sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme*




A puta que nunca dorme

Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme
(Wall Street - Money Never Sleeps 2010, EUA) é, basicamente, o Oliver Stone (Assassinos por Natureza, Platoon, JFK) de sempre. Aquele que usa o que critica, aquele que é a incoerência personificada na arte que faz. Mas, isto à parte, a continuação do filme de 1987 é um dos filmes menos infelizes do diretor.

Gordon Gekko (Michael Douglas) é enfim solto, sua filha Winnie é namorada de Jake Moore, (Shia LaBoeuf) homem de Wall Street, no que pode soar tanto como imprevisto do funcional destino como outra manipulação pouco convincente de Stone. Com sua tradicional sutileza de elefante, a abertura mostra como pai e filha, cada um na sua visão, reagem à libertação do Gekko mais velho.

Durante mais de duas horas, Stone bate na bolsa de valores, na especulação, na obsessão por ganhos, empréstimos e negócios; em suma, ele dá (de novo) várias pauladas no capitalismo essencialmente norte-americano. Em meio a isso, ele acrescenta mudanças de rumo de personagens, dramas e crises familiares. Tudo é até bem escrito e amarrado, dentro dos padrões Stonianos, e atuado (sejamos justos, ele não é um ruim diretor de atores), e o maniqueísmo não é tão extremo: tanto Gordon como Jake têm momentos ruins. Até Stone fazer o que, normalmente, ele faz.

A família, a obsessão pelo dinheiro e o que o seu excesso faz, são dois dos pilares do american way of life que Stone tanto combate, mas são justamente o dinheiro e a família falam mais forte; deu tudo certo, no melhor estilo americano. Pode-se dizer que ele faz uma constatação, só que o cheiro não é de um olhar, de uma opinião, mas de um determinismo aliado a concessão – mesmo que insconsciente, caso ele tenha tido o corte final. A crítica que ele faz se dilui, o final não deixa espaço para a dúvida ou a ironia.

Em uma das falas de Gordon, ele diz que “o dinheiro é uma puta que nunca dorme”. Ela é apenas uma das interessantes frases de efeito e boas ideias do filme, cheio delas. Mas, desde a poluição e a confusão das telas divididas ao didatismo da amostra da alternativa energética, Stone acredita mais em seus ideais que na construção que possa fazer alguém levá-lo a sério como tudo que parece querer ser: antropólogo, sociólogo, político e, quando possível, cineasta. Bons momentos se perdem em meio às opções dadas pela puta que nunca dorme.

Visto, em cabine de imprensa, no Cinemark – Salvador, setembro de 2010

Filmes da semana:
1. Os Incompreendidos (1959), de François Truffaut (Sala Walter da Silveira – DVD) (****)
2. Quem Matou Leda (1959), de Claude Chabrol (Sala Walter da Silveira – DVD) (**1/2)
3. Apenas o Fim (2008), de Matheus Souza (DVDRip) (***1/2)
4. Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme (2010) (Cinemark – Cabine de imprensa) (**1/2)
5. Insolação (2009), de Felipe Hirsch e Daniela Tomas (Cinemark) (**)

* Coluna 70mm também publicada em www.pimentanamuqueca.com.br.

Um comentário:

Rafael Carvalho disse...

Cara, acredita que eu não vi nem o primeiro Wall Street? Tô com ele aqui no meu PC, esperando para poder conferir. E sem mesmo sem ter visto os filmes, acho muito interessante o Stone retomar a história porque a conjuntura políco-econômica hoje é outra e bastante propícia a essa disussão.

Sobre os outros filmes citados, acho Os Incompreendidos uma obra-prima. Da primeira vez que eu vi, achei um bom filme, e só. Mas na revisão, me encantei com o carinho do filme. Já Quem Matou Leda? é um Chabrol muito pouco assistido, mas gosto muito do filme, a elegância da direção dele está toda lá. Para mim, o que menos importa é o assassinato.