terça-feira, 15 de julho de 2008

Wall-E



Não só o filho dos pais

A dignidade voltou. Pelo menos no que diz respeito ao fato de um filme bom ser citado aqui. E em dose dupla. O texto que vou abortar aqui (pressa pra terminar de editar o vídeo ali) é escrito depois de duas sessões de Wall-E (idem, EUA, 2008). E no cinema!

A sinopse é a seguinte: lá pelos idos de 2700, já com a certeza de nenhum de nós por aqui, um simpático robozinho vagueia solitário por um planeta Terra decrepto. Esse robozinho boa praça, cuja única companhia é uma baratinha não menos legal, chama-se Wall-E – “Waste Allocation Load Lifter - class Earth”, ou “empilhadeira de carga para distribuição de lixo - classe Terra”.

A idéia de um ser não humano em nosso planeta já foi explorada por nada menos que E.T (1982), de Spielberg, um daqueles filmes que até os que odeiam cinema provavelmente já viram. E o maior exemplo de ficção científica futurística-espacial remete a 1968, com Kubrick, autor daquilo que dizem ser um filme, mas que eu mesmo não sei o que é: 2001 - Uma Odisséia no Espaço. 2001, aliás, que 40 anos depois vê um filho seu com E.T. ter características descaradamente sugadas dos pais, mas ainda assim com vida própria.

Não só a idéia de um ser solitário na terra se parece com o filme de Spielberg, como também a forma como este ser vai se humanizando, se relacionando e conquistando a empatia da gente. De 2001, temos Hall na versão 2008 (ou 2700, que seja), desde o visual à idéia de construção e desenvolvimento do computador como personagem (!). E temos ainda a trilha – que eu me lembre, são duas músicas do filme de Godstan.

Curioso também que Wall-E, no fim das contas, não é um filme infantil, mesmo que tenha nas crianças boa fatia do público. Crianças, aliás, que não devem agüentar o imenso (e lindo) período sem diálogos, assim como muita coisa que definitivamente não vejo entrando na cabeça de gente que ainda está no primário. Posso estar subestimando as crianças, ou estar me achando uma mistura de Godard com Einstein, mas pra mim Wall-E consegue ser muita coisa ao mesmo tempo – e pouca coisa infantil.

É, até porque precisa ser, um filme com um toque de humor inocente, infantil. É também uma visão pessimista, conformista, alienada das coisas e do futuro (já presente), ao mesmo tempo que consegue ser uma poesia visual onírica, que mescla referências explícitas com imagens pessoais. Para completar, é ainda uma história de amor entre robôs. E de heróis – porque o filme é norte-americano do início ao fim, passando pela auto-crítica (?).

Wall-E é podre de fofinho e carregado com muito de reciclagem, de homenagem e de "pré-conceitos". Mas ainda assim, é um filme que funciona por si próprio. E muito bem.

Visto no dia 27 de junho e revisto em 13 de julho – nas duas vezes no cinema

Ps: Obrigado, Pixar. Como se não bastasse manter o nível das animações lá no espaço (aqui literalmente), o tradicional curta de antes do filme é sensacional.

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