sábado, 15 de novembro de 2008

007 – Quantum of Solace*



Certo (des)conforto

007 – Quantum of Solace (idem, EUA/ Reino Unido, 2008), de Marc Forster, é o 22º filme da maior franquia do cinema, e surge depois do ótimo 007 – Casino Royale (2006), de Martin Campbell, visto inicialmente com uma desconfiança enorme, mas que terminou elogiado.

O filme novo começa de onde acabou o anterior, o que deixa claro uma tendência de a franquia assumir uma guinada no Bond, que teve o (re)início de sua trajetória (re)contado em Casino Royale. A mudança é acompanhada também pela troca do agente secreto, pela segunda vez interpretado por Daniel Craig.

O ator inglês prometia desde ali um Bond diferenciado, e a continuação criava uma expectativa ainda maior pela repetição do trio de roteiristas do Casino Royale: Paul Haggis, Neal Purvis e Robert Wade. Aqui, os três fazem um enredo mais simples, que dá ao diretor a oportunidade de dirigir inúmeras e intermináveis cenas de ação. O problema é que eles não têm mais Martin Campbell, diretor nada genial mas com experiência não só em filmes do gênero, como também em James Bond – já havia dirigido Golden Eye (1995).

Quem está no comando das câmeras agora é o alemão (que se considera suíço) Marc Forster (Em Busca da Terra do Nunca). 29 anos mais novo do que Campbell, Forster passa a juvenil impressão de tentar bater o recorde de quantidade de cortes nos primeiros 20 minutos do filme – excetuando aí a abertura. Parafraseando Walter Murch (entre outras coisas, editor de O Poderoso Chefão e Apocalypse Now), a edição aqui é hiperativa e funciona como um guia turístico que não pára de apontar as coisas. “Olhe pra a sua direita, agora para a sua esquerda, aliás, olhe para a frente; agora vire de novo, dê um pulo e olhe para trás”. Dá dor de cabeça.

Assim como Bond, a Bond Girl está diferente. Olga Kurylenko (29 anos na sexta-feira – 14) interpreta Camille, que tem no seu melhor a aparência morena-artificial-francesa-mas-na-verdade-ucraniana. Fora isso, uma Bond Girl que não fica, e faz você sentir falta de Eva Green – a Vésper de Casino Royale. Já Bond, um dia super-homem de smoking e um copo de martini, agora está sensível e busca vingança. Na maioria das vezes, parece mais um homem de verdade com façanhas de Bond do que um Bond com poucos momentos de homem de verdade, como sempre foi mais comum.

Caminhando sempre através desse percurso diferente do restante franquia, o filme mantém sua coerência e reforça a idéia do afastamento dos primeiros 007’s e uma aproximação do Bond dos Homo sapiens. Só não sei até que ponto isso é bom para o agente, de quem foi tirado até a clássica “my name is Bond, James Bond”.

No fim das contas, Quantum of Solace transpira investimento demais em humanidade e tensão – talvez desnecessárias nas quantidades apresentadas. Não tem muito a cara de Bond, nem de um filme de ação autoral que sobreviva ao tempo, mesmo com seus momentos. Para um título que pode ser entendido como (difícil tradução) “um mínimo de conforto – numa relação”, não deixa de ser irônico o desconforto que o filme pode causar.

Filme: 007 – Quantum of Solace
Direção: Marc Forster
Elenco: Daniel Craig, Olga Kurylenko, Judi Dench.


8mm
Confortante: Apesar dos problemas, duas cenas me chamaram a atenção. A primeira, talvez a melhor filmada em todo o filme, faz quem tem medo de altura se contorcer na cadeira em uma agonia de poucos minutos que podem parecem durar horas. A outra lembra uma máfia estilizada, com cena que envolve petróleo e remete ao Goldfinger (1964), ainda com Sean Connery.
Como de praxe, a abertura também ganha seus pontos. Tanto visualmente, numa coisa nem tão kitsch quanto pareceu no começo, como pela música: Another Way to Die, composta por Jack White, que também canta – ao lado de Alicia Keys.

Som: Falando em música, é lançado na segunda-feira (17) o livro O som no cinema brasileiro, de Fernando Morais da Costa, no Rio de Janeiro. Não conheço o cara, não sei de ninguém que estará no Rio, mas é sempre bom ver gente escrevendo sobre nosso cinema. A idéia e o fato por si só já são ótimos. Fica a torcida para que o livro, como resultado final, também.

Triste: A Agência Nacional do Cinema (Ancine) promove o “Mês do Filme Nacional”. Entre 17 e 20 de novembro (campanha valeu também entre os dias 10 e 13), os ingressos dos filmes nacionais vão custar R$ 4,00 nos cinemas que aderiram à promoção. A Agência investiu cerca de R$ 2 milhões na campanha, que abrange mais de 300 salas de cinema no país afora. Iniciativa válida, mas não se anime: na Bahia, só Salvador e Vitória da Conquista estão na promoção.

* Coluna 70mm originalmente publicada no jornal semanário O Trombone – Itabuna-BA.

Um comentário:

Ana disse...

opa e ai!! to adicionando seu blog a min ha lista de preferidos gostei muito das informações sobre 007! Valeu bjus