sábado, 21 de novembro de 2009

Bastardos Inglórios (2)*



A glória do cinema

Rever Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds – EUA/ Alemanha, 2009) em condições ideais (de saúde, de público e de exibição) é uma experiência não só difícil de ser descrita, como de ser repetida. Em primeiro lugar, devido ao crescimento da popularidade de Tarantino (o que deve contribuir para a dificuldade de encontrar salas com poucas pessoas em dias em que é possível a ida para o cinema) e, também, porque não sei até que ponto o próprio QT será capaz de fazer outra coisa assim.

É possível que as maiores sequências da carreira dele, lembradas separadamente, já tenham sido filmadas: a combinação de Urge Overkill e Uma Thurman em Pulp Fiction; Santa Esmeralda e a luta na neve em Kill Bill; as duas últimas sequências de Kill Bill Vol. 2... Isso, obviamente, sempre recordando de outras imagens e momentos também indeléveis e não citados aqui. Mas, pelo menos essa é a impressão que fica, isso se dá menos por uma queda de nível do que por uma maturidade que mantenha esse nível sempre no alto – o que acontece aqui.

Num exercício de futurologia, Bastardos parece o filme cuja manutenção da qualidade estratosférica (de domínio da mise-en-scène à combinação de criatividade e sensatez na construção do roteiro e dos diálogos), do início ao fim, acaba por prejudicar um destaque maior para alguns dos momentos excelentes dele – já que tudo aqui me parece excelente, inclusive o que a princípio me incomodou (trilha em cena na sala de projeção e as intervenções de Samuel L. Jackson na narração). Não há em Bastardos, como em Pulp Fiction (só para ficar no que considero o melhor exemplo), oscilações entre momentos de gênio – com até a letra o em caixa alta – e uma certa vontade excessiva de exposição do próprio potencial, que prejudica o ritmo do filme como peça definitiva e independente do restante da obra.

Muito disso talvez venha do fato de cada porção de Bastardos parecer um curta-metragem autônomo, sem que, para isso, os capítulos pareçam enxertados ou uma mera exibição egocêntrica. Aqui, não existem cenas brilhantes, mas sim partes inteiras (de 20 a 30 minutos) que parecem irretocáveis.

Como completamente apaixonado pelo que faz, Tarantino nos dá uma aula sobre a segunda guerra, mas não uma aula de história (pretensão buscada por quase todos que a filmam), e sim de cinema. E, nesse ponto, ele atinge uma ambição, e um deleite, talvez nunca atingidos anteriormente de maneira semelhante. A sua cara-de-pau para isso já foi chamada de fascista a irresponsável, passando por entediante (?!), mas soa, para mim, tão cativante quanto o melhor já feito por ele.

Filme: Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds – EUA/Alemanha, 2009)
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth
Duração: 153 minutos

8mm
Cinema sem Camarão

Na quinta (19) e sexta-feira (20) participei do Cinema sem Camarão, evento promovido pela Facom – a Faculdade de Comunicação da Ufba. Apesar de um ou outro vídeo interessante (e um outro depoimento interessante), o melhor, como era de se esperar, ficou por conta de André Setaro – que, infelizmente, como mediador, pouco abriu a boca. Definitivamente, o cinema precisa de mais Setaros...

Filmes da semana:
1. O Signo do Leão (1958), de Eric Rohmer (***)
2. Almoço em Agosto (2008), de Gianni di Gregorio (cinema) (*1/2)
3. 500 Dias com Ela (2009), de Marc Webb (cinema) (**1/2)
4. As Testemunhas (2007), de André Téchiné (cinema (***1/2)
5. A Onda (2008), de Dennis Gansel (**1/2)
6. Pioneiros em Ingolstadt (1971), de Rainer Werner Fassbinder (***)

* Coluna 70mm também publicada no www.pimentanamuqueca.com.br.

Um comentário:

Rafael Carvalho disse...

De fato, Leandro, o filme é uma belezura de direção e mantém um domínio incrível de todos os recursos em cena. E o que me parece mais renovador é essa característica de sequências quase independentes, mas que fucionam excelentemente bem em conjunto, além de serem sensacionais. E há ainda o destemor de um autor em modificar a Historia em prol de sua hitória. Isso é sublime.