sábado, 18 de outubro de 2008

Casa da Mãe Joana*



Ode à preguiça...

Fui assistir a Casa da Mãe Joana (idem, BRA, 2008), de Hugo Carvana, na expectativa de ver um filme... er... bom. Li coisas boas de gente boa sobre ele, e como sempre vivo em busca de motivos para me tornar otimista, lá fui eu todo serelepe. Apesar de ter sido a sessão mais cheia que fui em um bom tempo aqui em Itabuna, me desculpem, mas não bateu.

A abertura do filme é relevante e tenta justificar os inúmeros defeitos da obra como um todo, já que vemos um castelo de conto de fadas, que busca fazer você acreditar na realidade própria do filme. Tentativa coerente e louvável, mas o que vem a seguir não funciona assim.

A primeira cena, depois de uma apresentação de créditos de gosto bem duvidoso, é feliz ao brincar com a interpretação inicial sobre a lógica daquilo. Você é chamado de burro e dá risada, percebendo o sentido da coisa e ficando feliz com a sacada. Problema é quando, depois de apresentar gente malandra feita de carne e osso, começa um outro filme, que parece um sitcom mal tratado.

Na grande maioria das comédias, o humor deve estar ligado em 220v, mas aqui está quase sempre em 110v, e algumas vezes com lapsos de completa falta de energia. Existem cenas com relativa autoralidade, mas puns, bundas e piadas prontas soam pastelões demais e criativas de menos.

Outro problema é a dificuldade para se lidar com o passar do tempo, que parece ser claramente uma junção de defeito no roteiro e na direção – e que a edição não poderia consertar nem se quisesse. Maior ainda que isso, apesar de talvez menos perceptível, é a construção do ambiente – alô, direção de arte?! Como pode tanta gente preguiçosa, que se mostra como um grupo de quatro amigos tão profundo quanto a bandeija de garçom que no sonho traz o whisky para eles, ter pôsteres de Che Guevara, Truffaut e The Who? Ídolos?

O único jeito de tentar explicar isso é visualizar que os personagens ali na verdade são (ou foram) muito mais do que estão na tela. Mas só se consegue imaginar isso se soubermos que o filme foi concebido graças a uma experiência de Hugo Carvana, que na juventude dividiu um apartamento no Leblon. Isso reforça a impressão de que o filme e os personagens estão em órbitas, talvez até galáxias diferentes – e nunca passam perto enquanto giram, e quando giram.

Ainda assim, é bom vermos o Rio de Janeiro – ou qualquer lugar – enfim urbano, e não mais um cine-favela pronto pra virar exportação. E também um final com uma ironia afiada, que alfineta muita gente e o país como um todo. Só seria melhor se essa mensagem fosse dita sem a voz off, da narração. Do jeito que ficou, foi como explicar uma piada.

Esse final resume pelo bem e pelo mal o filme, que não consegue fazer você entrar no mundo sugerido por ele (pelo menos eu não consegui), num misto de fantasia e preguiça. Essa última, infelizmente, soa presente até no resultado final.

Filme: Casa da Mãe Joana (idem, BRA, 2008)
Direção: Hugo Carvana
Elenco: Hugo Carvana, José Wilker, Paulo Betti e Pedro Cardoso.


8mm
Genérica: Quem ver Tainacã (!) no filme pode acreditar que ela é interpretada por Deborah Secco – eu saí da sessão achando que ela era. Mas, não era ela, e sim Fernanda de Freitas. Ela já trabalhou em Zuzu Angel (ainda não vi), Cidade Baixa e Tropa de Elite – não lembro dela em nenhum dos dois. Alguém se ligou?

Todo mundo nu: Sobre o manifesto anti-nudez de Pedro Cardoso. Existem roteiristas, diretores e atores, e roteiristas, diretores e atores – todos eles ligados aos filmes. Mas, antes do filme, todos os atores lêem roteiros e conversam (ou deveriam) com diretores. Só fazem o que querem, com quem querem e na frente de quem quiserem.

Felizmente, graças a coisas como Cidade Baixa (do baiano Sergio Machado, 2005), O Céu de Suely (do cearense Karim Aïnouz, 2006) e agora a mini-série da HBO Alice (só pra citar o que me lembro agora), temos cenas de nudez e sexo justificáveis (pelo contexto) e excepcionalmente bem filmadas. Nisso somos fo*a! Literalmente.

Humor (quase) negro: Uma das cenas do filme que tenta ser engraçada reúne Paulo Betti e uma “companheira”. O que mais ficou pra mim da cena é a lembrança de como morreu Michael Hutchence, vocalista do INXS. É quase uma piada de humor negro – só que sem graça.

Casa da Mãe Joana (em Itabuna): Tentei assistir ao “Bezerra de Menezes” na quinta-feira (16), mas não dá dizer que consegui. Imediatamente atrás de mim, uma mãe muito bondosa levou também sua filhinha de seus quatro, cinco anos, sei lá – que falou a sessão inteira. O filme é censura livre, ok, mas cadê o mínimo de bom senso? Será que ela não conhece ninguém que possa ficar com a filha durante duas horas? Prejudicada pelos chiliques naturais da pestinha, toda a sala agradeceria.

* Coluna 70mm originalmente publicada no jornal semanário O Trombone – Itabuna-BA.

Imagens disponíveis em http://www.casadamaejoanaofilme.com.br/

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi!

Bom, primeiro devo dizer que minha intuição estava MUITO certa quanto a este filme. Tenho sentido mais vontade de assistir "A guerra dos Rocha", que parece melhor elaborado.

Podem me bater, mas não gosto nada de Hugo Carvana...enfim.

Mais duas coisas:

Senti uma estocada no peito com a coisa do "humor negro", politicamente incorreto...numa coluna tão legal, vale tormar cuidado com isso.

Quanto à simpática menina do filme Bezerra de Menezes (com "s" ou "z"? enfim) era um espírito desencaminhado. Coitada!

Beijos como sempre!