sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Dia em que a Terra Parou*



Masturbação técnico-visual (e só)

Verdade seja dita, “masturbação técnico-visual” pode resumir a maior parte dos blockbusters americanos, tanto pelo lado bom como pelo ruim. O ponto passa a ser então o que desenvolver a partir dela e de um filme como O Dia em que a Terra Parou (The Day The Earth Stood Still, EUA, 2008), de Scott Derrickson (de O Exorcismo de Emily Rose).

Refilmagem de um clássico de 1951, dirigido por ninguém menos que Robert Wise (A Noviça Rebelde; Amor, Sublime Amor; Punhos de Campeão), o filme repete a fórmula dentro da fórmula. Traz uma história de sucesso garantido com efeitos impossíveis de serem obtidos na época em que foi feita, e astro(s) com passagem recorrente pelo papel que interpretam: Jennifer Connelly (Réquiem para um Sonho, Uma Mente Brilhante, Hulk) como a mulher que sofre (mas dessa vez nem tanto), e Keanu Reeves, o super-poderoso-de-ação-e-ficção-científica, como na trilogia de Matrix.

Na prática, o filme não teria como ser refeito com história idêntica, pelo fato de o contexto histórico e político – essenciais para a história – serem inatingíveis nos dias de hoje, uma vez que a versão de 1951 era um bonito (e ingênuo) libelo contra a guerra-fria – mas não só. Ou seja, a equipe criativa tinha aqui um aval óbvio para justificar um distanciamento do filme original e dar um toque pessoal a uma bela história com uma lição de moral que, como dificilmente acontece, desce (ou descia) sem grandes problemas.

A versão de Robert Wise, vale dizer, investe menos nos efeitos visuais, obviamente contidos, e mais no ser humano. O dia em que a terra pára – no original – envolve toda uma trama entre os extra-terrestres, seu representante, seu protetor e os humanos. Através dessa trama, o medo e até a estupidez do homem diante do desconhecido e da desconfiança, assim como a inocência (mas nem tanto) e o poder de reação de quem se encontra do outro lado, chegam juntos a um resultado que, ao invés de datado, parece muito mais convincente (apesar de também mais ingênuo) do que o filme de Scott Derrickson.

É bom frisar que a infidelidade de uma re-abordagem – não importa se refilmagem ou adaptação de um meio para outro –, obviamente, não quer dizer nada a respeito da qualidade do resultado a princípio. A questão é que o filme de 2008 funciona da seguinte maneira: o sol gira, o mundo brilha, o gigante descansa anestesiado... (...) e... boom!: a terra simplesmente pára. O acontecimento parece ter entrado (de sola) no roteiro por uma simples questão de protocolo, e a suposta explicação pra o parar do planeta soa incoerente com a completa falta de abstração do filme.

Scott Derrickson diz pouca coisa além de imagens megalomaníacas e sem substância. Ele dirige uma coisa que não parece funcionar nem como divertimento (claramente sua prioridade maior), mas apenas como uma masturbação constante da equipe de efeitos visuais.

O problema é que essa masturbação é feito por eles para eles, sem participação de mais ninguém. E, desse jeito, só pode levar ao orgasmo algum voyeur fetichista por poeira faminta e ligada à entomologia. Existem muitos assim, é verdade, mas se você não for como eles, essa masturbação não passa tesão algum.

Filme: O Dia em que a Terra Parou (The Day The Earth Stood Still, EUA, 2008)
Direção: Scott Derrickson
Elenco: Keanu Reeves, Jennifer Connelly, Jaden Smith.


8mm
Meu nome é Maciel...
Não acompanhei Maysa, basicamente pelos mesmos motivos de Capitu. A diferença é que, embora Luis Fernando Carvalho me atraia mais como diretor, Jayme Monjardim dirige a mãe, ele próprio e os filhos ali, em diferentes épocas e também ao mesmo tempo. Até Freud ficou curioso pra ver a coisa.
Com tendência a ser uma egotrip megalomaníaca e piegas, a mini-série já mostra desde o seu subtítulo ("Quando Fala o Coração") um sentimento velado de culpa pelo comportamento nada heróico de sua personagem. Pelo que (mal) vi, não dá pra falar muita coisa da série, mas dá pra dizer que a expressividade de Larissa Maciel como Maysa é uma coisa fora do comum. E olhe que, no pouco que assisti, ela pegou texto e direção constrangedoramente mecânicas, mas se salvou (mais pelo potencial do que pela performance, talvez) com sobras. Alguém a coloque numa tela grande, por favor.

Vistos e/ou revistos durante a semana:
* A Gaiola das Loucas (1978), de Edouard Molinaro
* Metal – Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal (2005), de Sam Dunn, Scot McFadyen e Jessica Joy Wise
* Zeitgeist Addendum (2008), de Peter Joseph
* O Dia em que a Terra Parou (1951), de Robert Wise
* Carreiras (2005), de Domingos Oliveira
* O Dia em que a Terra Parou (2008), de Scott Derrickson (cinema)

Imagens em: http://www.imdb.com/

* Coluna 70mm originalmente publicada no jornal semanário O Trombone – Itabuna-BA.

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