domingo, 12 de outubro de 2008

Hellboy



Capetinha boa praça

Bem, após essa breve introdução de Domingos*, acho válido dizer que esse texto que vocês lêem agora nasceu prematuro. O papo foi quarta à noite e tive de fazer tudo até a meia-noite de quinta, quando acabei de escrever o que acho sobre Hellboy 2 – O Exército Dourado (Hellboy 2 – The Golden Army, EUA/Alemanha, 2008)¹, do mexicano Guillermo del Toro.

O filme começa com uma explicação em texto, assim como o primeiro (de 2004), e um breve retorno à infância do nosso protagonista. Um início (talvez desnecessário) pensado para quem não viu o nascer e as primeiras peripécias do garoto do inferno – afinal de contas, os produtores não querem imaginar uma alma sequer que deixe de ver a continuação porque não viu o primeiro.

Concessões geralmente não são legais, mas mesmo com elas, Hellboy transborda o tato de quem o dirige, e isso é sempre bom (e difícil) em continuações com orçamento generoso – aproximadamente US$ 72 milhões de dólares. Del Toro, um meninão crescido, competente e apaixonado pelo horror-fantástico, delicia os fãs do gênero com monstros-personagens que exalam uma bizarrice autoral muito bem vinda.

A ligação com as criaturas de O Labirinto do Fauno (2006), o filme anterior de Del Toro, são imediatas e inevitáveis, e esse talvez seja o maior problema dessa continuação. Da idéia de fábula ao visual e concepção dos monstros, a semelhança é menor com Hellboy do que com o último filme do mexicano. O mais diferenciado aqui é o vilão, o príncipe Nuada, que parece um vocalista (mais) estilizado de banda norueguesa de black metal.

Uma coisa, porém, está presente nos filmes de Del Toro e aqui incomoda um pouco: a tentativa de suavizar/camuflar alguns cortes. A mais justificável (e difícil) das idéias de se fazer isso foi em Festim Diabólico (1948), de Hitchcock. O problema é que (além de um não ser o outro), mais até do que nos outros filmes, a coisa parece satisfazer mais uma mania do que uma função narrativa.

Por outro lado, num diferencial especialmente do filme de 2006, o que temos aqui é uma adaptação de história em quadrinhos para encher multiplexes, graças especialmente às (bem filmadas) muitas e longas seqüências de ação, que não deixam ninguém dizer que o filme é chato – e que também fazem você imaginar que escrever o roteiro não foi das tarefas mais árduas.

Vale dizer também que nosso herói (Ron Perlman, devidamente irreconhecível) está bem, próximo do limite ideal entre o humano e o obviamente fantasioso. O humor também está ok e aqui até Selma Blair (que interpreta Liz Sherman, paixão do Hellboy) está mais... er... carismática.

O filme tem lá suas afetações e concessões, mas funciona. Graças principalmente a Del Toro por trás das câmeras, é um passatempo acima da média, inclusive nos problemas, mas que passa pelo toque pessoal.

8mm
Parabéns – Falando em Guillermo Del Toro, o diretor mexicano fez aniversário na quinta-feira, 9 de outubro (quando John Lennon completaria 68 anos). Latino, 44 anos, sete filmes (longas) e uma indicação ao Oscar – de melhor roteiro por O Labirinto do Fauno em 2007. Nada mal.

Três – Espero impaciente por três filmes – com possibilidade, creio eu, de passarem aqui em Itabuna. O primeiro é Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, dupla de Central do Brasil que ainda não pisou na bola e parecem ter feito o melhor filme da parceria até agora. O segundo é Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles, que me atrai mais pra saber como um brazuca se sai dirigindo tanta gente boa junta, e baseado num livro quase sacro. E o terceiro é Velha Juventude (estreou por agora no Festival do Rio), de Francis Ford Coppola (trilogia de O Poderoso Chefão, Apocalypse Now), que ficou dez anos sem oficialmente dirigir nada. Outra obra-prima?

Eternidade – Cadê o novo do Quentin Tarantino, Europa Filmes?! Mais de um ano depois da estréia do filme em Cannes, nada de previsão oficial e defintiva para o Brasil até agora. A demora pra a chegada de À Prova de Morte (Death Proof) já virou uma eterna prova de paciência.

* Texto de estréia da coluna 70mm, publicada no semanário O Trombone – Itabuna-BA.

¹ Visto no cinema – 7 de outubro de 2008.

2 comentários:

Rafael Almeida Teixeira disse...

Aqui em Itabuna têm pessoas como você, poucas mas tem.

Parabéns pelo blog.

PS.: Não é a primeira vez que venho aqui.

Anônimo disse...

Bom texto. Sinceramente me parece melhor do que o filme (ou não?)Quanto a "Linha de Passe" e "Ensaio sobre a cegueira" já assisti aos dois em Salvador, o primeiro com e elenco e o próprio Walter. A minha sensação é que é mais um filme sobre a periferia. A recepção moderada que o filme teve em Cannes foi justa, enfim, aguardo vc assistir para comentar.

"Ensaio sobre a cegueira" vale mais pelo grande desafio que é adaptar Saramago. O filme e aflituoso.

Vou, de novo, esperar pela tua fala sobre os filmes.

Parabéns pela ótima coluna!
Beijão