sábado, 14 de novembro de 2009

Garota Infernal*



O futuro que (ainda) não chega

Garota Infernal (Jennifer’s Body – EUA, 2009) é um filme cuja impressão deixada é a mesma que deu suporte à sua publicidade. Como as três mulheres principais por trás dele (Diablo Cody, Megan Fox e Karyn Kusama – ainda engantinhando em suas respectivas áreas), ele é, ou parece ser, sem nunca ter sido. Tem potencial e bons momentos, mas peca por passar a sensação de se perder justamente por um certo tom demasiadamente imaturo – o que tem a ver menos com o público teen do que com a dúvida de onde se quer chegar.

A começar por Diablo Cody, a ex-stripper que roteiriza apenas seu segundo longa, mas já uma super-estrela-indie para muitos. Trata-se de alguém com algum feeling para gags, mas que, se em alguns momentos se apresenta possessa pela linha positiva de Judd Apatow, às vezes seus diálogos parecem escritos por um menino de 12 anos recém-apresentado à MTV. Sua caligrafia é pessoal, mas ela (ainda?) não consegue conciliar a sua bagagem (das citações musicais ao domínio – ou não – da escrita) com as concessões que faz; desnecessárias, mas disfarçáveis – e, infelizmente límpidas tanto aqui como em Juno. Quando vemos Megan Fox nadar “nua” (embora na prática, é lógico, não vejamos nada) em um lago deveras sombrio, temos o melhor exemplo de cena descartável, mas que (além de ter estado no trailer – outro óbvio ululante) ajuda um bocado a explorar ainda mais o corpo de quem quer que fosse protagonista – se não Megan Fox, alguém que igualmente garantiria parte do público graças ao fenótipo abençoado.

Megan Fox, por sua vez, é um caso de estranheza que, embora diferenciada, parece ter a mesma magnitude de Cody. Com 23 anos, seus únicos trabalhos relevantes para o cinema (em termo de visibilidade) foram com Michael Bay e os seus Transformers. Ou seja, Fox é uma estrela sem nunca ter atuado de verdade – até porque nunca teve, no cinema, um diretor de seres humanos. Aqui, no entanto, além de ter toda sua voluptuosidade novamente explorada, ela tem uma oportunidade maior de mostrar seu poder de atuação, embora não consiga afirmar até que ponto se sustenta pelo simples fato de a câmera gostar dela ou se ela é realmente talentosa. Seja como for, a expectativa para o futuro dela só cresce.

Já Karyn Kusama é outro exemplo curioso. Em 2000 dirigiu seu primeiro longa, o Girlfight (na estreia de Michelle Rodriguez no cinema), com o qual ganhou prêmios e respeito no circuito independente americano – e foi lembrado com o lançamento de Menina de Ouro (2004), de Clint Eastwood, com história semelhante. Dois filmes superestimados, com o adendo de que o segundo tem uma decência trazida por Eastwood, e o primeiro – apesar de interessante pelo seu caráter independente – é o trabalho de apenas uma iniciante com talvez algum tino.

Em Garota Infernal, contudo, Kusama permanece uma iniciante talentosa. A direção é bem cuidada, sem aparentes vícios teen-publicitários – eles já estão no roteiro –, e com a coragem de investir menos no terror do que no gore, trazendo um agradável tom ultrajante para o público de Crepúsculos da vida. No fim, ela oscila – no que talvez não tenha tanta culpa – entre uma cara de pau absurdamente divertida (com “cuspes” e “voos noturnos”) às bobagens do roteiro, igualmente inconstante.

Filme: Garota Infernal (Jennifer’s Body – 2009, EUA)
Direção: Karyn Kusama
Elenco: Megan Fox, Amanda Seyfried, Johnny Simmons
Duração: 102 minutos

8mm
É sim
Rever Bastardos Inglórios, em condições físicas idéias (e em sala com pessoas educadas), foi a melhor experiência cinematográfica do ano, como esperava. Ele é do mesmo nível do que de melhor Tarantino pode fazer – se não for, realmente, sua obra-prima. No fim, é inevitável perguntar: até onde você vai, QT?

Filmes da semana:
1. Domicílio Conjugal (1970), de François Truffaut (***1/2)
2.
2012 (2009), de Roland Emmerich (cabine de imprensa) (*1/2)
3. Deixa Ela Entrar (2008), de Tomas Alfredson (cinema) (****)
4. Garota Infernal (2009), de Karyn Kusama (cinema) (**1/2)
5. Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino (cinema) (****1/2)
6. Véronique et son cancre (1958), de Eric Rohmer (curta) (**1/2)

* Coluna
70mm também publicada no http://www.pimentanamuqueca.com.br/.

4 comentários:

heron disse...

pourra, esse filme ainda não estreou no recife, onde vc assistiu liio?

Leandro Afonso Guimarães disse...

Vi no Cinemark, mas ele tava passando também nos outros grandes daqui, acho - o Multiplex e os dois UCI (Paralela e Aeroclube).

Gore disse...

Grande. Adorei o texto. Mostrou bem a estranheza que esse filme causa, entre bom e ruim... o que ele é? ainda não entendo! me atrai e me repele! rsrs

Rafael Carvalho disse...

Bem, depois de Juno, imaginei que a Diablo Cody ia fazer uma coisa mais interessante e produtiva, não um filme assim. Megan Fox, para ser uma boa atriz, vai ter que ralar muito ainda.