sábado, 20 de fevereiro de 2010

O Lobisomem*




Susto preguiçoso

É difícil defender, e até falar sobre, O Lobisomem (The Wolfman – Reino Unido/ EUA, 2010), de Joe Johnston (de Jumanji, Jurassic Park 3). O filme é a picaretagem travestida de homenagem, a preguiça disfarçada de tradição; em suma, é uma bobagem que só envergonha quem entrou nele.

A princípio, o filme é uma refilmagem do clássico de George Waggner, de 1941. No entanto, com base nas impressões deixadas, poderia ser descrito como qualquer blockbuster que envolva ação e aventura (à la Michael Bay): nada vai além do barulho, do sublinhar o já perceptível, do tesão em causar dor de cabeça, da vontade de explorar rostos e corpos potencialmente mais ligados à bilheteria que ao encaixe com o papel.

Um momento forte, por exemplo, mostra um homem que, após cair de certa altura, é esmagado por uma cerca. Imagem idêntica, embora com cena diferente, temos no norueguês O Homem que Incomoda (2006), de Jens Lien. Mas a diferença entre ambos, como o óbvio estereotipado pode sugerir, não está numa frieza nórdica diante de um jeito hollywoodiano de filmar ação. A diferença é que um diz o que quer dizer – o que já é um mérito – e diz do seu jeito. O outro não tem o quê nem sabe como dizer.

Pode-se afirmar que a reconstrução de época da Inglaterra é fiel, mas também é inegável que o caráter escuro-sombrio-úmido flerta menos com um classicismo (e domínio) do gênero de terror do que com um recurso fácil para deixar o espectador confuso.

Só a ideia – que temos aqui – de resumir um filme de terror a algum sangue (calculadamente corajoso), cenas violentas (às vezes mal filmadas) e sustos a base de “bus” e “tuns”, já dá uma tristeza absurda, mas, infelizmente, não é só isso o que O Lobisomem consegue. Ajudado pela maioria esmagadora dos filmes do gênero que chegam sem dó e sem talento às telas dos maiores cinemas, uma fatia igualmente marcante do público acha que um bom filme de terror se aproxima disso. E apesar da ideia de o demérito ser coletivo confortar os ligados aos filme, ela não vale para quem gosta do gênero.

O Lobisomem (The Wolfman – Reino Unido/ EUA, 2010)
Direção: Joe Johnston
Elenco: Emily Blunt, Simon Merrels, Gemma Whelan, Benicio Del Toro, Anthony Hopkins
Duração: 102 minutos
Projeção: 1.85:1

8mm
Walter da Silveira
Pela primeira vez tive contato direto e mais abrangente com textos de Walter da Silveira – organizados por José Umberto Dias –, reunidos no livro O Eterno e o efêmero (Oiti Editora). E não deixa de ser curioso vê-lo, em 1958, num texto sobre Kubrick, falar tantas vezes em “autor”.

Filmes da semana:
1. Amarcord (1973), de Federico Fellini (DVDRip) (***)
2. O Lobisomem (2010), de Joe Johnston (Multiplex Iguatemi) (*1/2)
3. Comédias e Provérbios: O Raio Verde (1986), de Eric Rohmer (DVDRip) (***1/2)
4. As Aventuras de Robin Hood (1938), de Michael Curtiz e William Keighley (DVDRip) (**1/2)
Curtas:
1. Perto de Qualquer Lugar (2007), de Mariana Bastos (Porta Curtas) (**)

* Coluna 70mm também publicada no www.pimentanamuqueca.com.br.

2 comentários:

João Daniel Oliveira disse...

Benicio Del Toro interpretando um lobisomem numa superprodução da Universal...mesmo isso sendo muito ruim, vai ser muito bom, ok?

Vi o trailer e já fiquei babando, nham,nham

E Um Olhar do Paraíso é um LIXO.

Leandro Afonso Guimarães disse...

UM OLHAR DO PARAÍSO passou por aí, foi?

Em meio a tanto constrangimento, Del Toro, Hopkins e Emily Blunt se transformam num nada.