A apresentação de Jean-Claude Brisseau a Coisas Secretas (Choses Secrètes,
FRA, 2002) é simples.
Uma mulher nua, deitada na cama, aos poucos se levanta e caminha sobre um palco, onde logo depois começa a se masturbar. A câmera a acompanha até o momento em que mostra uma plateia e, ao fundo, uma atendente, que olha tudo e descobrimos ser a narradora do filme.
Uma mulher nua, deitada na cama, aos poucos se levanta e caminha sobre um palco, onde logo depois começa a se masturbar. A câmera a acompanha até o momento em que mostra uma plateia e, ao fundo, uma atendente, que olha tudo e descobrimos ser a narradora do filme.
Finalizado o espetáculo, temos o princípio de amizade entre
Nathalie (Coralie Revel), a stripper,
e Sandrine (Sabrina Seyvecou), antes espectadora privilegiada, ambas postas
para fora e que passam a morar juntas. A primeira é mais velha, segura e com ar
professoral; a segunda é uma jovem que pouco sabe de orgasmos, mas que percebemos ser uma ótima aprendiz.
Uma visão limitada da primeira hora do filme pode fazê-lo parecer
um manifesto feminista, mas ele deixa claro que vai para algo além do puro sexismo.
Se por um lado ele é pele e contato, ele também é sangue. Para Nathalie e Sandrine, os fins justificam os meios, mas esses
meios envolvem relações afetivas, e as duas são feitas de carne e osso,
diferente do que aparenta o contraponto do filme. Alguém cujo trauma na infância tenta
explicar o que se tornou, um misantropo que parece formado apenas por caracteres, e que tem como prioridade o cruzamento da luxúria com a libertinagem. Mas sem prazer.
Verdade que os franceses parecem ter sensualidade e cinema impregnados
no DNA, e que Brisseau (de 1944, meio herdeiro e meio responsável por essa herança) consegue estar acima da média de compatriotas e
contemporâneos, mas as Coisas Secretas são mais sobre o que está por trás de toda essa libido.
Soa descartável início de narração em reencontro final, como
às vezes pode soar excessivamente solene a trilha sonora, mas estamos diante de
um universo onde nada é moderado.
Seja com o sexo ou com a dor, o que temos são sentimentos e sensações extremas, expostas através de corpos filmados com intensidade absurda. Formidável.
* Texto também disponível no blog do Cinema Total / LA.
Seja com o sexo ou com a dor, o que temos são sentimentos e sensações extremas, expostas através de corpos filmados com intensidade absurda. Formidável.
* Texto também disponível no blog do Cinema Total / LA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário