sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Nosso Lar*




O cinema morre

Em Nosso Lar (idem – Brasil, 2010), Wagner Assis pode deixar muitos com vontade de morrer. Se esse foi seu desejo, bingo; mas se ele quis chegar a um resultado que, além da religião, demonstrasse fé no meio usado para tal, ele falhou.

Desde toda a publicidade envolvendo as cifras (teoricamente R$ 20 milhões), muito se falou dos efeitos especiais. O porém é que quase todas computações gráficas chamam mais atenção para si que ajudam na criação de um filme além do deleite de imagens. Por “imagens”, no entanto, vejo uma espécie de deslumbramento “arquitetônico” e religioso que não vão além disso. As palavras, as imagens, os efeitos, todos são apenas belezas individuais (palavras e efeitos nem isso) e narcisistas; não formam um todo.

Assis não parece acreditar no cinema que faz, mas na ideia que faz do que seria um cinema se feito no mundo espiritual. Uma mistura entre Niemeyer (citado por Inácio Araújo) e Walt Disney com efeitos americanos década de 80; só que acrescido de açúcar e álcool. A soma é mundo perfeitamente asséptico no qual, entre reacionários, encarnações e fins, há sempre uma nova chance.

É nisso que Assis acredita, o que ele deixa claro a cada cena, muito mais do que cinema. A quem ele não deu chance alguma.

Visto no Shopping Barra – setembro de 2010 .

8mm
Superoutro
Poderia falar horas sobre Superoutro (1989), de Edgard Navarro, mas dificilmente falaria algo de novo ou, pelo menos, relevante. Dito isto, só friso uma impressão: não sei em qual filme dos últimos 20 anos, entre os feitos aqui, temos uma Salvador tão pulsante. Se há, ou não vi ou não lembro.

Filmes da semana:
1. Antes do Pôr-do-sol (2004), de Richard Linklater (Cine Vivo – DVD) (****1/2)
2. Nosso Lar (2010), de Wagner de Assis (UCI Orient Shopping Barra) (**)
Curta:
3. Gibraltar e as Bicicletas (2009), de Marccela Vegah (Youtube) (***)
Média:
4. Superoutro (1989), de Edgard Navarro (TVRip) (****)

* Coluna 70mm também publicada no www.pimentanamuqueca.com.br.

Um comentário:

Rafael Carvalho disse...

Hauhahuauhau. esse trocadilho com a vontade de morrer é ótimo! De fato, como cinema esse filme não tem nada. E o problema maior não é nem o fato dele ser tão panfletário, mas por ser dramaticamente muito, mas muito ruim.

Bela colocação sobre Superoutro, realmente o fime pulsa, com toda aquela energia que o Navarro tem e consegue imprimir em seus filmes.

(sei que dei uma sumida por aqui, as tentarei retomar constantemente as visitas).