
Sobrenatural lírico
De maneira não premeditada, em menos de uma semana assisti a quatro filmes do gênero – A Profecia (1976), O Príncipe das Sombras (1987), Deixa Ela Entrar (2008) e Arraste-me para o Inferno (2009) –, o que, se por um lado não passou de uma obra do acaso, por outro ajudou a potencializar o caráter específico (“estético” e “cultural”) do sueco Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in – Suécia, 2008), de Tomas Alfredson.
Pouca coisa se tornou tão americana como os filmes de vampiros, e, para não ir tão longe, basta lembrarmos de Entrevista com o Vampiro (1994), Drácula de Bram Stoker (1992) e Martin (1977) – este de ninguém menos que George Romero. E isso para não falar nas séries Buffy – a Caça Vampiros (1997), True Blood (2008) e o recente fenômeno Crepúsculo (2008). Mas Deixa Ela Entrar, curiosa e felizmente (por conseguir uma voz própria em um meio já tão saturado), pouco dialoga com eles além do inevitável.
Como esperado, o clima aqui é frio e mórbido – como o da Pittsburgh tão estimada por Romero. A diferença é que, se a escolha do interior da Pensilvânia por si só representava uma locação propícia para a formação da atmosfera interiorana e relativamente longe de onde a maioria das coisas acontece (inclusive pedidos de socorro), aqui o pano de fundo é a própria metrópole: Estocolmo.

Generoso, sim, porque Deixa Ela Entrar é quase um manifesto de um caráter humano dos vampiros. E talvez o melhor exemplo seja o momento em que Eli (Lina Leandersson), que tem “mais ou menos 12 anos há algum tempo”, diz a Oskar (Kåre Hedebrant) que “mata porque precisa”. Quando uma frase óbvia (dentro do mundo dos vampiros) como esta consegue ganhar uma conotação genuinamente emotiva, fica a certeza de que estamos diante de algo especial.
Como é, por exemplo, a cena da piscina. Alfredson mostra sangue e tensão de um jeito bem peculiar, sem que a inusitada escolha do enquadramento chame uma atenção maior do que o que ele mostra: mais até do que pela sobrevivência, a crueldade justificada pelo amor – com um lirismo que deve tornar a cena indelével para a maioria que assistir.
Embora, é verdade, a trilha sonora às vezes soe invasiva (sublinhando uma sensação já perceptível), ela pouco compromete e não deixa de estar em certa sintonia com o filme. Que consegue terminar de um jeito gratificante e otimista, de forma que o resultado se liga menos a uma concessão do que a uma coerente demonstração da força do relacionamento e do ideal defendido. Muito bom.
Filme: Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in – Suécia, 2008)
Direção: Tomas Alfredson
Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson.
Duração: 115 minutos
8mm
Suécia
Guardadas as devidas proporções (de talento e de quantidade de filmes – ambos ainda em aberto), Alfredson faz com o filme de vampiro o que alguns italianos, e especialmente Sergio Leone, fizeram com o western nos anos 60 – os western spaghetti. Independente de qual caminho o sueco tome (segundo o IMDB, vai pro quinto longa – nenhum em DVD oficial por aqui), que o talento esteja por aí.
Dia 28
Como a coluna fica no ar até o próximo sábado (antevéspera do dia), aproveito para divulgar a primeira exibição pública da versão definitiva de Do Goleiro ao Ponta-esquerda, documentário que dirigi como projeto de conclusão do curso de Rádio e TV na Uesc. A sessão única, ou pelo menos a única com data confirmada até agora, acontece no próximo dia 28, no Centro de Cultura Adonias Filho. A entrada é franca.
Filmes da semana:
1. Deixa Ela Entrar (2008), de Tomas Alfredson (****)
2. O Príncipe das Sombras (1987), de John Carpenter (***1/2)
3. Arraste-me para o Inferno (2009), de Sam Raimi (***1/2)
4. Os Sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci (***)
5. Tudo Sobre Minha Mãe (1999), de Pedro Almodóvar (***1/2)
Filme: Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in – Suécia, 2008)
Direção: Tomas Alfredson
Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson.
Duração: 115 minutos
8mm
Suécia
Guardadas as devidas proporções (de talento e de quantidade de filmes – ambos ainda em aberto), Alfredson faz com o filme de vampiro o que alguns italianos, e especialmente Sergio Leone, fizeram com o western nos anos 60 – os western spaghetti. Independente de qual caminho o sueco tome (segundo o IMDB, vai pro quinto longa – nenhum em DVD oficial por aqui), que o talento esteja por aí.
Dia 28
Como a coluna fica no ar até o próximo sábado (antevéspera do dia), aproveito para divulgar a primeira exibição pública da versão definitiva de Do Goleiro ao Ponta-esquerda, documentário que dirigi como projeto de conclusão do curso de Rádio e TV na Uesc. A sessão única, ou pelo menos a única com data confirmada até agora, acontece no próximo dia 28, no Centro de Cultura Adonias Filho. A entrada é franca.
Filmes da semana:
1. Deixa Ela Entrar (2008), de Tomas Alfredson (****)
2. O Príncipe das Sombras (1987), de John Carpenter (***1/2)
3. Arraste-me para o Inferno (2009), de Sam Raimi (***1/2)
4. Os Sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci (***)
5. Tudo Sobre Minha Mãe (1999), de Pedro Almodóvar (***1/2)
* Coluna 70mm também publicada no http://www.pimentanamuqueca.com.br/.
3 comentários:
Não acho o longa revolucionário,mas sim extremamente original e envolvente, por que além de trazer de volta o gênero para a Europa (alô Mario Bava e cia),o que já traz um climão todo especial, o faz de uma forma mezzo realista e muito bem calculada. A direção do ano.
E o final (as linhas a seguir contém SPOILERS) não tem nada de otimista, é na verdade uma das coisas mais cruéis dos últimos tempos: Oskar está destinado a cuidar da vampirinha até o fim da vida e,quem sabe, pode terminar (mal)que nem o antigo guardião dela. Sutil e aterrorizante.
Psiu: que elenco mirim maravilhoso o desse filme. Eu acreditei naquela menina!
Psiu 2: escrevi sobre o filme aqui. Texto apressado mas com as impressões de quando eu vi: http://aultimasessao.blogspot.com/2009/07/deixe-ela-entrar.html
pois essa discordância só parece provar como o final do filme é fantástico. você olha o lado de um possível (ou até provável) final agonizante para ambos, eu vejo como uma diferença a princípio limitadora não impede que os dois dêem seu jeito de viverem o que querem. mas como esse jeito que querem é, no fundo, uma defesa de uma impossibilidade (como viver com alguém cujo instinto pode levá-lo a morte?), ela é (ou pode ser olhada) como uma visão otimista também.
Caramba Leandro, eu tô louco pra assistir a esse filme sueco, só vejo falar bem e parece trazer um belo sopro de renovação ao gênero.
Dos filmes da semana que você aponta aí, acho o Tudo Sobre Minha Mãe uma obra-prima do Almodóvar (da filmografia dele só perde para Carne Trêmula). E também gosto bastante de Os Sonhadores. Se eu já vi alguma coisa do Carpenter, foi há muito, muito tempo e sem a devida noção de quem era.
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