sábado, 14 de janeiro de 2012

A dúvida e o prazer*

Em boa parte de As Canções, a sensação é de que Eduardo Coutinho é quem melhor se repete no Brasil, já que ele volta a fazer tudo que lhe rendeu merecidos elogios em quase tudo, basicamente nos anos 2000. Mas o fim deixa impressão duvidosa.

Não defendo que um filme e um autor precisem sempre “inovar” para serem grandes, sendo Clint Eastwood e Roman Polanski, para ficar em diretores com pegada clássica e ainda na ativa, apenas dois dos melhores exemplos do grupo dos excepcionais sem invencionices. Mas Coutinho, talvez por focar tanto o conteúdo e a sensibilidade que ele não só tem de sobra, como também consegue extrair de seus entrevistados, passe um sinal de esgotamento.

Por outro lado, como falar em esgotamento, quando a suposta repetição ainda faz cada personagem soar único e memorável, quando a suposta repetição, que subjuga outra vez a forma à emoção, ainda comove?

Não tenho dúvida de que é um caso curioso, ainda mais quando muito do repertório é de músicas que não fazem parte do imaginário coletivo do brasileiro médio, aquele que não tem porque não ser cativado pelo que acontece em outros filmes de Coutinho, quando as referências culturais pouco importam.

Agora, contudo, Coutinho larga a mão de um massa amorfa que é “o público” para abraçar cada um de seus depoentes. Ele atinge o ápice do amor por seus “anônimos”. Talvez aí resida a impressão de esgotamento, talvez aí resida o segredo do deleite que ele ainda consegue dar.

* Texto originalmente publicado no Pixelando Online.

Um comentário:

ANTONIO NAHUD disse...

Ainda não vi, mas não há dúvida de que Coutinho é um dos nossos maiores cineastas.

O Falcão Maltês