma atualização de um cineasta que parece capaz de se reinventar com a fluência de um mestre, mesmo dentro de um nicho bem específico – mais do que outro filme de terror, ele volta visitar o terreno específico dos filmes de zumbis.

Percebemos desde o começo que a época é outra, e Romero sabe nos mostrar isso sem que o resultado soe (apenas) modista. O uso da câmera na mão é coerente com a ideia do filme (universitário) dentro do filme, e tem a naturalidade e o domínio de quem sabe usar um plano sequencia, sabe decupar uma cena e consegue dar ritmo ao filme; tendo, ainda, algo a dizer.

Esse “algo a dizer”, é bom falar, pouco ou nada tem de novo – especialmente se pensarmos em tudo que Romero fez desde A Noite dos Mortos Vivos (1968) –, mas a abordagem de mais do mesmo é qualquer coisa menos desinteressante. Não só pela diferenciação do jeito de filmar, que se aproxima de um “contemporâneo” sem parecer publicitário-enganador, como por alfinetadas roméricas presentes em quase toda cena.

Lógico que os filmes de Romero nunca foram ingênuos (longe disso), mas Diário dos Mortos talvez seja o resultado em que ele combine melhor crítica e cinismo. De um jeito que, entre um momento subliminar e outro explicíto, só poderia funcionar tão bem e de maneira tão pessoal num filme de gênero. O que Romero ainda sabe fazer como poucos.

Filme: Diário dos Mortos (Diary of the Dead – EUA, 2007)
Direção: George A. Romero
Elenco: Michelle Morgan, Joshua Close, Shawn Roberts, Tracy Thurman
Duração: 95 minutos

8mm
Virtuosismo?
Eu juro que pensei em escrever sobre O Solista (2009), mas o potencial desperdiçado pelo filme só não é maior do que a impressão de que Joe Wright, também diretor do ótimo Orgulho e Preconceito, parece ter perdido todo o tato para direção. O roteiro não é bom, ele se esforça em tornar tudo mais enfadonho, mas – o pra mim inexplicável – o filme não é exatamente horroroso; e talvez longe disso. Só me pareceu deveras insosso, e não consegui me imaginar escrevendo mais de um parágrafo sobre ele. Sensação confusa.

Filmes da semana:
1. Diário dos Mortos (2007), de George A. Romero (***1/2)
2. O Dinheiro (1983), de Robert Bresson (sala Walter da Silveira) (***)
3. O Solista (2009), de Joe Wright (Multiplex Iguatemi) (**)

Filmes do mês:
10. 500 Dias com Ela (2009), de Marc Webb (**1/2)
9. O Signo do Leão (1958), de Eric Rohmer (***)
8. O Dinheiro (1983), de Robert Bresson (***)
7. Pioneiros em Ingolstadt (1971), de Rainer Werner Fassbinder (***)
6. Domicílio Conjugal (1970), de François Truffaut (***1/2)
5. Casamento Silencioso (2008), de Horatiu Malaele (***1/2)
4. As Testemunhas (2007), de André Téchiné (***1/2)
3. Diário dos Mortos (2007), de George A. Romero (***1/2)
2. Deixa Ela Entrar (2008), de Tomas Alfredson (****)
1. Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino (****1/2)

* Coluna 70mm também publicada no www.pimentanamuqueca.com.br.

Um comentário:

Saul disse...

Do caralho! O melhor de Romero desde Martin. Devo reassistir este "Diário...". Pena que não chegue no cinema um tipo de filme de horror como esse, enquanto que coisas como Sorority Row enchem as sessões.