sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Silêncio

Vistos e/ou revistos durante a semana:
* Carrie, a Estranha (1976), de Brian de Palma
* Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), de Marcelo Gomes
* O Desespero de Veronika Voss (1982), de Rainer Werner Fassbinder
* Casablanca (1942), de Michael Curtiz
* Juventude Transviada (1955), de Nicholas Ray
* O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969), de Glauber Rocha
* Sonho de Cassandra (2007), de Woody Allen
* Dois Dias em Paris (2007), de Julie Delpy

Teoricamente não posso dar um piu, literalmente, mas a peste da Julie Delpy fez eu dar uma gargalhada monumental - e igualmente perigosa, mas não me contive. E não só. Apesar de o filme ter muita coisa que incomoda, alguns momentos são uma delícia de leveza (e outros "apenas" muito bons), de porcos e coelhos a cenouras e Rimbaud.

Aliás, coisa legal assistir no mesmo dia a O Dragão... e Dois Dias em Paris e levar em consideração a coisa da identidade em questão - mas isso é apenas uma divagação.

3 comentários:

um báu disse...

Amei 2 dias em Paris! Ora, vamos esquecer o papo de "credo, comédia romântica!" e assumir que essa realmente tem seus méritos. Apesar de achar que a personagem veio direto de Before Sunrise/ Sunset (os perfis são muito parecidos, além de toda aquela história do caminhar por Paris no desenrolar de um relacionamento amoroso), essa leveza com pitadas de ironia e sarcasmo deixam o humor da Julie envolvente e digno de boas risadas. Claro que não é um Woody Allen da vida, e acho que ela também concorda e sabe que ocupa ainda um lugar de aprendiz perto dos grandes, mas acredito que ele tenha influenciado bastante na carreira da atriz/ roteirista/ diretora. O propósito de transformar tragédia em comédia mesmo nas banalidades cotidianas, os diálogos em ritmo acelerado, os assuntos voltados para as neuroses humanas, tudo isso nos leva a procurar o velhinho estranho de óculos (com todo respeito a tio Woody) na tela. Mas ele não está lá e falta muita coisa pra que o filme ganhe sua digital. Ainda assim, Julie improvisa do seu jeito, e mesmo com as dificuldades de iniciante ela consegue construir um filme legal. Muitos preferem detonar a loirinha parisiense acusando-a de ter ousado plagiar Woody Allen. Não penso assim, acho que diretores com o talento e o reconhecimento de Woody Allen são ícones que acabam influenciando (senão criando) novos estilos de linguagens cinematográficas. Woody será sempre Woody, mas o cinema dificilmente será o mesmo depois dele.

=***

Leandro Afonso Guimarães disse...

Pô, pra mim um dos pontos mais legais do filme é justamente assumir uma influência descarada de woody allen, mas ainda assim ter uma cara da autora do filme - artista-cool-multiuso-e-patrimônio-da-humanidade. você vê o cara com as nóias de woody allen, o humor e as conversas intelectualizadas (intercaladas com momentos nem tanto), e sem soarem arrogantes.

[SPOILER!] agora, pelo menos pra mim, se havia alguma dúvida, no final vc passa a ter certeza de que a voz off entra muito mais pra amarrar um roteiro que ficaria solto demais sem ela. o final feliz, e a consequente separação de woody allen (dirigindo no escuro não conta), soa abrupto. ainda em woody allen, não é como uma voz off no final de annie hall, que é um prólogo talvez dispensável mas com certeza coerente com o filme (e definitivamente com o seu autor), que já teve o seu ótimo fim antes.

no fim das contas, pra mim, 2 dias em Paris funciona mais (e muito bem, obrigado) como comédia (pra rir) do que como filme mesmo - dissecando ele todo.

anyway, queria eu que algum compatriota nosso plagiasse woody allen tão bem assim... :)

Leandro Afonso Guimarães disse...

mas, óia... basta ver a (ótima) entrevista dela nos extras do filme que tudo se explica.

ela estava (e ainda está na entrevista) apaixonada, é romântica e fica claro o quanto esse romantismo dela (nada contra) passou pra o filme. mesmo deixando claro que não é um filme autobiográfico, ela também admite que escreveu aquele final bem rápido, nas coxas.

acho que isso fez aquela questão da suposta traição mal contada - e difícil de engolir pra um cara tão paranóico - apenas um pretexto pra gerar um climinha bem pesado que, no fim das contas, servisse apenas pra mostrar (que apesar das brigas, dos ciúmes, blábláblá), que eles são conscientes de que precisam abrir mão disso pra ficarem juntos. e felizes. :)