sábado, 16 de maio de 2009

Velozes e Furiosos 4*



Tão lento quanto humano

Mais do que um filme de ação, Velozes e Furiosos 4 é um blockbuster, “diferenciado” por ser uma franquia, e mais específico por ser basicamente sobre carros (embora boa parte dos blockbusters não seja sobre coisa alguma, é menor o número deles que são assumidamente sobre seres inanimados). É um produto para uma fatia bem própria dentro de uma gigantesca massa amorfa, que mesmo assim deve ser atingida, já que ela é o alvo das setas que são todos os projetos da família dos arras(t)a-quarteirões. Ou seja, visualizar um toque realmente pessoal numa coisa dessas é o mesmo que, em pleno São João, esperar que Papai Noel desça da chaminé para assassinar o coelhinho da páscoa – a barrigadas.

Ponderados esses pontos, e imaginadas todas as possíveis concessões, o que dizer do filme de Justin Lin? A primeira expectativa é pelas cenas de ação. A inicial, além da megalomania para encaixar os efeitos especiais e dublês, parece realmente decupada e bem cuidada, como se tivesse sido filmada e editada por um Macintosh – e isso é um elogio. Diferente das outras partes semelhantes no resto do filme, ela é inteligível. Ali sentimos se não o talento, um mínimo de timing e respeito para com nossa capacidade de raciocínio. Pena que essa consideração acaba por aí. Para resumir as outras cenas de corrida, melhor dizer que os cortes são mais velozes e desrespeitosos que os carros – e a cabeça passa a ser violentada. Aconselho paracetamol. Na falta dele, tome paciência.

Irregular e agressivo o suficiente nos seus 40 minutos normais e finais, Velozes e Furiosos investe mais outra hora de introdução (menos enxuta que Vin Diesel) em algo que mais parece um filho bastardo de Need For Speed com GTA – há tempos não me atualizo, é possível que tenha algo mais parecido com isso aqui. Tem-se uma história (cuja superficialidade e fragilidade do fio narrativo extrapola o padrão da série – apesar de o primeiro ser redondinho, difícil dizer que é bom), uma missão, corridas, estradas e passagens secretas: tudo dentro de um mundo maravilhoso, que é criado e convence – embora muito mais como um jogo do que como cinema.

O último corte do filme é o mais simbólico. Nele, o carro vem em alta velocidade de encontro à câmera e a tela fica preta, como se fosse engolida pelo super-hiper-mega-power-veículo. É a coerência que pede a série, implorando pela continuação de algo que se aproxima muito menos de um filme do que do reflexo de seu tempo. São espasmos de hiperatividade em quantidade e com pressa suficientes para nada na tela ser questionado – ou passar um sentido, uma sensação, o que for. O que passa são os carros, e o grau de (falta de) humanidade esperado. Há quem goste.

Filme: Velozes e Furiosos 4 (Fast and Furious – EUA, 2009)
Direção: Justin Lin
Elenco: Vin Diesel, Paul Walker, Jordana Brewster, Michelle Rodriguez.
Duração: 107 minutos

8mm
Cartão postal
Levando em conta apenas aquilo com que tenho um mínimo de contato, acho que somente o futebol é tão masculino (e quase sempre machista) como o automobilismo – e seus derivados. Em Velozes e Furiosos 4, vemos novamente aquele excesso de amarelo-desgraça, calor-turismo, bundas e peitos: tudo (quando com essas características) passado em países latinos, onde moram os sacanas e as gostosas, que ficam com os sacanas enquanto esperam o super-homem num tom azul-riqueza, vindo “dusistêite” – jogo de cores de Traffic vem a mente.
Em entrevista recente, Paul Walker falou que o Brasil seria provável palco para filmagens da continuação da franquia. Visualize: o resultado do cruzamento da Globeleza com Gisele Bündchen, somado com o Maracanã, o Rally dos Sertões e a Rocinha. Pode entrar na conta ainda o túnel Ayrton Senna, em São Paulo, cidade cujo principal cartão postal – se a referência for um “interessante” documentário britânico sobre o ex-piloto – é o corcovado.

Filmes da semana:
1. Noites Brancas (1957), de Luchino Visconti
2. Cão sem Dono (2007), de Beto Brant e Renato Ciasca
3. Sexo entre Amigos (1999), de Sam Miller
4. Vida de Solteiro (1992), de Cameron Crowe
5. Velozes e Furiosos (2009), de Justin Lin (cinema)
6. Afinidades Eletivas (1996), de Paolo e Vittorio Taviani
7. Cama de Gato (2002), de Alexandre Stockler

* Coluna 70mm publicada também no http://www.pimentanamuqueca.com.br/.

10 comentários:

Unknown disse...

"excesso de amarelo-desgraça, calor-turismo, bundas e peitos"


kkkkk, adorei

mas, por alguns millions dollars, você não toparia dirigir "Fast%Furious 5: Fucking Brazil"?

na hora pai!

Leandro Afonso Guimarães disse...

ôxe, por alguns milhões de dólares, além de dirigir, eu mando vin diesel lamber sabão!

heron disse...

leo falando "ôxe"? comofas?

Leandro Afonso Guimarães disse...

er... creio que sempre falei "ôxe" - embora não com a mesma de frequencia de um "bom dia" ou de um "o que é, porra?!". o ponto é que nunca escrevi "ôxe". acho.

.'.Gore Bahia.'. disse...

Noites Brancas de Luchino Visconti, caralho... já tentei baixar uma vez... Dostoievsky né? agora, porra... vc foi assistir Velozes e Furiosos 4, que coragem rsss lembro que uma ve tbm era corajoso e fui assistir Mulher-Gato. Quero meu dinheiro de volta até hj...

João Daniel disse...

Pô gente,Mulher-Gato?


NOOOOOTTTTTTTTTTTTTT....

Vi num dvd copiado, emprestado claro, e nunca senti uma vergonha alhiea tão intensa.

ela dança funk, joga basquete, rosna, lambe, faz miau miau. ..Nem Ed Wood sera capaz de tamanha atrocidade.

Ei, o primeiro Fastfuriousssss dá pro gasto!O 2 e o 3 nunca vi, e não veria nem se vivesse por mil anos, dá pra ser mais claro do que isso?

heron disse...

leo, admita, vc está se nordesticizando hihihi

eu acho que vi as branquelas no cinema... se eu não lembro é porque deixei um pedaço do cérebro no cinema

palavra de verificação do google: fasassim [fas assim, sacou?]

Leandro Afonso Guimarães disse...

ah, o de visconti é sim baseado em dostoiévski. transposto pra uma livorno surreal, quase que num manifesto anti-neorealismo. =)

er... eu tb vi 'mulégato' no cinema. mas acho melhor parar com esse confessionário daqui. amizades podem ser abaladas.

Unknown disse...

Não conheço vocês!

Unknown disse...

"Se você acha que nenhum filme pode ter uma premissa mais bizarra do que “Serpentes a Bordo”, em que cobras atacam passageiros de um avião, então precisa conhecer um novo projeto anunciado no Festival de Cannes. Em “Bait”, um tsunami inunda uma cidade costeira e prende um grupo de pessoas dentro de um shopping com tubarões famintos e um psicopata armado. Como se não bastasse, o filme australiano ainda será em 3-D."

esse eu quero!