

Ele não diz “isto é cinema” ou “isto é teatro filmado”, mas nos faz crer que “isto é ficção”, graças à maneira como lida com o meio onde “estreia”.
Todavia, em alguns momentos (e creio que em especial um longo plano-sequência em que a maior parte da equipe interage com “Cachorrinha”, interpretada por Vitória Frate) ele recorre ao naturalismo de todo o muito bom elenco, de onde volta ao “isso é ficção” de maneira brusca. Ainda que o filme seja baseado em musical dele nos anos 80, em meio ao bombardeio de músicas e mudança de tom, essas quebras e estilizações deixam o todo tão pessoal quanto poluído.
Apesar dos poréns (e vamos incluir aí também o constrangedor auê que se faz ao diretor sugerir interpretar papel diante de ator gay – o que talvez seja um reflexo de uma sociedade atual mais preconceituosa e pudica que no grupo e na época em que o filme se passa), é inegável o tom honesto que transborda da tela.
Como diz Andrea Ormond aqui “amar o teatro, reagir como Léo (Emílio Dantas) e escrever uma peça depois de censurado, ou virar hippie de boutique com todo o conforto, são tentações maravilhosas”. O adendo é que Montenegro, além de um filme irregular e de ideais de fácil identificação utópica, consegue nos deixar claro que o filme é uma experiência única, bem pessoal.
Nos últimos anos, quantos filmes nacionais, de apelo relativamente popular, passam essa sensação?