sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Uma Noite em 67*




Saudosismo inerente


Exibido em impecável cópia digital (o que é difícil de acontecer e acreditar), Uma Noite em 67 (idem – Brasil, 2010), de Renato Terra e Ricardo Calil, é um filme que se apresenta tão generoso quanto apaixonado pelas imagens do festival que retrata. É um filme que nasce inevitavelmente velho e datado, mas sem a impressão de que isso seja ruim. Por outro lado, a paixão e o respeito que cativam são os mesmos que, aparentemente, assumem o protagonismo ao prejudicar o ritmo e fazer o filme flertar com um mais do mesmo que beira ou atinge a monotonia.

Temos aqui o último dia do festival de 67, que incluiu, entre outros, Chico Buarque, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Sergio Ricardo e Os Mutantes. São longos períodos sem cortes, músicas executadas e reexibidas na íntegra, com introdução e aplausos/vaias incluídos.

Os depoimentos atuais são, digamos, submissos ao passado. (Bem diferente, por exemplo, de Filhos de João, de Henrique Dantas, documentário sobre os Novos Baianos onde a importância maior é do presente e dos casos e causos contados.) O filme não é o que ele conta, mas o que já foi contado, aqui acrescentado de uma ou outra nuance atual – e projetado em tela grande.

Nesse ponto, a atitude é tão humilde quanto louvável. Não temos, hoje em dia, nem uma televisão com tamanha ousadia, nem plateia tão ensandecida. Pode-se falar, com razão, em público mal educado, mas a falta de educação que existiu em alguns momentos era também símbolo de um caráter crítico e apaixonado daqueles ali presentes.

Os momentos eram outros, vigorava a ditadura, mas também era uma época em que ser um músico sorridente e carismático não significava, necessariamente, ser imbecil.

É verdade, todavia, que o ritmo do filme se perde, até porque é complicado manter a toada quando grandes blocos são entrecortados com depoimentos que vão de poucas frases a divagações grandes – os 85 minutos parecem muito mais.

Ainda assim, um mérito gigantesco de Uma Noite em 67 é exibir uma força descomunal que já teve a música popular (e em escala menor, até a TV) brasileira. Formada por pessoas que, como filmadas, não são mitificadas (até porque não mais precisam, em alguns casos), e se mostram de carne, osso, talento e imperfeições. São, como merecem, respeitadas. Como o passado e o que fizeram, o que o filme mostra com tanta modéstia quanto orgulho.

Visto no Cinema da Ufba – Salvador, agosto de 2010.

Filmes da semana:
1. Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto (2007), de Sidney Lumet (DVD) (***1/2)
2. Uma Noite em 67 (2009), de Renato Terra e Ricardo Calil (Cinema da Ufba) (***)
3. À Prova de Morte (2007), de Quentin Tarantino (Cinema da Ufba) (****1/2)

Coluna 70mm também publicada no www.pimentanamuqueca.com.br.

Nenhum comentário: