Um filme muito decupado até para os padrões de hoje, o que tende a ser um paradoxo quando pensamos no foco (as atuações), na época (década de 1960) e na duração (130 minutos). Em outras palavras, rever Faces (1968), obra-prima de John Cassavetes, dá a certeza de estar diante de um filme referência, talvez a maior delas, quando o assunto é a total entrega a personagens, e as consequências por vezes extremas disso.
Pode-se divagar que
boa parte dos filmes dele é resultado da cumplicidade com a equipe e
principalmente com os atores, basicamente o mesmo grupo de amigos, com sua visão
crítica e pouco feliz da vida. Só que em Faces ele atinge um ápice na mistura do experimentalismo que ele começou em Sombras (1959) com o foco nas reações aos pontapés que a vida dá em cada um dos
personagens.
Tecnocratas do século XXI têm alguns motivos pra não gostar do filme. Se for o caso, Cassavetes
deixa de lado o som (às vezes bruscamente cortado), a continuidade da imagem
(são inúmeros os “erros”), a câmera (em um momento, vemos o cinegrafista), a
fotografia (às vezes sem foco), tudo pela captação de rostos e expressões raramente
tão explorados.
Às vezes eles duram
um ou dois segundos, às vezes duram um minuto, às vezes são estáticos, às vezes
são potencializados por zoom-ins, mas
os close-ups, especialmente de Gena Rowlands (Jeannie) e Lynn Carlin (Maria), figuram
fácil entre os maiores do cinema.
As duas sofrem mais
que os homens, e as reações delas diante de decepções já valeriam os 130 minutos do filme. Mas
temos aí atuações periféricas monumentais que, com o tipo de direção que
Cassavetes imprime, têm suas almas escarafunchadas. Resultado não é fácil de se obter, é mais difícil ainda de se manter, e consegue ser extremo e carinhoso ao mesmo tempo.
* Texto também publicado em http://cinematotal.com/la.
* Texto também publicado em http://cinematotal.com/la.
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