sábado, 13 de dezembro de 2008

Espelhos do Medo*



Espelho corajoso e desagradável

Espelhos do Medo (Mirrros, EUA/ Romênia, 2008), de Alexandre Aja, é o tipo de filme que tem todo um pedigree assustadoramente sangrento e atrativo por trás. Primeiro por ser obra do prodígio francês, que chegou ao quarto longa-metragem antes de completar 30 anos – o que aconteceu em agosto. Segundo por se tratar de uma refilmagem de horror (com mudança de título) do sul-coreano Espelho (Geoul sokeuro, Into the mirror – não vi), de 2003, de alguém que já havia trabalhado numa refilmagem clássica do gênero, o Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, 2006), com versão original dirigida em 1977 (traduzida na época como Quadrilha dos Sádicos) por Wes Craven, que produziu o filme de 2006. Mas, apesar de toda essa genealogia, ela parece bem mais interessante que a prole.

Temos aqui Ben Carson, um ex-policial (Kiefer Sutherland, de 24 horas) que agora trabalha sozinho num prédio cabuloso, que há mais meio século quase derreteu após um incêndio, mas que ainda guarda as cicatrizes sombrias da catástrofe. Trata-se do Mayflower, um prédio que, quando em chamas, lembra muito uma pintura do final de O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polanski.

A “semelhança” (referência? coincidência?) com o filme do diretor polonês, contudo, acaba por aí. Não temos aqui uma história conspiratória e um investimento excepcional na sugestão do horror, mas sim um produto que parece uma tentativa pouco feliz de utilizar coisas tradicionais do gênero e de “subgêneros” (o sangue gore) pra chegar a um resultado decente. Desde o sobrenatural ao jeito ofensivo de se filmar sangue, de homicídio a suicídio, passando por gente se queimando violentamente.

O problema é que, apesar de o filme funcionar bem acabado com seu sangue e cenas raras de serem vistas no cinema comercial de hoje em dia, o horror aqui sofre dos mesmos males da maioria dos filmes médios (ou seja, ruins) do gênero. Enquanto é 100% terror e tensão está ok, mas ele flerta demais com conflitos psicológicos e familiares, e com a possibilidade de estarmos diante de uma possibilidade sobrenatural dentro de um mundo real – ou fora de uma realidade própria do filme (aqui muito necessária). Nessas horas, ou o constrangimento é grande ou a falta de inteligência dos personagens ofende em demasia – mesmo ponderando aí num natural desespero pela situação.

Por outro lado, um ponto com algo de positivo do filme é uma possível metáfora para a idéia sobrenatural do funcionamento dos espelhos. Em meio a sustos e filosofia de bêbado, soa válida a idéia de um reflexo como um auto-retrato desagradável e incontrolável por uma auto-censura – o que só aumenta a decepção do filme como exemplar de horror.

Outra questão interessante, para a cidade, é o fato de terem coragem de trazer algo com quantidade mínima de terror e razoável de sangue num cinema púdico como o daqui – e com um público mediano na sessão. Mesmo que num caso como esse, quando o filme não é grande coisa.

Ps: O prólogo é difícil de digerir visualmente, e isso é um elogio, pela coragem.

Filme: Espelhos do Medo (Mirros, EUA/ Romênia, 2008)
Direção: Alexandre Aja
Elenco: Kiefer Sutherland, Paula Patton, Amy Smart.

Rigor conveniente
Na quarta-feira (10), quando assisti a Espelhos do Medo, vi pela primeira vez a atendente do Starplex cobrar o comprovante de matrícula para liberar a meia-entrada. Acho isso complicado, porque não se trata de um cartão, que você pode guardar na carteira e naturalmente levar pra qualquer canto. É um papel grande e que, pra carregar, ou você o amassa todo ou leva pra cima e pra baixo um desconfortável classificador. Você simplesmente não pode decidir ir pro cinema de sopetão, depois de despretensiosamente ter ido na rua fazer qualquer besteira. Se quer pagar o que lhe é de direito, tem que andar com o diabo do papel pra cima e pra baixo. (Não sei como funciona, nem se ainda funciona, a carteirinha da Une – União Nacional dos Estudantes).
Apesar disso tudo, não posso culpar o cinema pela atitude – os cinemas minimamente decentes que já fui só trabalham assim. Eles prestam um serviço e têm o direito de fazerem o possível para não serem lesados. Eu mesmo conheço um punhado de gente que não senta num banco de faculdade há mais de cinco anos e ainda paga meia. Ou pagava.
Mas aí entra outra questão. Não são poucos os filmes com censura 16 e até 18 anos que entram em cartaz por aqui – felizmente – e não foram poucas as vezes que vi crianças (ou pré-adolescentes, que seja) assistindo a esses filmes – infelizmente. A sessão de Casa da Mãe Joana (16 anos), há coisa de dois meses, parecia uma reunião de meninas (e meninos) sonhando com o ainda longínquo baile de debutantes. Lógico que não saí perguntando aos pestinhas quantos anos eles tinham, mas a diferença física média de alguém de 10 anos pra alguém de 16 é infinitamente mais perceptível da de alguém de 110 pra alguém de 116.
Se o cinema quer se mostrar mais sério, que assim seja também com a censura. Rigor conveniente não dá.

De Romeo e Julieta ao broxante
No mesmo dia, como de costume, as luzes se apagaram e começaram os trailers. O povo ainda chegava e os lanterninhas entravam em ação distraindo e achando lugar pra os retardatários. Enquanto via imagens de encomenda em cada amostra do que era projetado, eu permanecia injuriado com minha gripe sem fim.
Depois comecei a reconhecer um pessoal no trailer. Primeiro Nicole Kidman, depois Hugh Jackman (o Wolverine de X-Men). Mas nem me dei ao trabalho de imaginar nada que preste, principalmente pelas frases e imagens com aparência descartável. Até que, depois da última cena do trailer, linda e banal, tomei um susto. Tratava-se de Austrália, o suposto épico (que assim seja) de Baz Luhrmann, que dirigiu as interessantes mini-óperas Romeo e Julieta e (o melhor ainda) Moulin Rouge.
O cara já provou ter as manhas, e desde sempre espero esse novo filme dele, mas o trailer pareceu ligado num piloto automático dessas histórias de amor ordinárias que dão litros de dinheiro. Quero acreditar que só o trailer ficou assim.

* Coluna 70mm originalmente publicada no jornal semanário O Trombone – Itabuna-BA.

Imagens em: http://www.shakespeareinamericanlife.org/ e http://www.imdb.com/

2 comentários:

um báu disse...

Homem sem nome, sinto-me como você na época do surto cinéfilo... não como,não durmo,não compro mais roupas, meu dinheiro vai todo para dvd´s e não consigo falar de outra coisa senão filmes. Sinto-me uma ameba com uma gigantesca ânsia por devorar todos os arquivos fílmicos do mundo...já que isso não é possível, o seu blog ajudará bastante para ampliar meus míseros pseudo conhecimentos!


=******

.'.Gore Bahia.'. disse...

É o pior do Aja, com os piores atores, mas graças a deus existiu aquela cena da banheira na minha vida.