Já está no ar há algumas semanas, mas só agora lembrei de divulgar, uma coluna minha no "Pixelando Online".
Em texto de estreia, defendo (para muitos, indefensável) A Casa.
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Adolfo Gomes, que ministrou a Oficina de Cinema Corsário, em um momento disse que inúmeros filmes atuais são áudio-descritivos, você pode fechar os olhos e não perder nada. Lógico que existem estilos, diretores com diferentes prioridades, mas este me parece o ápice da descrença no que é projetado e, consequentemente, o ápice do fracasso de um cineasta. Uma triste de verdade que vale para muitos, mas não para Premonição, curta baiano que vai para o Festival de Brasília dirigido por Pedro Abib (não o conheço), e que, no fim da sessão, me fez soltar um “vida longa a esse rapaz”.
Estrear na ficção com um filme de que flerta com Hitchcock e Sergio Leone é tão sedutor quanto pretensioso, mas ele dosou bem tesão (por filmar) e esmero (para enquadrar, decupar), essenciais para conversa minimamente digna com dois dos maiores mestres no domínio do meio. Quem morreu, quem vai matar, que horas, por que... tudo é resolvido – e relativizado – via cortes, via dilatação e contração do tempo, via imagens. É um filme “feito na montagem”, ela quem mais contribui para manutenção de suspense, mas isso só é possível em filmagem pensada, calculada. Como foi o segundo caso, só que de maneira oposta.
Se Premonição foi “feito na montagem”, o uruguaio A Casa (La Casa Muda – Uruguai, 2010), de Gustavo Hernández, outro exemplar de gênero, foi “feito nos ensaios”.
Simulado em plano-sequência, foi a Cannes na leva dos “inexplicáveis”, já que pareço uma das poucas pessoas a ter gostado do filme. Que tem alguns problemas óbvios e já citados por meio mundo, mas prós bem menos comentados. (Se não quer possíveis detalhes do filme, pare aqui).
A Casa não é só mais um (entre tantos) filme de sustos, ou só mais um (entre um pouco menos) a acreditar piamente em uma ideia, que se torna um conceito apaixonado por si mesmo – aqui, o plano-sequência.
Mais do que em seus pais, A Bruxa de Blair (1999) e Atividade Paranormal (2007), cujas primeiras versões me até me agradam, vemos. Vemos os frames da Polaroid, vemos a criança como um ponto branco que vem “do nada” e logo some, vemos as fotos na parede, a boneca, a “reviravolta”. Vemos que “nos enganamos”, ou pelo menos que há outro algo errado. Vemos a esquizofrenia, vemos a ilusão. Às vezes com um simples ir e vir de câmera, que na verdade é muito mais que isso, vemos duas versões, que fazer repensar inclusive outro possível “porquê” para plano-sequência. Vemos.
Ps: Pode ser que falta do gênero tenha me afetado? Lá se vão cinco meses de última experiência decente com Lucky Mckee e seu May (2002). No cinema, coisa bacana mais recente foi A Sétima Alma (2010), de Wes Craven (A Hora do Pesadelo), no fim do ano passado e que muitos consideram outra bobagem. Quem sabe em revisão eu diminua A Casa ao embuste que maioria achou."