sábado, 20 de junho de 2009

O Exterminador do Futuro: a Salvação*



Insegurança

O Exterminador do Futuro: a Salvação (Terminator Salvation – EUA/ Alemanha/ Reino Unido/ Itália, 2009), de McG, me passou uma estranha sensação de uma insegurança sem fim. Em meio a obrigações a serem seguidas como produto e como franquia, ele se engessa de tal maneira que, quando se livra dessas amarras, sua liberdade não soa bem vinda.

O filme se passa em 2018 (próximo demais para um mundo tão diferente), quando impera o medo da Skynet e de seus robôs, desafiados em óbvia inferioridade de condições pela “resistência”. A ideia da trama, tão sublinhada durante as quase duas horas de projeção, carrega uma ingenuidade incompatível com um filme como esse – mais do que nos outros três. Aqui vemos um claro expoente da produção em série, ligado a um maquinário inimaginável para a maioria até dos que o assistem, e que ainda assim fala sobre e defende a resistência contra as máquinas – no mínimo curioso.

O próprio McG também passa a impressão de às vezes sair de sua órbita – que nunca foi tão bela nem assustadoramente delineada (o que não precisa ser), não faz mal lembrar. Se em As Panteras e As Panteras Detonando investia em momentos que com boa vontade mesclavam cenas inspiradas com decisões potencialmente – para não dizer escandalosamente – bregas, aqui ele deixou seu lado brincalhão, por assim dizer. As imagens fortes que ficaram no imaginário coletivo graças especialmente ao primeiro e ao segundo Exterminador (ambos de James Cameron) simplesmente não existem na versão 4.0 – embora mais tempo seja necessário para se comprovar isto. Os melhores momentos, se chamados assim, devem ser os da pura referência, e nem como tal têm certeza de funcionarem.

Na citação ao primeiro, o encaixe no roteiro é natural, mas, neste caso, o uso de algo anterior da franquia tende a levar mais à comparação e à inevitável “diminuição” do filme do que à homenagem – se for para ver esta como positiva. Já na alusão ao segundo, quando ouvimos a música trazida dele, ela surge como um barulho. Se a força da cena no primeiro Exterminador faz a daqui se aproximar menos da referência do que da reverência, a ponta ligada ao segundo vem quase como uma negação daquele. A Salvação não homenageia nem se desgarra do passado de um jeito convincente.

Por outro lado, é bom dizer que roteiro e direção evitam desenhar cada letra para explicar o que vemos, deixam boas ideias no ar, o que varia entre a permissão para participar da experiência e o confuso. O porém é que uma possível assinatura mais firme de McG (o que não é obrigatório) também vai para o espaço. Ele filma bons momentos (a combinação de plano-sequência com efeitos visuais é maravilhosa em mais de uma vez) e, apesar de o filme ter intermináveis, incontáveis e zoadentas cenas de ação, também consegue criar uma tensão suficiente em determinadas pontos, ou próximo a eles. O complicado é elogiá-lo por isso, já que a capacidade de apreciar e criar essa sensação parece vir de toda maternidade americana.

As pouco menos de duas horas passadas no término da sessão ilustram ainda mais essa espécie de falta de confiança no próprio filme, já que pelo menos uns 20 minutos em boa forma podem ter se perdido em meio à eliminação de gordura para o corte final. Essa eliminação, no entanto, talvez ajude o final (sem incluir a narração), que valoriza o humano sem tanta pieguice, é verdade, mas vem com um jeito calculado – não no sentido de cuidadoso, e sim de pré-concebido dentro de um terreno seguro. O que, infelizmente, fecha um resultado genérico demais para o potencial que o próprio filme às vezes dá sinais que tem – ou tinha.

Filme: O Exterminador do Futuro: a Salvação (Terminator Salvation – EUA/ Alemanha/ Reino Unido/ Itália, 2009)
Direção: McG
Elenco: Christian Bale, Sam Worthington, Bryce Dallas Howard, Anton Yelchin
Duração: 115 minutos

8mm
67

Roger Ebert é um desses caras que faz você pensar algumas centenas de vezes antes de dizer que exerce a mesma prática dele – embora por mais vezes ainda eu já tenha pensado em levantá-lo pelo pescoço para aplicar-lhe uns tabefes.
Com dificuldades de se mover e sem voz graças a um câncer de tireóide (e complicações que resultaram em perda de parte da mandíbula), fez aniversário na quinta-feira. Aos 67 anos, ainda escreve críticas quase que diariamente.

Filmes da semana:
1. Underground – Mentiras de Guerra (1995), de Emir Kusturica
2. O Exterminador do Futuro: a Salvação (2009), de McG (cinema)
3. Pixote: a Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco
4. Limite (1931), de Mario Peixoto
5. A Falecida (1965), de Leon Hirszman

* Coluna 70mm publicada também no http://www.pimentanamuqueca.com.br/.

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