sexta-feira, 29 de junho de 2012

A comédia ganha*



Com ajuda de elenco e roteiro afinados quando o propósito é o humor e o escapismo, dá para dizer que Sombras da Noite (Dark Shadows – EUA, 2012) é um dos mais divertidos trabalhos que Tim Burton fez nos últimos anos.

Permanece certo esmero para dirigir e enquadrar que ele sempre teve, mas com trilha sonora não original em diálogo mais direto com o ritmo e a fantasia ali criados. No que isso tem de elogioso, dá para falar de um Tim Burton “tarantinizado”.

Existe um universo à parte que fica claro logo em apresentação que precede os créditos, quando vemos um suicídio não consumado nos gritar que aquilo é ficção. A partir dali, fica mais fácil acreditar em um homem que dorme em 1780 e acorda em 1972, assim como rir das situações estranhas que um parar no tempo pode fazer.

O humor é inteligente e os trejeitos de Johnny Depp (Barnabas Collins) se repetem, mas funcionam melhor aqui. Sombras da Noite pode tratar de família, de amor e da impossibilidade do eterno sucesso nelas, mas brilha é como uma comédia.

Mefistófeles, o McDonalds, os Carpenters, o primeiro encontro com carro, os diálogos de uma maneira geral, são gags hilárias ou criativas, pelo menos. O porém é que Burton parece querer acrescentar aí uma beleza triste presente num Edward Mãos de Tesoura, onde também existe a incapacidade de estar com quem se ama, mas onde essa questão afetiva era tão forte quanto a fantasia, e fluía com naturalidade que falta aqui (e mais adiante, quando temos a revelação de personalidade de um dos Collins).

Não sei qual era a prioridade da série original (1966-71), mas essa tentativa de diferentes tons não ajuda o resultado de Burton, com desfecho também pouco feliz. No entanto, soa inevitável para um filme tão caro.

Problemas à parte, ficam o humor e os encaixes iluminados de imagens com sons, o que são sempre bem-vindos.

Visto em cabine de imprensa no Multiplex Iguatemi – Salvador, 19 de junho de 2012.

* Originalmente publicado aqui.

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